Nos primeiros dias de 1994, o Pe. José Alves Amorim foi apresentado no Santuário de Nossa Senhora da Lapa, como reitor, e na paróquia de Quintela da Lapa, como pároco. Chegava para suceder ao Padre Manuel Vieira, que viria a falecer repentinamente alguns dias depois. Por causa disso costuma dizer que “não teve tempo para se inteirar da realidade com o antecessor”, o que em nada perturbou a missão que assumiu e o serviço que começou a prestar.
Nestes quase cumpridos vinte e sete anos como servidor da Senhora da Lapa, o Padre Amorim não cessou de cuidar e divulgar este santuário mariano para melhor acolher os peregrinos de perto e de longe. Os trabalhos de remodelação foram muitos, sempre com esforço e dedicação. Não lhe faltaram dificuldades, sempre contrariadas e ultrapassadas com determinação.
Ao longo do século XX, o santuário de Nossa Senhora da Lapa teve a dita de ter ao seu serviço sacerdotes dedicados que aqui viveram o seu ministério e por estas terras e com estas gentes gastaram as suas vidas.
Padre Francisco Pinto Ferreira
Desde finais do século XIX e até 1952, o responsável pelo santuário foi o Padre Francisco Pinto Ferreira, ainda hoje presente na memória dos mais idosos. Nascera em S. Romão, Resende, a 23 de outubro de 1871 e viria a falecer no dia 19 de agosto de 1954. Aqui chegou para ser um dos professores do colégio, reativado recentemente, sendo depois nomeado capelão do santuário.
A sua visão para a região, o seu esforço na preservação e divulgação do culto a Nossa Senhora da Lapa, a sua ação para proteger o santuário durante os anos conturbados da primeira República, o seu trabalho para melhorar os acessos ao santuário em tempos tão difíceis e sempre tão longe de apoios… bem justificam a memória agradecida deste povo e da Igreja que serviu.
Padre Manuel Vieira dos Santos
Nascido em Nespereira, Cinfães, aqui encontrou o Padre Ferreira, com quem conviveu algum tempo e a quem sucedeu como reitor do santuário. Aqui faleceu, repentinamente, em janeiro de 1994, aos 73 anos de idade. Uns dias antes conversara com o seu sucessor, Padre J. Amorim, a quem prometera “por ao corrente de tudo”, mas a morte não lho permitiu.
Durante quarenta anos, os peregrinos habituaram-se à sua maneira de ser e de estar, percebendo, desde cedo, a sua grande disponibilidade para servir a Mãe, o seu sentido prático para resolver situações, a singularidade das suas palavras, a sua maneira franca e popular de dizer e dizer-se.
Padre José Alves Amorim
O Padre J. Amorim é natural de Tarouca, onde nasceu no lugar do Castanheiro do Ouro, a 30 de agosto de 1930. Após a ordenação sacerdotal foi nomeado para Chavães, Tabuaço, onde permanecerá alguns anos. Depois foi enviado para as paróquias de Ferreirim, Macieira e Fonte Arcada, no concelho de Sernancelhe, onde residirá até 1996.
Nos finais de 1993 recebeu a nomeação para reitor do santuário da Lapa, onde foi apresentado nos primeiros dias de 1994. Durante dois anos, com a ajuda de um sacerdote recentemente ordenado, ainda conseguiu conciliar a nova missão com a presença no antigo espaço pastoral.
Agora, aos noventa anos, consciente dos limites que a idade vai impondo, viu cumprido o seu pedido para ser substituído na missão de reitor. Mas vai continuar aqui, habitando nos mesmos espaços e acompanhado pelas Irmãs, vivendo o seu sacerdócio neste santuário que tão bem conhece, junto da Mãe, acolhendo os peregrinos e auxiliando segundo as suas possibilidades.
Gratidão humana
Nesta hora, mesmo que desnecessária aos seus olhos, aqui fica uma palavra de reconhecimento e gratidão por tudo quanto já viveu e concretizou neste santuário. Sem desprimor para quem o antecedeu, não faltam testemunhos dos que viram a transformação concretizada, falando de um antes e de um depois e atribuindo-lhe a responsabilidade pela obra feita.
Nem sempre as instituições sabem reconhecer e agradecer, oportunamente, a quem as serve, concedendo-lhes algum protagonismo e atribuindo-lhe algum destaque. É verdade que o melhor tributo será sempre a bem-aventurança eterna, mas também sabe bem ser reconhecido pelos seus enquanto peregrina na terra.
No último domingo, 20 de setembro, o Padre Amorim acompanhou a apresentação do seu sucessor (Padre Joaquim Dionísio, que assume também a paroquialidade de Quintela da Lapa), feita pelo Vigário Geral da nossa diocese, Mons. Joaquim Dias Rebelo. Na eucaristia, a que presidiu, agradeceu, em nome da diocese e da Igreja, o muito que o Padre Amorim aqui viveu, testemunhou e edificou ao longo destes quase 27 anos.
O senhor Padre José Alves Amorim vai continuar entre nós e aqui o poderemos encontrar sempre. Agradecemos-lhe tudo o que já fez e, antecipadamente, agradecemos já o muito que ainda vai fazer neste Santuário, sob o manto materno da Senhora da Lapa e para maior glória de Deus.
Pe. Joaquim Dionísio, Padre, in Voz de Lamego, ano 90/41, n.º 4575, 22 de setembro de 2020