“Filipe encontrou Natanael e disse-lhe: «Encontrámos aquele sobre quem escreveram Moisés, na Lei, e os Profetas: Jesus, filho de José de Nazaré.» Então disse-lhe Natanael: «De Nazaré pode vir alguma coisa boa?» (Jo 1, 45-46). Também Goujoim, uma pequena aldeia, pelo menos atualmente, com cerca de 23 pessoas, gerou um grande homem, Monsenhor Germano José Lopes, de quem se despediu no passado sábado, 19 de julho.
Estamos diante de um santo
Palavras do nosso Bispo, D. António Couto, na Missa celebrada na Capela das Irmãs de São Camilo. O Papa Francisco já o disse em mais do que uma ocasião, há santos à porta das nossas casas, estejamos atentos e encontrá-los-emos. D. António Couto apontou como exemplo para os sacerdotes o testemunho e o zelo de Monsenhor Germano, num convite a desinstalarmo-nos das nossas certezas e das nossas comodidades, pondo-nos ao serviço do Senhor e da Sua Igreja, com prontidão, alegria e generosidade. Junto de Deus, Monsenhor Germano continuará a interceder por nós. Momento para agradecer à família, que não deixou de estar presente em muitos momentos, nomeadamente o sobrinho, e às Irmãs de São Camilo que o acolheram, tratando-o sempre com a maior deferência.
Um homem sem fingimento
Na Santa Missa ao final da tarde, já na Paróquia de Santa Eulália de Goujoim, D. Jacinto Botelho, Bispo Emérito de Lamego, no momento da homilia, apresentou Monsenhor Germano como um homem transparente, por vezes parecendo ingénuo. A imagem que mais vezes lhe ocorreu, em diversos eventos que pretendiam homenagear o Monsenhor, foi a figura de Natanael. Filipe conduz Natanael a Jesus. Jesus viu Natanael e disse dele: «Aí vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.» (Jo 1, 45).
Começou como pároco em Arcos, Nagosa e Longa e, quando foi necessário prover à paroquialidade de Sernancelhe, tendo havido alguns sacerdotes relutantes em aceitar a missão, o então Pe. Germano aceitou com alegria e generosidade, ao ponto de D. João da Silva Campos Neves ficar verdadeiramente surpreendido, apresentando-o, nas entrelinhas, como um sacerdote a imitar e, por conseguinte, cedo o chamou para Diretor do Seminário Maior de Lamego.
Obediência descontraída
Monsenhor Germano era um homem bom, descontraído, simples, sem trejeitos, próximo de todos, com um sorriso constante, mesmo nas situações mais dolorosas, não deixava de sorriso com serenidade. Tranquilo, homem de oração e de um via interior riquíssima. Assumiu, em Igreja, diversas missões, sem regatear. Ligado à Ação Católica, ao Apostolado de Oração, procurava estar sintonizado com a Igreja, com o Papa e com o seu Bispo. Sempre.
Um dos episódios que pessoalmente recordo e mostram a sua postura como sacerdote aconteceu em 2000, quando fui ao Paço Episcopal, como sacerdote recém ordenado para receber “ordens” de D. Jacinto Botelho, então Bispo de Lamego. Antes de subir, Monsenhor Germano disse-me: aceita! Não sei o que te vão propor, mas aceita. Foi para isso que fomos ordenados, para acolher em obediência o que o nosso Bispo nos pede. Foi o que sempre fiz. Aceita. Por estas ou outras palavras semelhantes, era o seu propósito, o seu compromisso, como Padre disponível para servir a Igreja.
Passo ligeiro, sorriso aberto
Uma característica bem conhecida de Monsenhor era o seu passo ligeiro. Parecia estar sempre em movimento, a andar, com pressa, não empatava ninguém. Curiosamente, tinha sempre tempo para falar, para sorrir, para perguntar, para dar um ou outro conselho. Como paroquiano de Penude, lembro a sua atenção à catequese, à Cruzada, às Horas de Adoração e à Novena do Outeiro, manhã cedo, a reuniões, por exemplo, com os missionários que passavam. No final da Missa, a catequese… Monsenhor passava por todos os grupos para algumas palavras, uma pergunta, um comentário. Fora da Igreja, se nos encontrava, tinha sempre uma pagela/estampa com a imagem de um Santo, com uma oração.
Quando os momentos eram mais tensos, e embora não recorde muitos, não passava muito tempo sem que voltasse com um sorriso alegre, feliz, rasgado. O Senhor Abade apresentava-se verdadeiramente como padre, falando das coisas de Deus, sem deixar de ser amigo, próximo, simples.
O melhor pároco, para a melhor paróquia
Continuo a pensar do mesmo modo. O Pároco atual é o melhor pároco que a Diocese de Lamego nos poderia dar para pároco de Penude. O Pároco anterior, o Sr. Abade, padre, cónego, monsenhor Germano foi o melhor pároco que a Diocese tinha para a melhor paróquia do mundo.
Foi no tempo dele que entrei no Seminário, com a sua recomendação, tendo-se empenhado em me arranjar duas Madrinhas que acompanharam o meu trajeto no Seminário, com a responsabilidade de rezarem por mim, de me darem bons conselhos e de me ajudarem também monetariamente. Além, claro, das expensas suas, com uma teoria interessante: livros sempre novos e estimados, pois se os compras vais dar-lhes mais valor e vais tratá-los melhor. Adquiri sempre muitos livros, o montante necessário aparecia, sem fazer sentir, nunca, que era um favor ou uma obrigação. No que o conheci, foi sempre um sacerdote muito desprendido, despojado (talvez também poupado, o que se via pelas roupas e pelo calçado).
Deus lhe dê o descanso dos justos! Que na Igreja celeste interceda especialmente pela Diocese de Lamego e pelos seus sacerdotes, para os quais descontraidamente foi um modelo, testemunhando a alegria de ser sacerdote e de servir a Igreja.
Pe. Manuel Gonçalves, in Voz de Lamego, ano 89/33, n.º 4520, 23 de julho de 2019