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Pe. José Manuel de Almeida apresentou o novo livro de D. António

Saudações
Gostaria de começar por dizer da minha alegria em estar em Lamego a apresentar esta obra do Bispo de Lamego. Cumprimento os participantes neste lançamento, em especial as pessoas que conheço e estimo, as leigas dinâmicas e os comprometidos leigos desta Diocese, bem como os meus irmãos padres.
Agradeço vivamente o convite que me foi endereçado pela Dra. Zita Seabra, num amável telefonema de há umas semanas. A minha surpresa foi total. Mas acho que não me fiz rogado.
Ao autor, conheci-o em Roma nos anos 80; e foram dele as primeiras provas de doutoramento a que me foi dado assistir. Lembro-me de alguns pormenores como se fosse ontem (voltarei a este ponto no final da minha intervenção). Depois, cruzámo-nos de diversos modos em diferentes lugares, desde júris académicos no Porto, até encontros já nesta sua Diocese, quer no âmbito da Cáritas, quer no da Pastoral da Saúde.
Mas, nestas coisas da apresentação de livros, há uma regra simples que, no geral, deve ser seguida: convém que, quando o autor é relativamente desconhecido, quem apresenta seja uma personalidade notória; e, pelo contrário, quando o autor é uma referência, que aquele que o apresenta seja quem, em rigor, careça da verdadeira apresentação. Encontramo-nos, obviamente, nesta situação.

Blocos graníticos
Diz o Senhor D. António Couto, na Introdução desta obra, que «o que agora se entrega ao leitor são blocos graníticos de som e de sentido que foram ganhando corpo e alma, ao longo dos anos, e foram sendo modelados por ventos e marés. Por isso se apresentam limpos e sem poeiras, ásperos e rudes, sem outros temperos senão o sol, o sal, os ventos e a chuva». E termina a Introdução com a seguinte nota: «Os ingredientes são amplamente bíblicos, com evidente luminosidade levinasiana, que convocam múltiplas interações e acordes culturais» (p.7).
E é o que efetivamente se encontra neste volume.
De facto, aqueles que seguem os escritos de D. António Couto ou que, numa circunstância ou noutra o ouviram falar, reconhecerão este ou aquele trecho de um dos 16 capítulos deste livro.
Os que tiverem melhor memória - ou que, como eu, puderem pesquisar na net - encontram a semente do próprio título num texto do blog Mesa de Palavras de abril de 2009:
“Daqui, desta planura: leitura do tempo em que vamos” (https://mesadepalavras.wordpress.com/?s=Daqui+desta+planura).
Nesse post encontramos também - para os que gostam de arqueologia - numerosos vestígios de diversos textos que compõem esta obra, dando razão ao que há pouco referia: diversos “blocos” “modelados” “ao longo dos anos” aqui na sua forma acabada, “limpos e sem poeiras”.
No que me diz respeito recordava a comovente narrativa da página 20, sobre Baruc e a Palavra de Deus, por mim escutada pela primeira vez no Seminário dos Olivais, num dos dias destinados à formação contínua do clero de Lisboa. [ler pág. 20]

Ler o tempo
O Concílio Vaticano II, com uma expressão de sabor evangélico (Mt 16,3-4),  convida-nos a saber ler os «sinais dos tempos» (GS, 4), os indícios significativos da presença e da ação de Deus na história.
Como em qualquer leitura, para se poder ler, há que saber ler.
Para isso, ter aprendido a ler.
Ler o tempo não é coisa fácil. A proposta que nos é apresentada parte da observação de que vivemos no mundo em que o privilégio do “eu” parece ser regra e em que, por isso, terá desaparecido o “outro”.
Com as palavras de Umberto Eco, diria: «É o outro, o seu olhar, que nos define e nos forma. Nós (tal como não conseguimos viver sem comer ou sem dormir) não conseguimos compreender quem somos sem o olhar e sem a resposta do outro. […] Poder-se-ia morrer ou enlouquecer se se vivesse numa comunidade em que cada membro tivesse decidido, sistematicamente, nunca olhar para nós e comportar-se como se não existíssemos» (Cinco escritos morais, Algés 1998, Difel, 93).
Em diálogo com Emmanuel Lévinas e muitos outros pensadores - filósofos, teólogos, biblistas - temos, ao longo de todas estas páginas, muitos caminhos da leitura do tempo que nos são abertos pelo Senhor D. António Couto. O mesmo é dizer que encontramos muitos convites para irmos por esses percursos, tentando fazer a nossa pessoal leitura do tempo.
Uma leitura do tempo em que vamos.
Não do tempo em que estamos. Como se de um lugar se tratasse. Não é “espaço”, mas “tempo”. E, por isso, tempo em que vamos na poética expressão de António Couto.
Creio que poderíamos utilizar a expressão “o tempo em que vivemos”... Mas nunca do tempo em que estamos. Em que ficamos.
Habitualmente, quando ouvimos a expressão “tempo em que vamos”, espera-se um verbo transitivo: tempo em que vamos fazer ou aprender, em que vamos cozinhar, vamos ser atacados; em que vamos receber ou vamos dar.
Com o Senhor D. António Couto colhemos esta originalidade: o nosso, é o “tempo em que vamos”.

Tempo
Quando dizemos tempo de que estamos a falar?
O passado que é o nosso, o nosso futuro... como os vivemos?
A página que vos vou ler corresponde a extraordinária (e cénica) apresentação em Roma, de que vos falei no início. [ler pág. 127]

Tempo de ler
Uma breve nota final: dizer que para “ler o tempo” é preciso tempo para ler.
Agora é tempo de me calar e, de acordo com o tentei propor-vos, convidar-vos à deliciosa leitura desta obra de leitura do tempo em que vamos.


Pe. J. M. Pereira de Almeida, in Voz de Lamego, ano 90/10, n.º 4545, 4 de fevereiro de 2020

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