A FRAGILIDADE HUMANIZA A VIDA
1.1. As pessoas, as famílias, os corpos intermédios e a sociedade
Reconhecer e aceitar a própria fragilidade e cuidar das fragilidades em que ela se manifesta torna a pessoa mais humana, é condição indispensável de humanização pessoal. Conhecer e aceitar a fragilidade do outro, suportar, acolher e perdoar as suas consequências e cuidar das fragilidades em que ela se manifesta, ajuda o outro a ser mais humano e humaniza as relações, que se tornam fonte de humanização. Isto é particularmente relevante para a vida das famílias.
Cuidar dos mais frágeis humaniza-os, humaniza aquele que cuida e humaniza a sociedade.
A qualidade humana de uma sociedade avalia-se na qualidade dos dinamismos de solicitude e estratégias de cuidado dos seus membros mais frágeis. Só é verdadeiramente humana uma sociedade compassiva, capaz de promover a justiça social e os mecanismos da solidariedade que a reequilibrem quando as consequências da fragilidade humana partilhada por todos se abatem sobre alguns.
1.2. Os cristãos/a Igreja
A Igreja, nascida da compaixão de Cristo bom pastor pelas multidões cansadas e oprimidas, que pelas suas chagas nos curou, é chamada a reconhecer e cuidar das suas próprias fragilidades e a ser, na sociedade, sacramento de salvação para o mistério da fragilidade humana nas suas múltiplas dimensões e expressões, desenvolvendo processos de proximidade junto das pessoas e grupos que mais fragilidade(s) experimentam. A capacidade profética da Igreja na cultura e na sociedade atual depende da decisão de dar prioridade aos mais frágeis no seu seio, ouvindo a sua voz e promovendo a sua integração participante.
É necessário cultivar e propor:
• uma saudável espiritualidade do sofrimento
• uma nova e transversal pastoral da fragilidade e do cuidado
• a promoção das condições para uma competente participação evangélica e evangelizadora nos debates em curso na cultura e na sociedade contemporâneas:
- o debate antropológico sobre a fragilidade humana
- o debate ético sobre a vulnerabilidade e o cuidado
- os debates nos fóruns de definição das consequentes opções político-económico-sociais.
Sirvam de orientação estas palavras do Papa Francisco, na sua homilia no Domingo da Misericórdia (19 de abril): “Queridos irmãos e irmãs, na provação que estamos a atravessar, também nós, com os nossos medos e as nossas dúvidas como Tomé, nos reconhecemos frágeis. Precisamos do Senhor, que, mais além das nossas fragilidades, vê em nós uma beleza indelével. Com Ele, descobrimo-nos preciosos nas nossas fragilidades. Descobrimos que somos como belíssimos cristais, simultaneamente frágeis e preciosos… Esta pandemia, porém, lembra-nos que não há diferenças nem fronteiras entre aqueles que sofrem. Somos todos frágeis, todos iguais, todos preciosos.”
Oração pela Vida:
Ó Maria,
aurora do mundo novo,
Mãe dos viventes,
confiamo-Vos a causa da vida:
olhai, Mãe,
para o número sem fim
de crianças a quem é impedido nascer,
de pobres para quem se torna difícil viver,
de homens e mulheres
vítimas de inumana violência,
de idosos e doentes assassinados
pela indiferença
ou por uma suposta compaixão.
Fazei com que todos aqueles que creem
no vosso Filho
saibam anunciar com desassombro e amor
aos homens do nosso tempo
o Evangelho da vida.
Alcançai-lhes a graça de O acolher
como um dom sempre novo,
a alegria de O celebrar com gratidão
em toda a sua existência,
e a coragem para O testemunhar
com laboriosa tenacidade,
para construírem,
juntamente com todos os homens
de boa vontade,
a civilização da verdade e do amor,
para louvor e glória de Deus Criador
e amante da vida.
S. João Paulo II, Evangelium Vitae, n.º 105