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Os Franciscanos reduzem a sua presença e ação em Lamego

No dia 24 de novembro de 2019, os franciscanos da OFM deixaram oficialmente de residir em Lamego, ficando  a igreja de São Francisco entregue aos cuidados da Ordem Franciscana Secular, sua proprietária, de acordo, necessariamente, com as orientações do Bispo da Diocese. Uma decisão nada fácil de tomar, e mais difícil ainda de pôr em prática, tendo em conta a carga emocional que envolve os franciscanos em terras de Lamego, e concretamente nesta igreja de São Francisco.

A comunicar oficialmente esta decisão, esteve o Ministro Provincial, Frei Armindo Carvalho, que presidiu às Eucaristias da manhã deste domingo. Não podendo presidir à da tarde, deixou por escrito, o respetivo decreto, que foi lido para conhecimento dos fiéis. Para manter ainda uma “presença franciscana” em Lamego, os Irmãos passarão a assistir a igreja de São Francisco a partir da fraternidade franciscana de Vila Real, às quintas-feiras de manhã e aos domingos à tarde. Serviços excecionais serão acordados entre a fraternidade da Ordem Franciscana Secular (OFS) e a fraternidade de Vila Real. Esta decisão será válida pelo menos até abril de 2022, ocasião do novo Capítulo Provincial da OFM.

O acordo, que oficialmente assumimos e comunicámos, foi fruto de diálogo entre o Ministro Provincial da OFM e o Bispo da Diocese, assim como com a Fraternidade da OFS e a Fraternidade OFM de Vila Real.

A comunicação oficial deste acontecimento foi feita nestes termos:
Longa, já de oito séculos, quase ininterruptos (não fossem os Decretos de expulsão das Ordens Religiosas, de 1834, e depois da implantação da República, em 1910, com o mesmo movimento) a história dos filhos de São Francisco – franciscanos – em Portugal, continental, insular e ultramarino, é uma verdadeira epopeia de missão evangélica, implantando a maior rede de conventos no País. Uma história que floresce rapidamente, graças à mentalidade do povo português e, sobretudo, à força evangelizadora de Cristo: “Ide e pregai o Evangelho”. Na intuição e sensibilidade de São Francisco, a vida humana não tem sentido, nem qualquer valor duradoiro, a não ser pela vivência do Evangelho: lição eterna do Deus Eterno, que criou o homem para ser eterno como Ele.

A história tem os seus ritmos próprios, e o movimento franciscano multissecular não se isolou do ritmo da história. Toda a história é edificante, sobretudo quando ligada ao Senhor da Vida e da História. Linda a história franciscana, ontem como sempre, atual na sua vivência e mensagem.

Hoje mais interpelante, como nos disse o saudoso Papa São João Paulo II, dirigindo-se aos Consagrados na Igreja: “Vós não tendes apenas uma história gloriosa para recordar e narrar, mas uma grande história a construir! Olhai para o futuro, para o qual vos projeta o Espírito, a fim de realizar convosco ainda coisas maiores”.

Compete-nos a nós, no hoje que somos e temos, na sociedade que integramos, discernir com o Espírito e escrever a Sua história, que é eterna, mas que hoje conta connosco.

Recordamos São Paulo: «não ambicionamos atingir metas de perfeição, mas continuar a correr, pensando numa coisa: esquecendo o que fica para trás, lançarmo-nos para a frente corajosamente» (Filip 3,8). E a Bíblia, por mais de 300 vezes nos adverte: “Não tenhais medo, eu estou convosco, não temais”. Certos de que “o mundo está sempre por fazer", e somos nós hoje a fazê-lo. Mas, porque servos e não donos, lembra Jesus: “quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer” (Lc 17,10). Certos também que, como diz São Paulo (2 Cor. 4,7-15): “trazemos em vasos de barro o tesouro do nosso ministério, para que se reconheça que um poder tão sublime vem de Deus e não de nós; diz a Escritura ´acreditei e por isso falei’; tudo isto é por vossa causa, para que uma graça mais abundante multiplique as ações de graças, para glória de Deus”.

Conscientes das nossas fragilidades, que incluem êxitos e fracassos, erros e verdades (estas, por vezes, dolorosas!), comunico-vos oficialmente o que já conheceis, sobre a continuidade da nossa presença franciscana nesta igreja de São Francisco de Lamego. Com a morte do nosso querido irmão Frei Arnaldo Taveira, a nossa presença aqui, como ele mesmo dizia em vida, tornou-se muito frágil. O nosso carisma é a vida em fraternidade. Não é possível um frade viver sozinho. Essa a razão por que o Frei Amador Carreira foi já transferido oficialmente para a fraternidade mais próxima: a de Vila Real. Em longa partilha com essa fraternidade, com a fraternidade da Ordem Franciscana Secular e com o Bispo da Diocese, D. António Couto, em espírito de fé e discernimento, concluímos que, durante estes três anos que restam até ao próximo Capítulo Provincial, que acontecerá em abril de 2022, não nos é possível manter a presença física de irmãos nesta residência da Ordem Franciscana Secular, e servir esta igreja regularmente e em exclusivo, como o temos feito, passaram já 100 anos ininterruptamente. Lamentamos! Mesmo assim, e de acordo com o que acertámos com Vila Real, a Ordem Franciscana Secular e o Sr. Bispo, continuaremos, a partir de Vila Real, a assegurar a nossa presença e ação às quintas-feiras da parte da manhã e aos domingos à tarde. Temos esperança que Deus providenciará, para que este espaço religioso, tão privilegiado – como dizia D. António Couto, pulmão espiritual da cidade – mantenha o culto e a atividade religiosa.

Vivemos também a esperança de tempos melhores, em que as famílias voltem a olhar para o futuro da sociedade e da Igreja, e sintam que, sem filhos, não há continuidade. E a Igreja, sem filhos motivados para os valores do Reino, continua a não corresponder aos desígnios do seu Criador e Senhor.

Convido-vos a elevar comigo a Deus esta prece:
“Altíssimo, Omnipotente e Bom Senhor, nós te damos graças pelo dom da nossa vocação franciscana, e pela história que o Espírito, desde Francisco, foi escrevendo ao longo de oito séculos de vida franciscana, em Portugal e no mundo. Infunde em nós o mesmo Espírito, para que saibamos ler os sinais dos tempos e dos lugares aonde nos chamas, e deixemos que escrevas, também hoje, novas páginas de graça. Ámen!”

A todos os lamecenses deixo votos de um Santo Natal 2019 e de um Novo Ano 2020 cheio da paz de Deus.

 

Frei Armindo de Jesus Ferreira Carvalho
Ministro Provincial Ofm
in Voz de Lamego, ano 90/03, n.º 4538, 10 de dezembro de 2019

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