Quase sempre no Seminário, mas para lá do tempo de Seminário, realiza-se todos os anos a Formação Permanente do Clero de Lamego. Assim aconteceu mais uma vez. Foi nos dias 6 e 7 de fevereiro, sob a orientação do Padre Ignacio Gonzales Lhopis, sacerdote da Arquidiocese de Valência (Espanha), com o tema de fundo: A conversão espiritual: o poder que ignoramos, o espírito que nos guia.
Num ambiente descontraído, para um grupo de quase 4 dezenas de sacerdotes da nossa diocese, viveram-se dois dias de aprofundamento espiritual e pastoral, de encontro, de convívio, de partilha e, sobretudo, de fraternidade sacerdotal.
O primeiro dia iniciou com a penosa notícia da morte do Padre João André, formador, reitor e professor do Seminário Maior durante aproximadamente 4 décadas. O sufrágio pela sua alma começou na hora de intermédia, rezada por todos os presentes na Formação. De seguida, o nosso Bispo congratulou-se com o Departamento para a Vida e Ministério dos Presbíteros, por mais esta iniciativa de aprofundamento teológico-pastoral para os seus sacerdotes. Felicitou a presença dos que ali se encontravam e agradeceu profundamente a disponibilidade do Padre Ignacio, pelo esforço de vir do outro lado da península ibérica para orientar os trabalhos.
Depois de uma breve apresentação curricular do orador, feita pelo Cónego José Manuel Melo, foi dada a palavra ao Padre Ignacio, que saudou os presentes e pediu o favor de poder falar em castelhano, por sinal, bastante percetível.
O primeiro dia decorreu numa lógica mais teórica. O formador deixou, inicialmente, um conjunto de pistas que permitiram perceber a distinção entre o específico da teologia oriental e o caraterístico da teologia ocidental, dando a entender que os nossos irmãos orientais têm a dimensão pneumatológica mais arreigada do que nós. Em seu entender, também nós precisamos desenvolver mais abertura á ação do Espírito na nossa vida e missão da Igreja, no que somos e no que fazemos. A consciência de que o Espírito atua no mundo é sinal de que a Igreja cumpre a sua missão. É esta presença do Espírito, a potenciar as relações humanas, que trará maiores “êxitos” pastorais. Por isso, o formador fez questão de desenvolver cirurgicamente o tema da conversação espiritual.
O Padre Ignacio Gonzales apresentou três tipos de conversação espiritual: 1) Aquela que procura falar familiarmente das coisas de Deus; 2) Aquela que podemos chamar de apostólica, como canal que conduz a Deus; 3) Aquela que se produz numa deliberação comum, onde se buscam orientações em conjunto para assumir uma direção de grupo. É exatamente daqui que sai o mote para os trabalhos do dia seguinte.
O segundo dia, dia 7, foi essencialmente para levar à prática aquilo que se aprendeu no dia anterior. Depois da oração de hora intermédia, deu-se início aos trabalhos de grupo. Constituídos por uma dezena de padres, cada um dos três grupos debruçou-se sobre uma realidade distinta: o primeiro grupo sobre a sociedade atual e os seus desafios à nossa missão; o segundo grupo sobre o arciprestado e a forma como cada um o sente e o vive; o terceiro grupo sobre a atividade pastoral quotidiana. Em salas separadas, para criar um ambiente mais propício à reflexão e à partilha, os trabalhos começaram com 30 minutos dados para a reflexão pessoal sobre o tema específico do seu grupo. Depois dessa meia hora, foi tempo de partilha. A dinâmica da partilha obedeceu a três rondas diferentes: a primeira feita por cada um, a partir do seu estado interior e do resultado da sua reflexão/oração pessoal, sem quaisquer discussões ou interações dos outros participantes. Na segunda, depois alguns minutos de silêncio, os participantes expuseram a forma como se sentiram e/ou como foram afetados durante a partilha dos demais. A terceira ronda consistiu em observar o que se sentiu na segunda partilha e no que ia emergindo de comum dentro do grupo, onde se pode depreender a intervenção do Espírito.
Depois da pausa para o almoço, o início da tarde serviu para avaliar os trabalhos de grupo da manhã e recolher os ecos daquilo que foram os dois dias da formação permanente do clero.
O Cónego João Carlos, responsável por mais esta iniciativa, encerrou os trabalhos, agradecendo aos sacerdotes e congratulou-se, em nome de todos, com o Padre Ignacio Gonzales pelo precioso contributo destes dois dias.
Pe. Diamantino Alvaíde, in Voz de Lamego, ano 94/14, n.º 4742, de 14 de fevereiro de 2024.