VIVER COM PAIXÃO
A SEMANA SANTA E A PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO
1. Na sua oração e bênção extraordinária à cidade de Roma e ao mundo (urbi et orbi), no passado dia 27, o Papa Francisco estendeu diante de todos nós o episódio da tempestade acalmada por Jesus, como aparece narrada no Evangelho de São Marcos 4,25-31. É de Jesus a iniciativa de entrarmos todos na barca, mas não vamos só nós, pois é dito que nós «pegámos em Jesus assim como estava», na barca. Se nós «pegámos em Jesus assim como estava», e se é Ele que nos manda entrar na barca, então também Ele «pega em nós assim como estamos»: impotentes, desarmados, cheios de medo, com uma fé vacilante! Levanta-se entretanto no nosso mar imenso a tempestade, e, enquanto nós esbracejamos, aflitos, Jesus vai a dormir tranquilamente à popa (lugar de comando da embarcação), com a cabeça deitada numa almofada! Desde este patamar do mar encapelado da Covid-19 que nos assalta e ameaça submergir, é compreensível que gritemos a Jesus, suplicando-lhe que nos salve no meio desta tempestade.
2. É, pois, dever nosso, amados irmãos e irmãs espalhados no mar grande da nossa Diocese de Lamego, nesta hora de aflição, não apenas rezar, mas fazer da oração uma luta, «lutar com a oração» (Romanos 15,30), como têm de fazer, cada um com as suas armas, nesta hora de combate sem precedentes, aqueles que estão investidos em autoridade, os médicos e enfermeiros, voluntários, cuidadores, forças de segurança, associações humanitárias e todos os que estão na linha da frente para acudir a quem mais necessita. Amados irmãos e irmãs, a nós compete «a luta da oração», sem tréguas, até que Deus oiça os nossos gritos, «ainda que nos faça esperar» (Lucas 18,7), ou saiamos desta luta a coxear como Jacob (Génesis 32,25-32).
Pega em nós, Senhor,
Pega em nós assim como somos,
Assim como estamos,
Perdidos e cansados
Neste mar imenso em que nos afogamos!
Concede-nos, Senhor Jesus,
Que neste tempo de dor e desalento,
Nos ajoelhemos aqui,
Nos refugiemos aqui,
Ao pé da tua Cruz de Luz,
À espera de encontrar algum sustento.
3. É neste contexto, amados irmãos e irmãs, que nos preparamos para celebrar com paixão a Semana Santa e a Páscoa da Ressurreição do Senhor. Exorto os sacerdotes em exercício de cuidado pastoral paroquial a celebrar os mistérios do Senhor numa igreja paroquial, respeitando as normas emanadas pela Conferência Episcopal, de 20 de março, que respeitam o Decreto, de 19 de março, da Congregação do Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, aprovado por mandato do Sumo Pontífice apenas para este ano de 2020. Assim:
3.1. Aconteça a celebração dos mistérios litúrgicos do Tríduo Pascal, sem a participação física dos fiéis, no cumprimento das indicações das autoridades eclesiásticas e civis e de saúde, e segundo a real possibilidade.
3.2. As principais celebrações aqui visadas são a “Ceia do Senhor”, na tarde de 5.ª Feira Santa, a “Paixão do Senhor”, na tarde de 6.ª Feira Santa, e a “Vigília Pascal”, ao anoitecer de Sábado Santo.
3.2.1. No dia de 5.ª Feira Santa, a título excecional, concede-se a todos os Presbíteros a faculdade de celebrar a Missa da Ceia do Senhor, sem o concurso de povo, em lugar adequado.
3.3. No que se refere aos sacerdotes em exercício de cuidado pastoral paroquial, avisem-se os fiéis da hora de início das celebrações, para que, nas suas casas, se possam sentir unidos como corpo celebrativo, através da oração; onde for possível, assegure-se a transmissão destas celebrações ao vivo através dos meios telemáticos que, nas atuais circunstâncias, muito podem ajudar a estabelecer e fortalecer laços de fraternidade e comunhão.
4. O Bispo Diocesano celebrará na Igreja Catedral a Missa da Ceia do Senhor, às 17h00 de 5.ª Feira Santa, a Paixão do Senhor, às 17h00 de 6.ª Feira Santa, e a Vigília Pascal, às 21h00 de Sábado Santo. Estas celebrações serão transmitidas por meios telemáticos.
A ter em conta:
A) A Missa Crismal, habitualmente celebrada na manhã de 5.ª Feira Santa, pelo Bispo e seu Presbitério, ficará este ano adiada para data oportuna. Conservem-se, portanto, os Óleos consagrados e benzidos no ano passado, até que possa acontecer a celebração da Missa Crismal no ano em curso.
B) Na Missa da Ceia do Senhor, celebrada na tarde de 5.ª Feira Santa, omite-se este ano o lava-pés, e, no final da celebração, omite-se também a procissão eucarística e guarda-se o Santíssimo Sacramento no Sacrário.
C) Tendo em conta as circunstâncias dolorosas que hoje vivemos, na celebração da Paixão do Senhor, na tarde de 6.ª Feira Santa, no momento da Oração Universal, será introduzida uma prece especial pelos que se encontram em perigo, pelos doentes e pelos defuntos. Esta Prece, ao cuidado dos Bispos, será oportunamente comunicada.
D) Ainda na celebração da Paixão do Senhor, no momento da Adoração da Cruz, os que estão presentes na celebração abstêm-se de a beijar, manifestando a sua veneração com um gesto de profunda reverência.
E) Na celebração da Vigília Pascal, omite-se a Bênção do Fogo, e não serão celebrados os Sacramentos da Iniciação Cristã. F) No Domingo de Páscoa da Ressurreição, às 12h00, em todas as igrejas da Diocese, toquem-se festivamente os sinos, sinal do anúncio da vitória de Cristo sobre a morte, e de esperança para todos os homens e mulheres que partilham este tempo de sofrimento e de comunhão entre todas as comunidades e pessoas da nossa Diocese.
5. Jesus Cristo não nos deixa nunca sós, abandonados e órfãos (João 14,18). É, com certeza, confrangedor e comovente vermos a Basílica e a Praça de São Pedro vazias, como é confrangedor e comovente vermos as nossas igrejas vazias em horas de celebração, sobretudo neste tempo Santo da Semana Santa e da Páscoa da Ressurreição. Mas bem sabemos que o Ressuscitado enche todos os espaços e deles transborda, enche todas as vidas e delas transborda. Jesus Cristo não nos deixa sós e abandonados. Vemo-lo nas ruas, nos hospitais, nos nossos Lares de idosos, nas nossas casas, nas farmácias,
nos mercados, no rosto de tanta gente de boa vontade que luta e reza no meio desta tempestade. Corações ao alto, portanto, amados irmãos e irmãs, e continuemos a invocar a proteção de São Sebastião, nosso Padroeiro e poderoso Intercessor contra a peste, a fome e a guerra, e de Santa Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, Saúde dos Enfermos, que aqui invocamos com o título de Nossa Senhora dos Remédios. Rezemos sempre com mais vigor e amor a mais antiga oração conhecida, dirigida à Virgem Maria:
«À vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita».
Em tudo e sempre, sobretudo nesta hora de luta que reclama de nós todo o empenho e solicitude, contai sempre com o vosso bispo e irmão, + António, que a todos acompanha e abençoa.
Lamego, 29 de março de 2020, Domingo V da Quaresma