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Homilia de D. António Couto a iniciar o ano de 2025

SANTA MARIA, MÃE DE DEUS, RAINHA DA PAZ

1. O calendário litúrgico assinala hoje o oitavo dia do Natal do Senhor. E a Lei de Deus mandava que nesse oitavo dia se celebrasse a festa da circuncisão, que incorporava o recém-nascido no povo da Aliança, acompanhada da festa da dádiva do Nome, neste caso, Jesus, como o anjo tinha predito aquando da Anunciação (Lucas 1,31). O calendário civil assinala Hoje o primeiro Dia do Ano de 2025, sendo o primeiro Dia do Ano tradicionalmente designado como «Dia de Ano Bom», pois todos desejamos que o ano inteiro seja «bom», isto é, visto e guiado pelo olhar bom de Deus, que vê sempre bom, belo e bem, como se lê por sete vezes em Génesis 1: «E Deus viu que era bom!» (Gn 1,4.10.12.18.21.25.31). Neste Dia celebramos sempre a Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, a que anda associado também, desde 1968, o Dia Mundial da Paz, que tem Hoje a sua 58.ª edição.

2. A figura que enche este Dia, e que motiva a nossa Alegria, é, portanto, a figura de Maria, na sua fisionomia mais alta, a de Mãe de Deus, como foi solenemente proclamada no Concílio de Éfeso, no ano 431, mas já assim luminosamente desenhada nas páginas do Novo Testamento, por exemplo, nos lábios de Isabel, quando responde à saudação de Maria com aquele grito grande: «De onde me é dado que venha ter comigo a “Mãe do meu Senhor?”» (Lucas 1,43), que ainda hoje ecoa nos nossos lábios no início de cada «Santa Maria, Mãe de Deus…», como aprendemos, em pequeninos, no seio das nossas famílias.

3. É fácil verificar que a liturgia deste Dia apresenta três marcadores importantes: 1) a figura de Maria na sua fisionomia mais alta, a de Mãe de Deus; 2) o facto de estarmos a viver o primeiro Dia do Ano; 3) e ainda o facto deste Dia, o primeiro do Ano, estar assinalado também, desde 1968, por iniciativa do Papa S. Paulo VI, como Dia Mundial da Paz.

4. E é precisamente por ser o primeiro Dia do Ano e também o Dia Mundial da Paz, que tivemos Hoje a graça de escutar a primeira lição da liturgia deste dia, saída do Livro dos Números, que faz descer sobre todos nós e sobre todos os dias deste novo ano a bênção de Deus, assim formulada: «Que o Senhor nos abençoe e nos guarde./ Que o Senhor faça brilhar sobre nós a sua face e nos seja favorável./ Que o Senhor dirija para nós o seu olhar e nos conceda a paz» (Números 6,24-26). É fácil de entender que esta bênção consiste em pôr o Nome de Deus, três vezes repetido (o Senhor/, o Senhor/, o Senhor), sobre todos nós, como nossa proteção.

5. Mas escutando atentamente as outras páginas da Escritura Santa que também Hoje tivemos a graça de escutar, podemos ver uma notória progressão. Assim, no Evangelho de Lucas (2,16-21), a bênção desce sobre nós com outro Nome, o Nome de Jesus. Mas aqui já não se trata apenas de um Nome, mas de uma pessoa, que confere uma plenitude muito mais ampla, concreta e solene à bênção de Deus, que agora desce sobre nós, não apenas com um Nome, mas com a presença do Filho de Deus. Extraordinária mudança: em vez de termos apenas um Nome, temos agora uma pessoa, que está no meio de nós, e que é para nós verdadeiramente o Rosto de Deus, «imagem visível do Deus invisível» (Colossenses 1,15), «rosto humano de Deus, rosto divino do homem» (S. João Paulo II, Exortação Apostólica Ecclesia in America [1999], n.º 67), que continua no meio de nós, e que bem conhecemos, pois conhecemos as suas palavras e as suas obras.

6. Mas há ainda uma terceira etapa, a qual nos traz, não apenas Jesus «connosco» (Immanuel), mas Jesus «em nós». Temos Deus em nós por meio do Espírito do Filho, que em nós clama: «ʼAbbaʼ! Pai!» (Gálatas 4,6). Este é o significado mais profundo da bênção que recebemos neste Dia primeiro do Ano. Maria dá-nos a companhia de Jesus, põe Jesus no meio de nós. E Jesus oferece-se a nós de modo ainda mais profundo, dando-nos o Espírito Santo.

7. A segunda etapa era necessária para que nos pudesse ser dado o Espírito. O Filho de Deus devia, não apenas incarnar, mas também oferecer-se por nós em sacrifício até à morte e, através dela, dar-nos o seu espírito (João 19,30). Ele, «nascido de uma mulher, nascido segundo a Lei» (Gálatas 4,4), veio «para resgatar aqueles que estavam sujeitos à Lei» (Gálatas 4,5a). «Nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei». Ao todo, seis palavras no sóbrio texto grego [oito no português], e, ainda assim, duas repetidas: «Nascido de uma mulher, nascido sujeito à Lei». Nascido de uma mulher, isto é, como todos nós, nosso irmão em humanidade; nascido sujeito à Lei, isto é, membro do povo hebreu, a quem a Lei de Deus tinha sido dada. Nesta linha breve e densa, condensada, e, ainda assim, com o excesso daquela repetição só aparentemente desnecessária, aparece compendiado o mistério da Incarnação, ao mesmo tempo que se sente já pulsar o coração da Mariologia: Maria não é grande em si mesma; é, na verdade, uma «mulher», verdadeiramente nossa irmã na sua condição de humana criatura. Não é grande em si mesma, mas é grande por ser a Mãe do Filho de Deus, e é aqui que ela nos ultrapassa, imaculada por graça, bem-aventurada e bem-aventurança, nossa mãe na fé e na esperança. Maria não é grande em si mesma; vem-lhe de Deus essa grandeza. Assim, podemos nós agora receber a adoção filial (Gálatas 4,5b). Podemos, não apenas ter connosco o Filho de Deus, mas tornarmo-nos nós mesmos filhos amados de Deus.

8. A bênção de Deus, a sua promessa, o seu dom, é definitivamente o Espírito Santo. É o Espírito do Seu Filho, que vem para nós e nos transforma, pondo-nos em relação filial com o Pai. Na lição da Carta aos Gálatas (4,4-7), Hoje também por graça escutada, S. Paulo afirma: «Portanto, não és mais escravo, mas filho!». No início deste Novo Ano, estas palavras de S. Paulo devem fazer nascer em nós uma Alegria grande por nos darem a conhecer que Deus quis adotar-nos como seus filhos. Agora sabemos que a Bênção de Deus não é apenas o nome de uma pessoa que caminha connosco, mas é a vida divina dentro de nós.

9. Podemos agora salientar o caráter trinitário da Bênção que Hoje nos é dada: a lição do Livro dos Números fala-nos do Pai; o Evangelho de Lucas fala-nos do Filho; a Carta aos Gálatas fala-nos do Espírito Santo, mostrando-nos assim a plenitude da Bênção de Deus, Pai, Filho, Espírito Santo.

10. Podemos agora contemplar e compreender melhor a história do grande Amor de Deus por nós e a riqueza da missão confiada a Maria, na sua fisionomia mais alta de Mãe de Deus. E podemos ler e compreender também melhor a nossa dignidade de filhos de Deus, e a missão que daí advém sobre nós.

 

Igreja Catedral de Lamego, Homilia na Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, e 58.º Dia Mundial da Paz, 01 de janeiro de 2025

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