Ao fim de sete anos na diocese, o bispo de Lamego sublinha o "tormento" que é chegar a alguns pontos do território: "Andamos por sítios com água até ao joelho."
D. António Couto alerta, em entrevista à Renascença, para a existência de um Interior esquecido, com acessos e comunicações difíceis, onde a população é cada vez menor. "O Interior não está a ser devidamente olhado pela grande política”. “As dioceses do Interior são especiais, porque são grandes as provocações que nos são feitas”, declara o bispo, queixando-se de que não vê nada a ser feito para inverter a situação. "O Interior não está a ser devidamente olhado pela grande política. Não digo pelos locais, que estão de mãos atadas. Terá que ser um olhar a sério, coisas que envolvam e arrastem gente”.
Em relação à diocese: “Lamego é uma diocese extremamente envelhecida, desde o sul de Cinfães até Vila Nova de Foz Coa. As pessoas, sobretudo idosas e doentes, precisam de nós", diz o bispo, que passa "muito tempo em visitas pastorais”. “Com a diminuição de clero, nem sempre podemos fazer aquela assistência em matéria de culto tão frequente… A Igreja faz um grande trabalho de proximidade. Quem vai visitar os doentes sou eu, os padres e os nossos visitadores. Andamos por sítios, por quelhos com água, não digo até ao pescoço, mas até ao joelho e com silvas. E quem sabe disto? Para lá chegar é um tormento, nenhuma ambulância lá vai. Há zonas em que para lá chegar é preciso muito esforço e alguma capacidade atlética. É preciso que se saiba que isso existe neste Interior completamente abandonado”, desabafa D. António Couto.
Em 2016, o Governo anunciou a criação da Unidade de Missão para a Valorização do Interior, que elaborou o relatório do Programa Nacional de Coesão Territorial, com 155 medidas, cujos resultados o bispo de Lamego não verifica no terreno. “Não vejo absolutamente nada. Se formos ver se alguma coisa foi feita ou estrutura criada, temos que dizer 'não'. A população diminui drasticamente. Se, em 2015, tínhamos 130 mil habitantes, penso que já perdemos uns 10 mil", contabiliza.
A diocese de Lamego tem 223 paróquias, com 90 padres.
in Voz de Lamego, ano 89/31, n.º 4518, 9 de julho de 2019