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Fogos

NÃO PODEMOS FICAR QUIETOS, TRANQUILOS E CALADOS

1. Quando vemos arder pessoas, casas, animais, campos, árvores, montes, tudo varrido num infindável instante pelo fogo, pelo fumo, pelo vento, claro que não podemos ficar quietos, tranquilos e calados. Não podemos nem devemos. Quando vemos a terra à força enviuvada, e o sol e a lua, nossos irmãos, vestidos de sangue carregado, não podemos fechar os olhos e as mãos, as entranhas e o coração. Quando ouvimos os gritos angustiados de tantos de nós que veem os seus bens arrebatados pelas chamas e o futuro ali à sua frente trucidado, não podemos apagar a dor que nos sufoca e continuar a dormir um sono sossegado. Quando vemos exaustos a proteção civil, os bombeiros, a GNR, os militares e tantos, tantos populares cujos braços são iguais aos nossos, e que continuam a travar uma luta desigual com mil fogos desregrados, claro que não podemos ficar quietos, tranquilos e calados. Não podemos nem devemos.

2. A todos os meus irmãos de todo o centro-norte do meu país, também desta Diocese de Lamego, varrida pelas chamas quase por inteiro (lembro Cinfães, Sernancelhe, Moimenta, Mêda, Penedono, Tabuaço, Armamar, Pesqueira, Foz Côa, Tarouca ainda hoje a arder), que lutaram desamparados contra o fogo, por vezes sem qualquer auxílio organizado (proteção civil, bombeiros…), mesmo sem água, a minha comunhão de irmão, a minha mão, a minha oração, a minha solidariedade e entreajuda. E assim também de todas as comunidades. E um grande grito de esperança. Eu também já estive no meio de fumos e fogos cruzados sem saber bem o que fazer. Fez Deus por mim e comigo.

3. Todavia, neste momento triste e adolorado, além de um grito de esperança, não podemos deixar também no ar um grito que se oiça em todo o lado. Ninguém investido em autoridade neste país, seja a nível central seja a nível local, pode ficar quieto, tranquilo, descansado, limitando-se uma vez mais a voltar a dizer que agora sim, agora é que vamos pensar e levar a sério a desertificação do interior do nosso belo país, dotando as pessoas que lá vivem com os mesmos direitos, meios e estruturas que todos os outros cidadãos. Não basta dizer e atirar para o ar com belos ramalhetes de promessas. Já sabemos que o interior vale poucos votos. Mas as pessoas que aqui vivem têm os mesmos direitos e a mesma dignidade de todos os outros, e não podem ser reduzidos a simples contagem de votos.

4. Esta pode ser a hora, esta é a hora de todos vermos melhor o que estamos a fazer para não deixar este interior do país abandonado. Esta é a hora, esta pode ser a hora de todos prestarmos a devida atenção a este belo chão que Deus nos deu. Esta tem de ser a hora de usar a razão e o coração. Esta vai ser a hora de sabermos raciocinar e racionalizar a saúde, a cultura, os serviços, as vias de comunicação, as comunicações.

5. Assim Deus nos ajude. Ele faz sempre bem a sua parte. Nós é que parece que não.

 

Lamego, 18 de agosto de 2025

(NB: Lembro que há 11 meses atrás, exatamente em 18 de setembro de 2024, estava eu aqui a escrever mais ou menos a mesma coisa. Espero que esta seja a última vez).

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