Decorreu em Fátima, no Centro Paulo VI, de 03 a 06 de setembro, o IX Simpósio do Clero, sob o tema “O Padre: Ministro e Testemunha da alegria do Evangelho”, com a participação de 450 sacerdotes de todas as dioceses portuguesas e organizado pela Comissão Episcopal Vocações e Ministérios.
As recentes notícias sobre atos pedófilos praticados por clérigos e os ataques ao Papa Francisco marcaram o início dos trabalhos deste encontro, com os bispos portugueses a manifestarem o seu apoio ao Santo Padre, assegurando-lhe proximidade e estima nestes tempos em que tantos o acusam de pouco fazer para purgar a Igreja.
Encontro de irmãos
Por iniciativa dos Formadores dos Seminários, que se reuniam anualmente em Mira, surgiu a proposta de um encontro nacional de padres, o que veio a concretizar-se há 25 anos atrás. Disto mesmo deu conta D. Jorge Ortiga, logo após a abertura do encontro. Duas décadas e meia depois, continua viva a vontade de encontrar, partilhar, refletir e dialogar sobre a vida e a missão dos padres numa sociedade complexa, controversa, materialista, com pouca exigência ética, mas onde são chamados a servir.
Ainda no início dos trabalhos, D. Manuel Clemente evocou a figura de D. António Francisco dos Santos, de quem se confessou admirador e amigo e a quem apresentou como grande dinamizador destes simpósios, sublinhando ainda a sua capacidade de se fazer próximo de todos.
Discípulos do Pastor
A primeira grande conferência deste dia foi protagonizada pelo Cardeal Beniamino Stella, italiano, Prefeito da Congregação para o Clero, sobre o tema “O Sacerdote: o ministério sacerdotal no magistério do Papa Francisco”.
A partir do ensinamento papal, apresentou o padre como alguém que se define e entende como discípulo, um homem que caminha e que, no caminho, procura configurar-se à imagem do bom pastor (Cristo). Uma missão marcada pelo discernimento que é constantemente chamado a protagonizar, libertando-se de um certo autorreferencialismo ou de um agir pastoral marcado pela exterioridade e assumindo a vida concreta de um povo com quem caminha.
Discípulo, pastor e homem do discernimento, o padre é chamado a ser um mediador, capaz de fazer-se próximo, de acompanhar e exercitando a arte da misericórdia.
Ser aprendiz
No dia seguinte, o tema de fundo foi a formação, explanado nas duas conferencias da manhã, a cargo de D. Jorge Carlos Patrón Wong, mexicano e Secretário da Congregação para o Clero. Na primeira falou sobre “A Formação permanente: ministério alegre e fecundo ao longo da vida” e na segunda sobre “A formação dos futuros padres e os desafios do nosso tempo”. Nas intervenções não cessou de citar a recém-aprovada “Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis”, publicada entre nós sob o título “O dom da vocação presbiteral”.
Partindo de alguns documentos eclesiais, falou da formação permanente como uma necessidade humana e espiritual, apelando à unidade e continuidade da formação do clero. A formação é para toda a vida; se no Seminário se caracteriza por alguma intensidade, é ao longo dos anos que a continuidade é exigida.
Todos os dias se aprende a ser padre e não há bons bispos se não existirem bons padres, tal como não haverá bons padres sem bons cristãos.
Todos os dias são oportunidade para que o padre cresça como filho, seja melhor irmão no presbitério onde vive e seja melhor pai na comunidade onde serve. E é na medida em que cresce como discípulo, que não se envergonha de ser aprendiz, que se esforça por ser testemunha, que faz o bem e sem outro interesse que não seja o de servir, que o padre se torna um discípulo missionário.
A tarde foi vivida com a companhia e o ensinamento do padre espanhol Pablo d’Ors, abordando o silêncio na vida espiritual do padre. Um silêncio que não é ausência de ruido, mas ausência de ego.
Servos da Palavra
No dia 05, logo pela manhã, os participantes puderam escutar o nosso bispo, D. António Couto, sobre “O padre: ministro e testemunha da Palavra”. Entre o muito e profundo que disse, convidou os padres a serem servos da Palavra para testemunharem em si o Autor da Palavra, única forma de serem credíveis e “incendiários” nos tempos que correm.
Antes do almoço, um painel com três oradores para abordarem, sob três perspetivas e em jeito de testemunho, o modo profético de viver do padre: na pobreza (Pe. Manuel Mendes, da Obra da Rua), na obediência (Pe. Carlos Carneiro, Jesuíta) e na fraternidade (Pe. António Bacelar, diocese do Porto).
À tarde, alguns padres foram convidados a falarem do seu testemunho presbiteral em diferentes ambientes: nas prisões, nos hospitais, nas universidades, nas forças armadas, nas missões. E logo após um intervalo, três novos intervenientes abordaram o tema do ser pároco em diferentes ambientes: na cidade, no meio suburbano e no mundo rural.
E foi neste último que “brilhou” o nosso Pe. Diamantino Alvaíde, que a todos marcou pela alegria contagiante com que explanou o assunto. Apresentando alguns dados para ilustrar a desertificação do interior, prosseguiu elencando algumas “sombras” que marcam a pastoral neste meio, para logo descrever as “luzes” que o animam. E terminou com alguns desafios pastorais que se colocam.
A manhã do último dia trouxe D. Juan Maria Uriarte, espanhol e bispo emérito de San Sebastian, com o tema “O celibato presbiteral: sua nobreza, dificuldades e etapas” e cujo pensamento podemos ler num livro seu recentemente publicado (O Celibato – apontamentos antropológicos, espirituais e pedagógicos”.
Notas finais
A par das conferências e comunicações diversas, a Eucaristia, a oração de Laudes, de Vésperas, de Completas, a recitação do Rosário, a adoração eucarística e os momentos individuais de silêncio e de oração no Santuário marcaram os dias dos participantes.
No final do segundo dia, a maior parte dos padres reuniu-se, por dioceses, com os seus bispos e aproveitou para dialogar sobre os trabalhos em curso; Lamego não teve essa oportunidade.
Por outro lado, parece-me que os conferencistas vindos de fora, sendo bons oradores e protagonistas que vale sempre a pena escutar, não acrescentaram muito ao que vamos lendo e ouvindo do Papa Francisco ou em documentos já publicados. Neste caso, a diversificação de oradores poderia enriquecer o debate e permitir uma palavra mais atenta ao nosso meio eclesial e social.
Por último, e sublinhando a presença de muitos bispos, a verdade é que poucas vezes estes foram contemplados no que se disse, quase que esquecendo-se a sua fundamental presença e participação na formação dos padres e na vivência do ministério sacerdotal.
A nossa diocese esteve presente com 16 dos seus sacerdotes e com o Sr. Bispo.
Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 88/39, n.º 4476, 11 de setembro de 2018