O novo Diretório para a Catequese foi apresentado pelo Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização no passado dia 25 de junho de 2020, dia da memória litúrgica de São Turíbio de Mogrovejo, responsável pelo enorme impulso dado à evangelização e catequese no século XVI. É herdeiro do "Diretório Geral para a Catequese" de 1971 e do "Diretório Geral para a Catequese" de 1997. É, por isso, o terceiro documento desde o Concílio Vaticano II porque, como disse D. Rino Fisichella, devido à velocidade do tempo, vinte anos corresponde a meio século. Contém os traços fundamentais dos documentos pós-conciliares, nomeadamente a Evangelii Nuntiandi de Paulo VI e a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium do Papa Francisco.
O Papa Paulo VI afirmava que “a Igreja existe para evangelizar” e o Papa atual diz que “eu sou uma missão”! O Diretório destaca a íntima união entre o primeiro anúncio e o amadurecimento da fé, à luz da cultura do encontro. A Igreja tem diante de si dois grandes desafios: “a cultura digital e a globalização da cultura”. É-nos confiada a todos a missão de proporcionar, pela beleza do sagrado e da arte, a experiência do encontro com Deus vivo e real. O conhecimento do amor cristão deverá levar aqueles que o acolheram a tornarem-se, também eles, discípulos evangelizadores.
Conscientes de que todo o batizado é chamado a ser “discípulo missionário” devemos preocupar-nos por encontrar os instrumentos necessários e a linguagem adequada para comunicar a fé! Os princípios a ter em conta são três: “testemunho, misericórdia e diálogo”. Testemunho, porque "a Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração"; misericórdia, “por meio da qual a verdadeira catequese torna crível a proclamação da fé”; diálogo, “livre e gratuito, que não obriga, mas, partindo do amor, contribui para a construção da paz”. Assim, - explica o Diretório – “a catequese ajuda os cristãos a dar pleno sentido à sua existência”. A vida ganha um novo esplendor e uma alegria profunda, mesmo no meio das provações. A “fé não é algo que se recupera nos momentos difíceis da vida mas um ato de liberdade que envolve toda a nossa história”.
O novo Diretório está dividido em três partes: a primeira, dedicada à "Catequese na missão evangelizadora da Igreja", fala da formação dos catequistas; a segunda, intitulada "O processo da Catequese", frisa a importância da família: parte integrante e ativa da evangelização (por razões várias muitos pais deixaram de comunicar a fé aos seus filhos e são, muitas vezes, os avós a assumir esta missão); e a terceira, dedicada à "catequese nas Igrejas particulares", ressalta o papel das paróquias, definido como "exemplo de apostolado comunitário": catequese criativa e ensino da religião”.
É dado destaque, ao “ecumenismo, ao diálogo inter-religioso com o Judaísmo e o Islamismo”. A catequese deve "despertar o desejo de unidade" entre os cristãos, para poder apresentar-se como “instrumento crível de evangelização". Quanto ao Judaísmo, convida-se a manter um diálogo para combater o antissemitismo e promover a paz e a justiça.
Diante do fundamentalismo violento, que, às vezes se defronta com o Islamismo, a Igreja exorta a favorecer o conhecimento e encontro com os muçulmanos. Em um contexto de pluralismo religioso, a Catequese deve "aprofundar e fortalecer a identidade dos fiéis", promovendo o impulso missionário, mediante o testemunho e um diálogo "afável e cordial".
É feita ainda uma reflexão sobre a “cultura digital”, hoje "natural", que mudou a linguagem e as hierarquias dos valores em escala global. Tal cultura é rica de aspetos positivos, apesar do seu "lado sombrio", que pode causar solidão, manipulação, violência, cyber-bullying, preconceito e ódio.
Além da cultural digital, o Documento aborda também a ciência e a tecnologia, que devem ser orientadas para melhorar as condições de vida da família humana, a defesa da criação, o bem comum e o direito dos mais fracos; trata ainda da bioética, partindo do pressuposto de que "nem tudo o que é tecnicamente possível é moralmente admissível", partindo do princípio da sacralidade e inviolabilidade da vida humana, em contraste com a cultura da morte; aconselha a discernir entre intervenções, manipulações terapêuticas e eugenia; sugere a tratar, numa perspetiva de fé, “a sexualidade, como resposta à chamada original de Deus".
Pe. António José Ferreira, in Voz de Lamego, ano 90/30, n.º 4564, 23 de junho de 2020