Os percursos e os lugares sinodais

Decorridas que estão três semanas de sínodo, vão-se percorrendo e refletindo os enunciados do chamado Intrumentum laboris. Esta, que foi a terceira semana da segunda sessão do Sínodo sobre a Sinodalidade, trouxe a debate a parte dois e a parte três deste documento, cujos títulos são: “os percursos” e “os lugares”, respetivamente.

No início da semana a reflexão foi sobre os ‘percursos’ cujo tema central é o discernimento. Numa Igreja que, por ser e para ser sinodal, se quer em permanente dinâmica relacional - interna e externamente - é imperioso um ininterrupto processo de discernimento que “envolve todos, tanto os que participam a nível pessoal como comunitário, exigindo cultivar disposições de liberdade interior, abertura à novidade e abandono confiante à vontade de Deus, e permanecer à escuta uns dos outros” (IL59). A forma de discernir, em Igreja, não é uma técnica organizativa ou o resultado de uma equação matemática. É, sim, um procedimento de interpretação e (re)leitura da realidade, feita à luz da Palavra de Deus, uma vez que “as Sagradas Escrituras constituem o testemunho por excelência da comunicação de Deus à humanidade. Elas atestam que Deus falou ao seu Povo e continua a fazê-lo, e apresentam diversos canais mediante os quais esta comunicação se processa” (IL 61). É, portanto, o Espírito Santo que preside a todo e qualquer processo de discernimento eclesial, tal como no início da Igreja nascente. “É neste espírito que a prática da vida sinodal missionária da Igreja em lugares, organismos e eventos concretos deve ser reinterpretada e reorientada” (IL 62).

Além disso, é prioritário nunca descurar que a tarefa de discernir exige ter “os pés na terra”. Não é um procedimento que se possa ter de forma abstrata ou desencarnada do tempo e do espaço em que nos encontramos, num preciso momento. A realidade temporal e espacial é sempre o ponto de partida e a meta de chegada.

Importa, ainda, ter em consideração a imprescindível colaboração e a harmoniosa relação que precisam de ter as diferentes estruturas e organismos eclesiais, desde os conselhos económicos aos conselhos pastorais. Só assim é possível a tão desejada transparência, que desmonta o sincretismo de que a Igreja é continuamente acusada, e de que tanta gente se serve para justificar o seu afastamento ou abandono da prática religiosa.

A meio da semana o debate passa a ser sobre os “Lugares”. O facto de estarmos habituados a pensar a Igreja em modo territorial (paróquia, diocese, província eclesiástica, etc), pode comprometer a sua missão universal e obscurecer um dos seus atributos basilares, que é a catolicidade. Como diz o Instrumentum laboris, “restringir a ação da Igreja a limites puramente espaciais iria aprisioná-la num imobilismo fatal e numa preocupante repetibilidade pastoral, incapaz de atingir a parte mais dinâmica da população, em particular os jovens”.

No entanto, é também a territorialidade, própria da Igreja, que torna visível a diversidade de experiências e manifestações humano-divinas, que nos mostram claramente que o tempo e o mundo são realidades salvíficas para a humanidade. “A variedade das tradições litúrgicas, teológicas, espirituais e disciplinares constitui a demonstração mais evidente do enriquecimento e beleza que esta pluralidade confere à Igreja. É a comunhão das Igrejas, cada uma com a sua realidade local, a manifestar a comunhão dos Fiéis na Igreja única e una, evitando a sua dispersão num universalismo abstrato e homogeneizante. A experiência do pluralismo das culturas e da fecundidade do encontro e do diálogo entre elas, é condição de vida da Igreja e não uma ameaça à sua catolicidade” (IL 80 e 81).

Entrados na última semana de sínodo, agudiza-se a expectativa de um final feliz.

 

Pe. Diamantino Alvaíde, in Voz de Lamego, ano 94/47, n.º 4775, de 23 de outubro de 2024

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