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Patronato da Mêda celebra 70 anos

Entrevista ao diretor, Pe. Basílio da Assunção Firmino, conduzida Andreia Gonçalves


A obra do Instituto D. Maria do Carmo Lacerda Faria, mais conhecida por Patronato da Mêda, nasceu do coração generoso e solidário da sua fundadora, D. Maria do Carmo Lacerda Faria, mais conhecida, entre as gentes da Mêda, como D. Carminho.
Esta distinta senhora, nascida no ano 1897, na Mêda, filha da nobre família Lacerda Faria, desde cedo começou a distinguir-se no seio da comunidade medense. Senhora de uma elevada formação moral, vivia a sua fé de uma forma tão profunda, que a sua preocupação era servir a comunidade paroquial, (sendo a grande animadora e catequista da paróquia da Mêda nesses tempos) e estar/ajudar os mais necessitados, sobretudo as crianças e as famílias que, passando por momentos difíceis no período pós II Guerra Mundial, encontravam nesta “bendita alma”, o pão e a Palavra, como alimento do corpo e do espírito. A Sra. D. Carminho era o rosto e o coração do próprio Deus de Misericórdia nestas terras pobres da Mêda.
Neste contexto, de guerra e de pobreza, ela alimentou um sonho: o de criar uma instituição que ajudasse no serviço aos pobres desta paróquia, de modo que pudessem ter uma vida mais digna. Assim nasceu o Patronato da Mêda, esta obra de amor.


O Padre Basílio Firmino dirige esta entidade que agora completa 70 anos. São mais de duas décadas dedicadas ao Patronato da Mêda. Como tem corrido esta função?
Certamente que ao fim de 22 anos de serviço voluntário em prol desta instituição, reconheço que todos os desafios e vitórias alcançadas se devem ao poder da Graça de Deus e a alguma colaboração do ser humano e que os erros cometidos foram lições de aprendizagem, para melhor fazermos na próxima vez. Sinto me feliz e realizado, por puder celebrar 70 anos da existência desta casa e fazer parte da sua história, que continuará a escrever-se nos tempos vindouros.


Quais são os princípios e os desafios que têm zelado o funcionamento da instituição?
Os princípios que, desde o início, regem esta casa são os princípios humanistas e cristãos do Evangelho, seguindo o espírito das bem aventuranças e das obras de misericórdia: "Felizes os que choram porque serão consolados" e "Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados" (Mt 5, 4-6); Dar de comer a quem tem fome, etc...
Muitas vezes torna-se difícil seguir estes princípios e orientações, pois temos a impressão que estamos nesta barca a remar contra a maré.
Por isso, considero que o maior e o mais urgente desafio que estamos a viver neste nosso mundo, cada vez mais afastado de Deus e caracterizado pela laicidade, (defendendo a exclusão da influência da religião na cultura e na educação), é o de salvar e apoiar estas escolas católicas que tentam transmitir valores e formar pessoas. Não é uma tarefa fácil, sem constrangimentos nem dificuldades; trata-se de um desafio arrojado e um árduo caminho que temos de percorrer, salvaguardando aquilo em que a Igreja foi pioneira e soube deixar como legado, a cultura e a educação, os valores e os princípios humanistas e cristãos.


Uma palavra aos que arduamente trabalham, para levar a bom porto esta missão...
A palavra que gostaria de deixar neste momento a todos os colaboradores desta obra e que arduamente trabalham por esta causa, não podia ser outra se não, um MUITO OBRIGADO. A GRATIDÃO é a memória que fica no coração e que nunca morre ou se apaga.
A primeira lembrança nesta missão vai para o Senhor Vigário, Rev. Padre José Maria de Lacerda, que entrando na paróquia da Mêda no ano de 1949, foi o grande timoneiro desta causa, servindo o Patronato (e estas comunidades) durante 49 anos.
Depois é justo que me refira ao papel importante que as Irmãs Missionárias Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus tiveram desde o início desta instituição e nos serviços paroquiais, como por exemplo, a catequese.
O inconformismo/irreverência e o dinamismo que são próprios dos jovens, precisam de ter um apoio e uma ajuda de uma pessoa mais velha e de confiança, para levarmos por diante todo e qualquer projeto. Foi o que aconteceu comigo, aquando da minha entrada na paróquia da Mêda e por inerência de funções assumir a direção desta instituição. Essa pessoa foi e é o António João do Nascimento, que desde início (e espero que durante mais anos ainda), representou e representa o meu braço direito, para num tempo diferente pudermos dar as respostas certas, abrindo os horizontes da instituição à modernidade. Não podia deixar de ter uma palavra de gratidão, de consideração e de muita amizade por toda a sua colaboração. Uma palavra de congratulação e de muita estima também para com aqueles, que diariamente, com profissionalismo e dedicação, tratam, acolhem e educam as nossas crianças: as educadoras e as auxiliares da ação educativa. Assim como não posso esquecer os antigos alunos, os amigos e os benfeitores desta instituição, os quais continuam a ver no Patronato, uma casa que os ensinou a ser alguém.
Para todas estas pessoas, dirijo o meu reconhecimento e consideração.


Quais têm sido os pontos que o deixam satisfeito e as maiores dificuldades?
Realmente já passaram 22 anos da minha entrada na comunidade paroquial da Mêda e também como presidente da direção desta instituição do Patronato. Na altura, eu era um jovem com 24 anos de idade e como legado, vir substituir o mui conhecido e respeitado Sr. Vigário da Mêda (como ele gostava que o tratassem) que tanto tinha realizado em prol desta gente, era uma responsabilidade enorme assumir a orientação da paróquia da Mêda e do Patronato.
Ao fim destes 22 anos de serviço em prol desta instituição, sinto a consciência do dever cumprido, na certeza que muito se fez e certamente muito ficou ainda por fazer. Somos humanos, ou seja, com limitações mas também com potencialidades. Acredito numa verdade que para mim se tornou certeza desde início: quando Deus nos pede uma missão, Ele coloca pessoas ao nosso lado para nos ajudar, capacita-nos e dá-nos força para a cumprirmos, mesmo quando nos sentimos pequenos e frágeis. Mas, quando temos fé e acreditamos que é possível, a nossa pequena barca pode navegar em alto mar no meio de tormentas. É este o lugar da graça e do poder de Deus na nossa frágil condição humana.
A nível de obra física, e porque era imprescindível ter novas/renovadas infraestruturas, que pudessem dar uma resposta digna e atualizada às muitas necessidades: construímos de raiz um Jardim de Infância e um salão polivalente (em 2004); ampliamos e reconstruímos as instalações da Creche (em 2008); no espaço do antigo quintal levamos por diante um parque de estacionamento e de acolhimento às famílias, de modo que pudessem entregar e recolher os seus filhos em segurança; remodelamos todos os restantes serviços da instituição. Não podemos deixar de referir que, todas estas obras foram realizadas sem qualquer comparticipação do Estado ou de qualquer entidade pública. Também conseguimos o aumento dos acordos de cooperação, junto dos serviços da Segurança Social (como capacidade máxima de resposta cerca de 110 crianças nas duas valências de creche e jardim de infância), o que contribuiu para um aumento do número de educadoras e de auxiliares da educação, levando assim à fixação de mais famílias no nosso concelho.
A nível de obra espiritual, e porque esta nunca se dá por concluída, vamos continuando a lançar sementes de valores e educação no coração destes pequeninos, para que se tornem pessoas felizes e comprometidos na construção de um futuro melhor. Penso que, de um modo geral temos respondido com dedicação e profissionalismo às exigências que nos foram confiadas.


E projetos de futuro?
Relativamente a projetos de futuro, anuncio alguns que consideramos importantes: primeiro, na comemoração dos 70 anos de existência do Patronato, no próximo mês de setembro, iremos
fazer o lançamento de um segundo livro, da autoria conjunta do Dr. Manuel Daniel e Dr. Jorge Saraiva, a qual vai retratar toda a história desta instituição.
Temos, também, a intenção de restaurar o espaço dos antigos lagares para aí se construir um pequeno museu em memória da fundadora D. Maria do Carmo. Pretendemos, ainda, alargar o âmbito das respostas sociais da instituição a outras valências para além da área da infância.
O Patronato continuar a ser o lugar onde a formação cristã da paróquia da Mêda se desenvolve, através da catequese, das Escolas de Fé, de conferências e formações para os agentes pastorais e para as famílias cristãs. E reconhecendo a vida singular e votada em prol dos mais necessitados destas terras, ver da possibilidade de começar a tratar do processo de beatificação da D. Maria do Carmo Lacerda Faria.
Mas, o nosso projeto mais importante e no qual queremos continuar a colocar todas as nossas capacidades e forças, é ajudar cada criança que entra na nossa instituição a tornar-se uma pessoa de bem e de valores, uma obra de amor.


in Voz de Lamego, ano 90/17, n.º 4552, 24 de março de 2020

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