Penajóia voltou a engalanar-se para celebrar e honrar mais uma vez o seu padroeiro, o Santíssimo Salvador.
Como é costume, as festividades começaram com o içar de bandeiras e continuaram com a pregação e eucaristia nos três dias que antecedem o dia do Padroeiro, sábado, domingo e segunda dia 5 de agosto.
Na tarde de segunda-feira, por volta das dezasseis horas teve início a Visita Pastoral de Sua Exª Reverendíssima D. António Couto, Bispo da nossa diocese, que aceitou a proposta do nosso pároco de concretizar a visita pastoral em dois momentos, a vivência da festa do padroeiro e em Outubro a administração do sacramento da Confirmação.
O Senhor Bispo foi recebido na Igreja de Santíssimo Salvador onde lhe foi dirigida uma saudação de boas-vindas. Logo de seguida e num ambiente familiar e informal houve uma conversa e troca de ideias sobre diversos assuntos de acordo com as perguntas que lhe foram colocadas. Foi um momento muito enriquecedor de que os presentes gostaram imenso pela forma simples e afável com que o Sr. D. António conversava com todos. Seguiu-se como é habitual na véspera do dia do padroeiro, a Exposição e Adoração do Santíssimo, enquanto o Sr. Bispo, o nosso pároco e o Sr. padre José Alfredo atendiam aqueles se quiseram abeirar do sacramento da penitência.
A Eucaristia foi presidida pelo Pastor da Diocese que na homilia nos explicou de forma clara e acessível os textos que foram lidos. Jeremias que ao tempo do desterro da Babilónia, trazia um jugo de madeira, símbolo do domínio desse povo sobre Israel, foi quebrado por Ananias, mas Jeremias substituí-o por um de ferro, para reforçar que o povo de Israel continuaria a ser dominado. O profeta levanta a voz em nome de Deus para chamar à atenção de que o comportamento do seu povo não agrada a Deus. Ele diz a verdade que não agrada e por isso é abandonado e desprezado pela própria família e vai morrer nas areias do Egito, mas nunca foi esquecido. Jeremias foi profeta da desgraça, viveu no meio da desgraça, anunciou a desgraça, mas levou o povo a mudar o seu coração. Alguns séculos depois, quando Jesus pergunta aos seus discípulos “quem dizem os homens que eu sou?”, ele foi um daqueles a quem Jesus foi comparado. À frente do altar estavam os frutos da terra para serem abençoados, mas esses são os que vêm da terra, começou por dizer. No evangelho de S. João capítulo sexto que andamos a ler aos domingos é-nos apresentado o pão que vem do céu, e o maior dom que nos vem do céu é a Eucaristia que devemos amar como nenhum outro. Continuou desejando que a nossa terra continue sempre fértil e a produzir tão belos frutos não esquecendo os que vêm do céu que caem no nosso coração, que o iluminam, que o transformam e que o fazem mudar. E se cada coração mudar ainda que seja um bocadinho, e se este bocadinho fizer mudar um bocadinho o coração do outro, e nós mudarmos todos o nosso coração como queria Jeremias e quer o nosso Deus, seguramente que o mundo mudará também um pouco mais.
E terminou dizendo «É esse o desafio grande que temos pela frente, nestas festas em honra do Santíssimo Salvador, mas que são também as festas dos seus filhos, nós, irmãos uns dos outros, que devemos sublinhar, Amém».
No dia seis, grande dia da Festa, a Banda musical de Sever do Vouga deu entrada no recinto da Igreja executando peças alegres que juntaram à sua volta os que ali já se encontravam. Pouco a pouco, o templo foi-se enchendo para celebrar e honrar o Santíssimo Salvador, enquanto os sinos não se cansavam de repicar festivamente e anunciar que Penajóia estava em festa.
A Eucaristia foi de novo presidida pelo Senhor D. António que para além do nosso pároco, contou com a presença amiga dos senhores padres Espiritanos, Tony Neves e José Carlos bem como do senhor padre José Alfredo, que acompanhava o Senhor Bispo.
Na homilia, depois de saudar todos sem exceção, o senhor bispo começou por recordar que estávamos a celebrar a festa da Transfiguração do Senhor, que teve origem nas igrejas orientais, e aos poucos foi entrando na liturgia do ocidente. Só por volta do século XV se tornou uma festa comum a todas as igrejas, quer do Oriente, quer do Ocidente. Para as igrejas orientais é como que a Páscoa do verão e têm razão porque não se podem dissociar uma da outra. Aliás Jesus recomendou aos três discípulos que aquela visão não era para revelar antes que o Filho do Homem ressuscitasse dos mortos. E se desde a Páscoa não manifestamos o nosso olhar bem em Deus, temos agora oportunidade de o fazer e vamos continuar a ter para não perdermos o que é essencial. Facilmente somos atraídos pelo acessório, por aquilo que brilha, pelas luzes, pelas iluminações, quando só Ele é a luz do mundo. E na Transfiguração Deus intervém dizendo, “Este é o meu filho muito amado, escutai-o”. Daí que tenhamos que reconhecer a nossa identidade de irmãos uns dos outros e de Deus. É uma cultura nova que nos deve levar a ouvir mais vezes a palavra de Deus e com mais intensidade e com mais amor. Recordando o texto de Daniel, 7 em que o profeta vê na noite, sair do mar, na Bíblia, símbolo do mal, quatro bestas, um leão com asas, um urso, um leopardo que tem asas e quatro cabeças e depois vê sair um monstro com dentes de ferro e com patas de ferro, que vai caminhando e reduzindo tudo a pó. Essas bestas andam por aí e também dentro de nós, são a nossa brutalidade, a nossa animalidade que destroem e arrasam o mundo com as armas, face ao poder manso do filho do homem, o Santíssimo Salvador porque salva, não pela brutalidade, mas pela mansidão, pela ternura pelo amor. Que o Santíssimo Salvador seja o padroeiro que delimite, que oriente a vossa vida de ternura e mansidão. E não nos deixemos tentar por ficar parados como os apóstolos que já não queriam voltar, quando sabemos que o caminho de Cristo vai até à cruz. Sigamos em frente pois o amor é a única forma de mudar o mundo.
Esta foi uma Festa singela, mas linda e por isso todas as palavras que aqui pudesse escrever seriam sempre poucas para agradecer a todos os que colaboraram. Um agradecimento especial ao senhor Bispo pela disponibilidade e alegria com viveu connosco estes momentos. Para nós foi uma honra. Muito obrigado. À comissão de festas, ao nosso pároco e a todos os que colaboraram para que as festas e a visita pastoral tivessem o brilho que tiveram, os nossos agradecimentos e que o Santíssimo Salvador a todos recompense e abençoe.
Aurélio Felisberto, in Voz de Lamego, ano 94/38, n.º 4766, de 21 de agosto de 2024.