“E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2, 52)
Estas palavras encerram o episódio evangélico que preside às catequeses propostas. Foi um acontecimento aflitivo para os pais, que pensavam ter perdido o filho; ocasionou um diálogo um pouco tenso entre pais e filho, parecendo este querer afirmar a sua autonomia; foi, em suma, um episódio igual a tantos outros que acontecem em todas as famílias.
Após este episódio, Jesus continua a ser submisso aos seus pais, beneficiando da reciprocidade e do encontro que a família lhe proporciona. O ambiente propício para o amadurecimento que se deseja. A esse propósito, o evangelista fala da “sabedoria” que cresce. Não se trata de adquirir competências ou conhecimentos, mas de “saborear o significado da própria vida”. Mais do que esperar o passar dos anos para usufruir desta sabedoria, a afirmação evangélica convida a saborear cada dia, desde sempre. Por que se é verdade que “a graça de Deus precede sempre qualquer obra humana”, também é verdade que “a sua eficácia só é possível se o homem se tornar dócil à sua acção”. E isso é fruto desta sabedoria.
Mas este relato fala também do crescimento de Jesus como algo que é público, uma realidade que “acontece diante dos homens”, não apenas no ambiente familiar, contrastando com o modo de pensar individualista e restritivo de alguns. A evolução e maturidade dos mais novos diz respeito a todos e é para bem de todos.
A família é o ventre natural de cada nova vida, acolhida como dom, presente de Deus. Muito longe, portanto, da mentalidade que não distingue o gerar de uma nova vida através do acto conjugal ou gerá-la artificialmente. Perdeu-se a percepção de que um filho é um grande dom que vem do alto. Perdeu-se o sentido de Deus e o homem sente-se senhor da vida.
Ninguém melhor que a família poderá ampliar os horizontes da cultura da vida no mundo, ajudando a ultrapassar uma cultura narcisista em que não se vê além de si próprio. A família tem, em si, um dinamismo de comunhão que leva a acolher todos, a ajudar quem mais precisa, a acompanhar no tempo. “A família é o lugar por antonomásia da cultura da vida, porque é o lugar por excelência da presença de Deus”.
Para refletir…
- Em que sentido a família se pode converter em promotora da cultura da vida, quando se reconhece a si mesma como lugar por excelência da presença de Deus?
- O vínculo natural e inseparável entre o amor e a vida está hoje a tornar-se cada vez mais fraco, e chega mesmo a ser questionado. Que erros? Que dificuldades? Que propostas?
Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 88/33, n.º 4470, 17 de julho de 2018