“Ao vê-lo, ficaram admirados” (Lc 2, 48)
A alegria faz-nos bem. Importa, no entanto, saber distinguir entre a que realmente nos preenche daquela que é, muitas vezes, proposta por uma sociedade consumista e individualista. Mais do que daquilo que se possui, a alegria depende do caminho que se segue.
O relato evangélico da perda e do encontro de Jesus fala-nos da alegria dos pais quando encontraram o filho, mostrando-nos que a alegria é um dom que está para além das expectativas e desejos. Há tanta gente que atinge as metas que se propõe e adquire o que desejou e, nem por isso, experimenta esta alegria. Porque, “ a alegria, a verdadeira alegria, é sempre inesperada, surpreende e amplia o coração para horizontes infinitos”. Numa palavra, alegra-se verdadeiramente, não quem alcança a alegria projectada, mas quem alcança a alegria nunca pensada”.
A primeira palavra do Anjo, na visita a Maria, pode ser traduzida como “Alegra-te!”. Deus não é um inimigo da alegria do homem, apesar de muitos olharem Deus como alguém que não deixa ser alegre. Isto acontece, também, porque se confunde, muitas vezes, “alegria” com “gozo”. Há tantos que gozam muito e permanecem tristes, vazios, sem sentido.
A missão da Igreja é anunciar a alegria do Evangelho e revelar tal alegria ao homem e à família. Neste particular, são muitos os casais que se afastam e confessam não ter conseguido alegria no seu matrimónio. Talvez porque tenha faltado uma fidelidade mais profunda e radical que dê gosto e sabor à vida conjugal. Como cuidar e nutrir a alegria do amor no longo e muitas vezes monótono fluxo da vida conjugal? Talvez seja uma questão de “espiritualidade da beleza”, permitindo ao cônjuge captar e apreciar o “valor sublime” que tem o outro.
A alegria é essencial para a identidade da própria família. Precisamos de uma espiritualidade que permita descobrir a alegria que vem da partilha de um bem, assumindo que “as alegrias mais intensas da vida surgem quando se pode provocar a felicidade dos outros, numa antecipação do Céu” (AL 129). Tal como escreve o Papa Francisco, “Poucas alegrias humanas são tão profundas e festivas como quando duas pessoas que se amam conquistaram, conjuntamente, algo que lhes custou um grande esforço compartilhado” (AL 130).
Para refletir…
- Todos se casam porque experimentam uma grande alegria para com o amado do coração e porque desejam realizar com ele o sonho de sua vida que é a felicidade. Porque é que isto, sempre dado como certo, nem sempre se realiza?
- Hoje, mais do que nunca, urge uma acção pastoral da Igreja impregnada de alegria. O que significa isso e como pode ser alcançado nas nossas comunidades cristãs?
- Que propostas para que a Igreja possa ajudar as famílias a viver e a experimentar a verdadeira alegria do amor?
Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 88/35, 4472, 31 de julho de 2018