Foi uma noite cheia e em cheio, a do passado dia 27 de setembro. No auditório do Museu Diocesano, o Padre Anselmo Borges congregou uma numerosa assembleia para debater a (sempre) pertinente questão dos valores. «Já não há valores?» era a pergunta que servia de mote a uma palestra que «prendeu» a atenção de todos os presentes.
O pretexto imediato foi o aparecimento do seu mais recente livro «Conversas com Anselmo Borges. A vida, as religiões, Deus», editado pela Gradiva. A temática dos valores, presente nesta obra, foi amplamente tratada com a profundidade e a sapiência comunicativa a que o preclaro Autor nos habituou. Introduzindo o conceito de «neotenia», o homem foi apresentado como um «fazer-se» que tem oportunidade de se tornar, pela sua conduta, em algo belo ou não. Aliás, a estética foi magistralmente descrita como um caminho para a ética. Os valores não estão em extinção. Estão, sim, a sofrer um longo e acelerado processo de transmutação, que, em muitos casos, podem beirar alguma dissolução.
O dinheiro, por exemplo, que não deixa de ser um valor, é muitas vezes alçado à categoria de divindade. Convocando alguns dos autores mais eminentes da antiguidade e da atualidade, o Padre Anselmo Borges, lastimou a dificuldade que, hoje em dia, temos em pensar e, portanto, em perguntar. Acentuou a necessidade de recentrar o comportamento nos valores morais, éticos e espirituais que pertencem ao perene. É preciso não descurar o valor da pessoa humana, ao serviço da qual a organização política das sociedades tem de priorizar a sua ação.
Dada a globalização em que nos encontramos, a sociedade precisa de encontrar bases para uma «governança» global que possa equacionar e resolver os problemas comuns da humanidade. Não nos podemos limitar à técnica e ao dinheiro. Citando Adriano Moreira, Anselmo Borges defendeu que «aquilo que mais falta hoje são os valores».
Após uma sequência de perguntas e respostas, o Autor disponibilizou-se a autografar alguns exemplares do seu livro, cuja leitura vivamente se recomenda.
Releve-se o facto de o Padre Anselmo Borges ser natural de São Pedro de Paus (Resende), tal como seu irmão Padre Tomás Borges, pertencendo ambos à Sociedade Missionária da Boa Nova.
Pe. João António, in Voz de Lamego, ano 89/41, n.º 4528, 1 de outubro de 2019