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Da Missa Crismal ao Domingo de Páscoa

Esta Páscoa está marcada pela morte do Papa Francisco, na segunda-feira de Páscoa, o dia que o Senhor fez. Com efeito, é a Páscoa que faz de nós irmãos em Cristo, comunidade crente, Igreja peregrina. Esta luz e esta vida nova e o desafio permanente a viver como ressuscitados, deixando-nos interpelar pela palavra de Deus e atravessar pela Sua misericórdia infinita.
Antes de chegarmos à Páscoa, fizemos caminho, um caminho que não se encerra, mas nos projeta para a eternidade. É um caminho de esperança e de compromisso. Ele vive. Jesus Cristo está vivo, no meio, reunindo-nos, atraindo-nos e enviando-nos a anunciar a alegria da manhã de Páscoa.
Os dias que precedem a Páscoa são riquíssimos em tradições e devoções populares, mas na celebração litúrgica, uma Semana Santa que nos faz reviver os passos de Cristo, da entrada triunfal à Última Ceia, para maias tarde O encontrarmos no Jardim das Oliveiras e logo depois preso, julgado, condenado e crucificado.
A partir do blogue pessoal do nosso Bispo, Mesa de Palavras, partilhamos pedaços de reflexão, também convite a lermos e escutarmos os referidos textos.

Antes do Tríduo Pascal, a Missa Crismal, com uma referência vincada à unção e aos óleos santos. “Mas não podemos ficar só pelo exterior – a fronte, as mãos, a cabeça –, e pelo pouco óleo, tão pouco que mal se vê e mal se sente, com que costumamos fazer esta unção. Quando lemos, na Bíblia, relatos de Unção com óleo, por exemplo, quando Samuel unge Saul (1 Samuel 10,1) ou David (1 Samuel 16,13), ou quando admiramos a bela cascata do Salmo 133, que canta a unção sacerdotal, constatamos logo que anda ali demasiado óleo perfumado, de modo a encharcar os cabelos, os vestidos e a regar ainda o próprio chão. Somos então levados a perguntar: porquê tanto óleo, se acaba por escorrer e se perder no chão? E a resposta é: derramando tanto óleo na cabeça, vê-se que ficam empapados os cabelos, os vestidos, e acaba por escorrer para o chão. Mas o povo bíblico vê ou compreende ainda mais, muito mais, e é para este «mais» que é preciso chamar ainda a atenção. O povo bíblico compreende ainda que desse muito óleo em grande quantidade derramado na cabeça, uma parte entra para dentro da cabeça, e vai banhar o interior do homem, vai banhar o coração, a alma e as entranhas”.
E, “Ainda antes de Te pedirmos perdão:
Senhor Jesus, faz da tua Igreja uma sarça
ardente de amor diante dos nossos olhos,
alimenta-lhe o fogo com o teu óleo sagrado
que abrasa de amor a terra inteira,
faz que aquela chama dia-a-dia nos incendeie e nos chame
e que nós saibamos responder sempre: ‘Eis-me aqui’.

Dá à tua Igreja ternura e coragem e aragem:
a coragem da ternura e a aragem que nos limpa o coração e o olhar.

Aceita, Senhor, as nossas lágrimas e sorrisos,
e torna-nos próximos e acolhedores
de quem está só, triste e sem esperança.
Faz uma fogueira com as nossas maldades,
e mesmo que nos desviemos de Ti,
quando para Ti voltarmos,
cobertos de lama e de poeira,
lava com sabão de amor o nosso coração,
ainda antes de Te pedirmos perdão.

Não nos censures,
não ralhes connosco,
mas unge com ternura a nossa fronte,
com o teu óleo perfumado de alegria,
pega em nós ao colo,
senta-nos à mesa,
para que possamos outra vez olhar-Te olhos nos olhos,
talvez a chorar,
mas sem corar.

Senhor,
que a Tua sarça ardente
alumie sempre os nossos passos de cada dia.”

Na tarde de quinta-feira santa, o início do Tríduo Pascal, num convite a sentemo-nos à mesa com Jesus. “Com esta celebração da Ceia do Senhor, em Quinta-Feira Santa, a Igreja Una e Santa reacende a memória da instituição da Eucaristia, do Sacerdócio e da Caridade, e dá início ao Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do seu Senhor (o Tríduo Pascal prolonga-se até às Vésperas II do Domingo da Ressurreição), que constitui o ponto mais alto do Ano Litúrgico, de onde tudo parte e aonde tudo chega, coração que bate de amor em cada passo dado, em cada gesto esboçado, em cada casa visitada, em cada mesa posta, em cada pedacinho de pão sonhado e partilhado. É assim que Deus nos dá a graça de caminhar durante todo o Ano Litúrgico, dia após dia, Domingo após Domingo, sempre partindo da Páscoa do Senhor, sempre chegando à Páscoa do Senhor”.

Esta quinta-feira, diz-nos D. António, é santa:

“Esta Quinta-Feira é Santa:
Sabe a Deus,
Sabe a pão,
Sabe a alegria,
Sabe a Eucaristia!

Esta Quinta-Feira é Santa:
Sabe a amor,
A dádiva da vida,
A uma lágrima comovida.

Esta Quinta-Feira é Santa:
Sabe a Ceia
E a Jesus,
Luz grande que incendeia
As trevas do coração,
E faz nascer amor e comunhão”.

Passa a noite, depois da Ceia, a oração, no Jardim das Oliveiras. Com Judas à cabeça, aproxima-se uma multidão, com soldados e com os chefes judaicos. Já tinham decidido dar a morte a Jesus. Serão horas intensas, dolorosas e inesquecíveis. Liturgicamente, revivemos esses momentos.
“Foi-nos dada a graça de nos reunirmos aqui, na Casa de Deus, nesta Sexta-Feira Santa, para celebrarmos, unidos de alma e coração à Igreja inteira, a Una e Santa, a Paixão do único Senhor da nossa vida, «Aquele que nos ama» (Apocalipse 1,5), Jesus Cristo.

2. E foi-nos dado seguir, passo a passo, com a conversão do coração e o louvor no coração, o imenso relato da Paixão do único Senhor da nossa vida, a partir do Evangelho segundo S. João (18,1-19,42). Foi assim que atravessámos o Cédron e entrámos no «jardim». É de noite, mas arde a LUZ, a LUZ, a LUZ. É verdade que já não estamos todos. Judas perdeu-se na NOITE, na NOITE, na NOITE (João 13,30). Virá depois com archotes e lanternas – mísero sucedâneo da LUZ – e com armas (João 18,3). Vem prender a LUZ, mas cai encandeado (João 18,6). Tem de ser a LUZ a ofuscar-se por amor e a entregar-se a ele por amor”.

A Cruz, no dizer do nosso Bispo, abrirá à luz os nossos olhos e o nosso coração

A Tua Cruz, Senhor

Vem, Senhor Jesus,
entra pela janela dos meus olhos,
enche todos os recantos do meu ser,
ilumina todos os redutos,
e faz-me ver que todo o comodismo e egoísmo
é sem raiz nem flor nem frutos.

Irei, Senhor,
em procissão de amor,
beijar a tua Cruz.

E quando eu olhar para ti,
para o teu rosto ferido e desfigurado,
para as tuas muitas chagas a sangrar,
dá-me a graça de aí ver bem o meu pecado.

E quando Tu, Senhor, olhares para mim,
com esse meigo olhar de serena compaixão,
dá-me a graça de ver o teu perdão nunca poupado,
e de sair com o coração transfigurado.

Na Vigília Pascal, surge a LUZ com toda a intensidade, com todo o brilho. Jesus é a Luz do Mundo que há de incendiar de amor e paz os nossos corações.
“Este é o Dia em que desfiamos com amor o rosário das tuas maravilhas, tantas elas são, percorrendo a avenida das tuas Escrituras desde a Criação até à Páscoa, desde a Páscoa até à Criação. Tanto faz. Porque neste Dia novo o tempo não nos mede e nos afasta e nos cataloga em séculos e milénios, mas põe-nos todos a conviver lado a lado. É assim que lemos e compreendemos que no teu «Filho amado», Jesus Cristo, «Imagem» tua e «primogénito de toda a criatura», «tudo foi criado» (Colossenses 1,16), «e sem Ele nada foi feito» (João 1,3). Lemos e compreendemos que o «teu Filho, Jesus Cristo, não foi Sim e não, mas unicamente Sim» (2 Coríntios 1,19). Passeámos assim no jardim da tua Criação boa e bela, visitámos as suas 452 palavras (Génesis 1,1-2,4a), e nelas não encontrámos um único «não», um único alçapão. Se o teu Filho amado, Jesus Cristo, Imagem tua e primogénito de toda a criatura, foi sempre Sim e nunca não, e se foi n’Ele que foram criadas todas as coisas, então a Criação inteira tem também de ser Sim, Sim, Sim, e nunca não.
3. Que belo mundo novo, Senhor, quiseste depositar nas nossas mãos! Que grande Sim nos confiaste, Senhor, antes de nós merecermos de Ti qualquer confiança! Visitámos depois o Egipto opressor, e de lá, Tu nos libertaste, Senhor, fazendo-nos atravessar a pé enxuto o mar Vermelho, como se fosse uma «planície verdejante» (Sabedoria 19,7). Vestíamos roupas brancas, trazíamos o coração em festa, e nos lábios um cântico novo, como sucede também ainda hoje, Senhor, neste Dia admirável da tua Ressurreição, em que cantamos outra vez com inefável alegria: «Minha força e meu canto é o Senhor! A Ele devo a minha liberdade!»

Eis-nos chegados ao País da Páscoa:

“Acabámos de entrar no país da Páscoa.
Os pátios dos sacerdotes e de Pilatos
Ficaram para trás,
Para trás ficou também o canto do galo,
Os gritos dos guardas e das multidões,
A febre das traições.

O que se ouve agora é o anúncio do Anjo,
A alegria das mulheres,
A Plenitude da Vida a transbordar
Das páginas da Escritura Santa e da Cruz de Jesus,
O rumor do Amor,
De um Amor novo e subversivo,
Que vence óbitos e ódios,
Raivas e violências,
A raiz de um mundo novo a germinar
Daquela noite de Luz
E a entregar Jesus
A quem o queira receber.

Veem-se mulheres e homens a correr,
Belos e leves,
Sobre os montes,
Sem qualquer bagagem a estorvar,
Sem nada a entorpecer,
Como quem acaba agora de nascer.

Move-os apenas a Notícia do Ressuscitado,
A Carícia que acaba de chegar,
E que é preciso levar
À pressa a todo o lado.

Vem, Senhor Jesus Ressuscitado,
Fica Connosco,
Vai connosco,
Que precisamos de ter o coração habitado,
Iluminado,
E incendiado”.

Fomos ao túmulo, mas os sinais remetem-nos para o caminho e reenviam-nos ao mundo.
“O Domingo de Páscoa da Ressurreição do Senhor oferece-nos o grande texto de João 20,1-9, com a descoberta do túmulo aberto, mas não vazio! Túmulo aberto: a pedra muito grande (Marcos 16,4) do poder da morte tinha sido retirada, e o Anjo do Senhor sentou-se sobre ela (Mateus 28,2): impressionante imagem de soberania e vitória! Mas não vazio: está, na verdade, cheio de sinais, que é preciso ler com atenção: um jovem sentado à direita com uma túnica branca (Marcos 16,4); dois homens com vestes fulgurantes (Lucas 24,4); as faixas de linho no chão e o sudário enrolado em outro lugar (João 20,6-7). É importante ler os sinais e ouvir as mensagens! Se o túmulo estivesse vazio, como vulgarmente e inadvertidamente dizemos, estávamos perante uma ausência cega e muda. Na verdade, os sinais e as mensagens mostram o abandono das vestes da morte e deixam entrever uma forma de vida nova que somos chamados a identificar”.

Entre as várias figuras em destaque nestes dias, a manhã de Páscoa traz-nos Maria Madalena e a sua delicadeza amorosa para com Jesus.

“É o amor, ainda que imperfeito,
É o amor, ainda que com defeito,
É o amor que faz correr a Madalena.

É o amor, ainda que imperfeito,
É o amor, ainda que com defeito,
É o amor que faz chorar a Madalena.

Mas tu sabes, meu irmão da páscoa plena,
Tu sabes que há outro amor em cena,
E é esse amor que faz amar a Madalena”.

A Páscoa de Jesus cimenta a nossa esperança. N’Ele morremos, com Ele ressuscitaremos. À Páscoa do Senhor, a nossa Páscoa. Poderemos interpretar a morte do Papa Francisco, em segunda-feira de Páscoa, nesta dinâmica: primeiro Cristo, depois os que n’Ele acreditam.

 


in Voz de Lamego, ano 95/23, n.º 4800, de 23 de abril 2025

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