Decorreu no passado dia 2 de dezembro, no Seminário de Lamego um evento inédito a nível nacional.
Dado o desafio quer do Papa Francisco, quer do Sr. Bispo de Lamego, D. António Couto, para se fazer um caminho sinodalidade, a ação, inicialmente pensada para o Clero da Diocese de Lamego, foi alargada para os Agentes de Pastoral e de Ação Social. A sinodalidade é geradora de uma consciência eclesial, de uma fé pensada e motivada que torna todo o batizado protagonista da vida e da missão da Igreja.
O Departamento Diocesano de Justiça e Paz e o Departamento Diocesano para a Vida e Ministério dos Sacerdotes organizaram as Jornadas de formação para o Clero, que contou com a presença de cerca de 75 pessoas, entre elementos do Clero, Leigos e Técnicos de Ação Social e técnicos da área de proteção de dados.
A abertura das jornadas esteve a cargo do Sr. D. António Couto que estimulou para que este exemplo de organização conjunta de diferentes Departamentos Diocesanos passar a ser uma prática comum, sendo, também desta forma, um caminhar em conjunto.
Desafiou os presentes para que as Jornadas servissem para “pensar as melhores soluções para os problemas que encontremos”, sendo que “o contributo de cada um é importante” no caminho do “servirmos uns aos outros”.
E, de facto assim foi. Durante a manhã as intervenções versaram sobre o tema "violência doméstica", havendo lugar para a reflexão sobre a caraterização e atuação face à violência doméstica e sobre o papel do Cristão como promotor de solução.
Na parte da tarde, a temática abordada foi o Regulamento Geral de Proteção de Dados, elemento que as organizações têm que se habituar a conhecer e encontrar neste mesmo regulamento oportunidades.
A violência doméstica é um flagelo que não tem reflexo numa única camada social, faixa etária ou numa região definida. É uma realidade universal, que urge conter. Uma das missões do clero é o de acompanhar os oprimidos, pelo que estas jornadas poderão ser vistas como um referencial para encontrar formas de identificar situações de violência e apresentar algumas soluções.
No final das intervenções quer da Drª. Elisa Brites, da APAV de Vila Real e da Drª. Maria do Rosário Carneiro, Vice-Presidente de Comissão Nacional de Justiça e Paz, tanto o Clero como os diferentes agentes de Pastoral e de Ação Social ficaram com algumas pistas para a caraterização, formas de identificação e de ação para fazer face às situações com que se poderão deparar.
A violência doméstica é um crime de natureza público, pelo que todos, crentes ou não crentes, temos a responsabilidade de não olhar para o lado, para não sermos cúmplices dessa mesma violência.
A família é um lugar de harmonia e não de desrespeito.
Amar é centrar no outro.
Quando da violência doméstica resulta o homicídio, as crianças ficam órfãs de pai e mãe, porque um é a vítima e o outro ficará preso.
O princípio basilar de toda a ação é o princípio da autonomia da vítima, para o qual é necessário promover uma decisão informada.
Existem várias possibilidades de intervenção, nomeadamente através das casas de abrigo espalhadas um pouco por todo o Portugal, ou através do contacto telefónico da APAV 116 006.
O cristão tem sido convidado pelo Papa Francisco a sair da sua zona de conforto, a estar atento, olhando - vendo e a agir.
Uma pessoa vítima de violência doméstica tem a sua felicidade e liberdade perdidas, mas também todo e qualquer ato de violência doméstica tem um impacto brutal quer a nível social, de saúde e mesmo em termos de desempenho profissional.
As paróquias são espaços de proximidade, a violência doméstica é um problema global, mas com uma intervenção local, pelo que as paróquias podem ser locais diferenciadores na deteção e tratamento deste flagelo.
Como dizia a fundadora do Lar de Santa Helena, das Irmãs Adoradoras, em Évora, “devemos estar atentos a quem chora nos últimos bancos da igreja”.
Os Párocos presentes e seguramente todos os Párocos da Diocese de Lamego, foram desafiados a promover ações concertadas, para, por exemplo, em toda a diocese num determinado dia, as Homilias terem por tema a Violência Doméstica, para dessa forma, serem criadas condições para que as vítimas cheguem até aos Sacerdotes.
Da parte da tarde, o tema abordado foi o Regulamento Geral da Proteção de Dados, vulgarmente conhecido como RGPD, nomeadamente na responsabilidade e oportunidades para as Paróquias, sendo o orador o Dr. Luís Ferreira Mendes que é o Técnico para a Proteção de Dados da Arquidiocese de Évora.
Este técnico apresentou de forma clara o que é o RGPD, como este Regulamento Europeu condiciona a vida de cada um e apresentou algumas soluções de como as Paróquias poderão interagir com os fiéis.
Este processo de adaptação das paróquias para respeitar o RGPD é necessariamente um caminho longo, mas que tem de ser efetuado e que é mesmo uma oportunidade de reorganização.
A organização agradece aos oradores e aos participantes pelo tempo frutuoso passado e agradecemos também aos patrocinadores (Montepio, Padaria Rina, Queijos Paiva, Quinta do Valado) pela confiança depositada.
António Lucena, Departamento Diocesano Justiça e Paz,
in Voz de Lamego, ano 90/03, n.º 4538, 10 de dezembro de 2019