Tal como anunciado por D. António Couto na sua mensagem quaresmal, parte da renúncia deste ano será enviada para região do Kivu-Norte, diocese de Beni-Butembo, na República Democrática do Congo. No sentido de melhor nos inteirarmos da situação, aqui publicamos um texto do padre Claudino Gomes, aparecido na revista Além-Mar.
A Diocese de Beni-Butembo fica situada numa das regiões mais povoadas e bonitas da República Democrática do Congo: o Kivu-Norte.
O Kivu tem potencial para ser uma zona rica, um paraíso.
As guerras e violências de todo o tipo, porém, massacram desde 1996 esta região, que coincide com a Diocese de Beni-Butembo. Estas são provocadas pela avidez dos países vizinhos (Ruanda e Uganda), de mãos dadas com os islamistas radicais da Al-Qaeda. Por meio de ataques sistemáticos às aldeias e às áreas agrícolas e florestais, matam os populares e provocam o abandono dos campos e a fuga das populações para as cidades, onde os reduzirão à fome.
Por outro lado, as companhias e empresas do Ocidente, da China e de outros países precisam dos minerais (coltan ou tântalo e cobalto) indispensáveis para o fabrico dos telemóveis, computadores, smartphones e armamento. Para os explorar, promovem e armam um sem número de milícias que lhes defendem os interesses. Ataques quotidianos à população civil, trabalho forçado e escravatura infantil, abandono escolar em massa para o garimpos do coltan e a pastorícia ao serviço dos ruandeses, que ocupam a zonas agrícola abandonadas, violação sistemática de meninas e mulheres pelo exército nacional e por todas as milícias … tudo isto e muito mais tem vindo a reduzir este povo inteligente, que sempre foi trabalhador, pacífico e empreendedor, numa terra fertilíssima, à fuga, à fome e às doenças.
A Igreja tem sofrido na pele esta situação. Denuncia as razões e as raízes de tanta injustiça e violência. Por isso, tem sido pesadamente atacada. Muitos cristãos são mortos; sacerdotes e religioso raptados e assassinados; estruturas paroquiais destruídas.
Mas a Igreja não desanima nem desiste de denunciar os abusos, e de se pôr ao serviço de tão sofrida população através do resgate de escravos, pagamento de propinas a alunos que ficaram sem recursos, centros de recuperação física e psicológica, centros de refúgio e formação para crianças órfãs, financiamento de escolas e hospitais...
Todos somos responsáveis por cada ser humano, abandonado à morte por guerras, fome ou doenças. Então, tudo o que os cristãos da diocese de Lamego, como os olhos em Cristo Crucificado, fizerem com grande generosidade, mostrará que todos somos membros do mesmo Corpo e acelerará a Festiva Ressurreição dos Povos do Kivu-Norte.
P. Claudino Gomes, mccj, in Voz de Lamego, ano 88/11, n.º 4448, 13 de fevereiro de 2018