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520 anos do Santuário da Lapa

Decorria o ano de 1498. Aí por altura da primavera, enquanto o nosso grande navegador Vasco da Gama, chegava a terras  longínquas da India, à descoberta de novos mundos, alargando o Império e levando a fé, aqui, nas encostas da serra, uma menina, de nome Joana, pastora e muda de nascença, colocava umas florzinhas aos pés da imagem de Nossa Senhora que acabara de encontrar entre os inóspitos penedos, e que fez deste lugar ermo, uma centro de peregrinação e de fé ao longo dos séculos. Fontes coevas atestam que a Senhora da Lapa constituía, à época, o local de peregrinação mais concorrido de Portugal, chegando a rivalizar com Santiago de Compostela, na vizinha Espanha. Os Jesuítas, encarregados deste espaço pastoral e com uma visão profética, deram-lhe o impulso que se impunha, construindo o Santuário, o Colégio e outras casas de apoio. O culto espalhou-se rapidamente, sobretudo pelo norte de Portugal e chegou além-fronteiras, sobretudo ao Brasil

Com a expulsão dos Jesuítas, em 1759, o Colégio fechou e o governo apoderou-se do património. D. Maria I, em 1793, restitui tudo ao então bispo de Lamego, D. João António Binet Píncio, e o Colégio reabriu em 1892, altura em que aqui também estudou o nosso escritor Aquilino Ribeiro. Mas, com a chegada da República, veio a fechar definitivamente em 1910.  Durante estes tempos conturbados, acentuou-se a degradação, até que, em 1994, o novo Reitor, P. José Alves de Amorim, iniciou os trabalhos de restauro e implementou uma nova dinâmica na vida deste Santuário.

Para assinalar, os 520 anos do culto à Senhora da Lapa, (1498-2018), a reitoria do santuário promoveu, neste 3º domingo de setembro, uma celebração com o seguinte programa: 11h00 -receção aos convidados institucionais e intervenientes no programa; 11h30 - Início da procissão solene do Santuário para o recinto da Missa Campal, com a participação das representações dos vários locais que preservam o culto de Nossa Senhora da Lapa. De realçar que do Brasil, veio o Pe. John Chungath, sacerdote Indiano que trabalha há vários anos em São Paulo, na paróquia de Nossa Senhora da Lapa; pelas 12h00, Eucaristia solene presidida por D. Jacinto, bispo emérito de Lamego. Estiveram também presentes o Vigário geral da diocese, o Pe. Henrique Rios, em representação da Companhia de Jesus, bem como vários sacerdotes. Cada sacerdote usou uma estola confecionada de propósito para assinalar a efeméride. Em representação da Assembleia da República, marcou presença o deputado Hélder Amaral. Honraram-nos ainda com a sua presença: Dom Duarte Pio, vários membros da Autarquia local e diversas Irmandades e Confrarias. No momento da homilia, D. Jacinto comentou os textos sagrados, historiou o culto à Senhora da lapa, recordou o papel de Maria no plano salvador e convidou-nos a deixarmo-nos conduzir pelo seu carinho de Mãe. A Eucaristia foi animada pelo Grupo Coral do Santuário de Nossa Senhora da Lapinha, de Guimarães.

Pelas 15h00, houve um encontro, no Colégio, com os representantes dos locais e instituições que têm a Senhora da Lapa como padroeira. Neste encontro ouviram-se testemunhos, fizeram-se propostas de intercâmbio e parcerias, projetando já a celebração dos 525 anos. Pelas 17h00, para fechar com chave de ouro, foi servido um espumante de honra.
A estação ANGELUS TV transmitiu em direto as cerimónias. Os peregrinos a PÉ puderam receber um Certificado de participação.

Quinhentos e vinte anos se passaram. Mudam-se os tempos e as vontades e o ambiente e a cultura. Portugal, terra de Santa Maria perdeu grande parte do seu Império e vai perdendo pouco a pouco a fé que o caracterizava. Também o Santuário da Lapa vai sofrendo com estas mudanças culturais. Já não são tantos os peregrinos que procuram os carinhos e os afagos da Mãe do Céu, são mais os turistas que aqui vêm curiosos de conhecer uma aldeia típica, um monumento antigo, um sardão e uma “quelhinha” onde dizem que só passa quem não tiver pecados. Por fim, fazem uma foto, constatam que toda a gente passa, menos quem for excessivamente obeso, compram o saboroso pão e o queijo tradicionais, e regressam contentes por terem visitado um lugar místico.

Nestes tempos tão difíceis para a humanidade, precisamos de redescobrir com Maria o valor da fé, do acolhimento e da partilha. Como a pequena Joana, precisamos de lhe levar as flores mais belas e perfumadas da caridade e de a trazer connosco bem dentro do nosso coração.


Pe. Aniceto Morgado, in Voz de Lamego, ano 88/40, n.º 4477, 18 de setembro de 2018

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