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CEIA DO SENHOR

1. Queridos irmãos e irmãs em humanidade e em Cristo, que, desde as vossas casas, acompanhais através da Rádio Clube de Lamego e das janelas telemáticas disponíveis, esta celebração da Ceia do Senhor a partir da nossa Igreja Catedral.

2. Deixai-me saudar em primeiro lugar, e com particular carinho, os meus irmãos mais debilitados, os idosos que vivem nos nossos Lares e aqueles que tão fervorosamente os servem, cumprindo “sacramentalmente” o mandato do Senhor: «Como Eu vos fiz, fazei vós também!» (João 13,15). Em verdade vos digo, meus irmãos e irmãs: vós não sois números ou dígitos de um qualquer somatório abstrato! Vós sois membros benditos do Corpo de Cristo! Vós, os que tendes fome e sede e lágrimas e estais fragilizados e doentes, e também vós que, nos nossos lares e domicílios heroicamente os servis, vós, uns e outros, ficai a saber que «levais no vosso corpo as marcas [os estigmas] da paixão de Jesus!» (Gálatas 6,17b). Conclusão óbvia, igualmente paulina: «Que ninguém vos menospreze!» (Gálatas 6,17a). Estendo esta saudação em Cristo aos reclusos, às crianças, aos jovens, aos médicos, aos enfermeiros, aos técnicos de saúde, aos voluntários, às forças de segurança e associações humanitárias e a todos os que, em qualquer recanto da nossa Diocese, com os seus serviços diários, mercados, farmácias, recolha do lixo, que são também serviços de amor, velam para que a chama do amor e da esperança não se extinga. Em verdade vos digo que não se extinguirá!

3. Deixai que abrace agora, com a mesma ternura, aquela que há em Cristo Jesus (Filipenses 1,8), todos os meus irmãos no sacerdócio, que, no espaço paroquial que lhes está confiado, asseguram que a luzinha da fé, da esperança e da caridade, que é a Luz de Cristo, que é a Luz do mundo, continue a reluzir e a dissipar as trevas do medo, do medo do escuro, do medo do escuro interior, nesta “noite do mundo” que se abateu sobre nós. E eu também vos digo a vós, meus amigos: «Não perdereis a vossa recompensa!» (cf. Marcos 9,41)

4. Saúdo também, com particular afeto, o Sr. D. Jacinto, meu irmão em humanidade, em Cristo e no episcopado, a cumprir “confinamento social”, como todos nós.

5. Não vou saudar estes bancos vazios, aqui, à minha frente (sensação confrangedora e comovente!), mas quero dizer-vos, meus queridos irmãos e irmãs, que não imaginais a falta que fazeis! A falta que fazemos quando não estamos lá!

6. Sabei, porém, irmãos e irmãs, que este vazio imenso não chega para tolher a nossa fé, pois é certo que Jesus Cristo está lá sempre a bater à nossa porta, à porta do nosso coração, para repartir connosco, com cada um de nós, um bocadinho do pão da sua Ceia! É assim que é tecida e confirmada a teia da nossa fraternidade em Cristo e da nossa comunhão e comunidade em Cristo.

7. Sim, hoje celebramos a Ceia do Senhor. E bem vemos que não precisamos sequer de um lugar, pois Ele é o Senhor de todos os lugares. Os homens levaram muito tempo, muitos séculos, a preparar este lugar, esta Catedral, sobrecarregada de beleza. Mas bem sabemos que não somos nós que preparamos o lugar. Apenas nos compete perguntar a Jesus: «Mestre, onde queres que façamos os preparativos para a Ceia?» (cf. Marcos 14,12). E dado que perguntamos ao Mestre, torna-se então evidente que só podemos prosseguir com a indicação que Ele nos der. E, ainda assim, quando chegamos lá, àquela sala alta, àquela sala do Cenáculo, já encontramos tudo pronto, alcatifado e com as almofadas no lugar! (Marcos 14,13-15). É claro que é Ele que prepara para nós o lugar: «Vou preparar-vos um lugar», diz Jesus (João 14,2). E o lugar não é aqui nem ali. Jesus explica: «Nem neste monte nem Jerusalém adorareis o Pai» (João 4,22). Chama-se Pai o Lugar novo preparado e indicado por Jesus, que explica ainda mais: «Eu estou no Pai, e vós em mim, e eu em vós» (João 14,20).

8. Aí está então, amados irmãos e irmãs, como não precisamos de um lugar feito por nós, por nós preparado. Precisamos, sim, do Lugar novo e do Modo novo, que é Jesus, que vive no Pai e em nós. O Lugar novo e o Modo novo é, então, Jesus. E é à volta d’Ele que se reúne a Comunidade nova, que é a Igreja, que reparte o Pão novo e ázimo, que é Jesus, como reparte a Palavra viva do Pai, que é também Jesus, que só faz o que viu fazer ao Pai, e só diz o que ouviu dizer ao Pai.

9. Queridos irmãos e irmãs em humanidade e em Cristo Jesus, celebrar a Ceia do Senhor, «fazer isto em memória de Jesus», é encher este mundo de Luz e de Esperança. Nascerá assim um mundo novo, um modo novo de viver à maneira de Jesus: «Como Eu vos fiz, fazei vós também!». Amém.

 

Lamego, 09 de abril de 2020, Quinta-Feira Santa
+ António, vosso bispo e irmão

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