QUARESMA:
QUARENTA DIAS PARA ENCHER DE AMOR
1. São quarenta dias de intensa convivência com o Senhor Ressuscitado no meio de nós, perto de nós, connosco, a caminhar connosco, a sentar-se connosco à beira do poço da água viva, do vinho novo, do pão quente a sair do forno, da mesa ainda agora posta, onde reluz uma toalha branca, e onde há lugar para todos. Porque o Senhor está connosco e é por nós, e é para nós, estes quarenta dias têm de ser dias de amor, de esmola, de oração, de conversão, de reconciliação, de jejum, isto é, de pausa e bemol, até compreendermos bem que não é nossa a mesa nem a toalha nem o vinho nem o pão, que tudo nos é dado, todo o pão nos dado, não é nosso, muito menos meu, e é para partilhar com todos, desencadeando entre nós um amor e-norme, sem norma nem regra nem medida.
2. «Porque assim diz aquele que está nas alturas, em lugar excelso, que habita a eternidade, e santo é o seu nome: “em lugar alto e santo Eu habito, mas também junto do humilhado e do que não tem espaço nem para respirar, a fim de dar vida aos que não têm nem espaço para respirar, e para dar vida aos que têm o coração despedaçado”» (Isaías 57,15).
3. É, portanto, preciso e urgente parar no meio do mercado em que mecanicamente nos movemos e existimos, e até adoramos, como quem, advertida ou inadvertidamente, presta culto ao «deus deste mundo» (2 Coríntios 4,4), que nos seduz e nos suga, mas não nos ama nem nos salva. Quarenta dias para tomarmos consciência dos maus negócios que temos andado a fazer! Quarenta dias para passarmos das coisas para as pessoas (sendo que, muitas vezes, também coisificamos as pessoas!), para tomarmos consciência de que a vida verdadeira corre por outras pautas, e requer de nós que comecemos a ensaiar um cântico novo, para podermos começar a cantar outra vez com inefável alegria: «Minha força e meu canto é o Senhor! A Ele devo a minha liberdade!» (Êxodo 15,2).
4. «Aí está o tempo favorável! Aí está o dia da salvação!» (2 Coríntios 6,2). Abre, pois, meu irmão, o teu coração a esta torrente de alegria. Não esqueças o perdão, que Deus sempre dá com abundância. Aprende a dá-lo tu também, conforme a lição que aprendes do nosso Bom Deus. Acima de tudo, meu irmão, não te esqueças de levar a vasilha do teu coração à fonte do Amor e da Palavra de Deus, e enche-a até transbordar em obras boas e belas para que todos possamos beneficiar delas. É esse o Amor que cobre a multidão dos pecados (Provérbios 10,12; 1 Pedro 4,8).
5. Como é habitual, renovamos sempre em cada Quaresma que passa o esforço da nossa Caridade, que se traduz na oferta da nossa esmola quaresmal que reforça os laços fraternos que nos unem, e que vai levar algum conforto aos nossos irmãos de longe e de perto. Chama-se a este esforço da nossa Caridade renúncia quaresmal, que por amor oferecemos no Ofertório do Domingo de Ramos na Paixão do Senhor.
6. Quero informar as comunidades da nossa Diocese de Lamego que a Coleta da esmola da nossa Caridade quaresmal realizada no passado ano de 2019 somou 24.367,70 euros, dos quais destinámos 12.367,70 euros para o nosso Seminário, 7.000,00 euros para a Paróquia de Maria Auxiliadora de Pemba (Moçambique), e 5.000,00 euros para a Paróquia de Nossa Senhora das Dores (Cabo Verde).
7. Neste ano e nesta Quaresma de 2020, apelo a todos os meus irmãos espalhados pelas 223 Paróquias da nossa Diocese, que nos sintamos comprometidos com os cristãos sofridos da Diocese de Alepo, na Síria, nossos irmãos, cujas dores, carências e necessidades superam em muito tudo o que possamos imaginar. O resultado da nossa generosidade será feito chegar às mãos de D. Joseph Tobji, arcebispo de Alepo. Será este o principal destino do abraço da nossa generosidade quaresmal. Destinaremos também uma pequena parte para aliviar as despesas que há no campo da formação, sobretudo dos jovens, agora que está diante de nós a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) de 2022 e a preparação para esse evento requerida. O anúncio do destino da nossa Caridade Quaresmal será feito, como de costume, em todas as Igrejas da nossa Diocese no Domingo I da Quaresma, realizando-se a Coleta no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor.
8. Com a ternura de Jesus Cristo, saúdo, no início desta caminhada quaresmal de 2020, todas as crianças, jovens, adultos e idosos, catequistas, acólitos, leitores, salmistas, membros dos grupos corais, ministros da comunhão, membros dos conselhos económicos e pastorais, membros de todas as associações e movimentos, departamentos e serviços, todos os nossos seminaristas, todos os consagrados, todos os diáconos e sacerdotes que habitam e servem a nossa Diocese de Lamego ou estão ao serviço de outras Igrejas. Saúdo com particular afeto todos os doentes, carenciados e desempregados, e as famílias que atravessam dificuldades. Uma saudação muito especial a todos aqueles que tiveram de sair da sua e da nossa terra, vivendo a dura condição de migrantes.
Lamego, 26 de Fevereiro de 2020, Quarta-Feira de Cinzas
Na certeza da minha oração e comunhão convosco, a todos vos abraça o vosso bispo e irmão, + António.