No passado dia 7 de janeiro de 2021, realizou-se uma formação dirigida aos sacerdotes das dioceses de Lamego e Vila Real. Contou com a participação de cerca de 50 sacerdotes, sendo 16 da Diocese de Lamego e aconteceu por via digital, através da plataforma ZOOM.
O tema da formação era, sem dúvida, muito abrangente, refletindo sobre o Novo Diretório Geral para a Catequese. O Orador foi Juan Carlos Carvajal, sacerdote e Professor Universitário em Madrid.
O Conselho Pontifício para a promoção da Nova Evangelização, que tem competências no setor da Catequese, apresentou este novo diretório, que sucede ao Diretório Geral de 1971 e ao Diretório Geral da Catequese de 1997. O documento foi aprovado pelo Papa Francisco a 23 de março de 2020, memória litúrgica de S. Turíbio de Mongrovejo, que no século XVI deu um forte impulso à evangelização e à catequese.
Este novo documento traz um novo modelo de formação e comunicação na cultura digital, na globalização da transmissão da fé e na atenção ao mundo e ao outro, em particular às pessoas portadoras de deficiência.
Destaca-se o estreito vínculo entre a evangelização e a catequese, que sublinha a união entre o primeiro anúncio (querigma) e o amadurecimento da fé (iniciação mistagógica), à luz da cultura e do encontro. Segundo o orador, “o Novo Diretório apresenta-se como um instrumento de inculturação e de globalização da cultura sagrada, uma vez que esta ao longo do tempo se foi desvanecendo”. A evangelização é sempre a mesma, mas sempre nova, pois “a Igreja é por natureza missionária” diria o orador, e quando se fala em missão, “fala-se de pessoas divinas, fala-se do Pai, fala-se do Filho e fala-se do Espírito Santo que é o grande motor e impulsionador da Igreja em saída e em missão”. A missão da Igreja “é um serviço do Espírito Santo e só sob a perspetiva trinitária é que poderemos ver a missão da Igreja e da catequese”.
E prosseguiu o orador, partindo o número quatro do documento: “Como consequência, relendo a natureza e a finalidade da catequese, o Diretório oferece algumas perspetivas, fruto do discernimento realizado no contexto eclesial destas décadas, que estão transversalmente presentes em todo o documento, quase como se fossem a sua teia principal.
– Reitera-se a firme confiança no Espírito Santo, que está presente e age na Igreja, no mundo e no coração dos homens. Isto confere ao compromisso catequético uma nota de alegria, serenidade e responsabilidade. - O ato de fé nasce do amor que deseja conhecer cada vez mais o Senhor Jesus, que vive na Igreja; por esta razão, iniciar os crentes na vida cristã equivale a introduzi-los no encontro vivo com Ele.
– A Igreja, mistério de comunhão, é animada pelo Espírito e torna-se fecunda para gerar para uma vida nova. Com este olhar de fé, reafirma-se o papel da comunidade cristã enquanto lugar natural onde se gera e amadurece a vida cristã.
– O processo da evangelização, e nele a catequese, é antes de mais uma ação espiritual. Isto exige que os catequistas sejam verdadeiros «evangelizadores com Espírito» e fiéis colaboradores dos pastores.
– Reconhece-se o papel fundamental dos batizados. Na sua dignidade de filhos de Deus, todos os crentes são sujeitos ativos da proposta catequética, não recetores passivos ou destinatários de um serviço; por esta razão, são chamados a tornar-se autênticos discípulos missionários.
– Viver o mistério da fé em termos de relação com o Senhor tem implicações para o anúncio do Evangelho. Com efeito, requer a superação de todas as contraposições entre conteúdo e método, entre fé e vida.”, ou seja, “podemos e devemos enraizar a Igreja de Jesus Cristo que atua pelo Espírito Santo, de forma a que nos tornemos testemunhas credíveis da fé, devendo os sacerdotes estar atentos à forma como os catequistas semeiam porque a semente só germina quando entra em contato com a Palavra de Deus e a catequese só acontece quando há o verdadeiro encontro com Cristo”.
De facto, a catequese concreta de Cristo tem de ter Cristo vivo no seu centro. Na missão de Cristo estão presentes todas as Pessoas Trinitárias.
O desafio da linguagem está presente, em especial, na segunda parte do Diretório, onde percebemos que a catequese tem importância na vida das pessoas a começar pelas próprias famílias.
A “cultura de inclusão” e acolhimento de deficientes e migrantes fazem parte deste novo documento de uma forma mais dinâmica. O texto olha para as prisões como uma “autêntica terra missionária”: para os presos a catequese será o anúncio da salvação em Cristo que é perdão e libertação.
Outra parte é dedicada à catequese na Igreja particular que, emerge sobretudo do papel das paróquias, associações, movimentos eclesiais e escolas católicas. Os catequistas são convidados a “educar as pessoas sobre o bom uso do digital, em particular os jovens. Gostaria aqui de destacar que uma boa parte dos participantes desta formação já tem alguma idade. No entanto adaptou-me ao mundo digital e às novas tecnologias. Nisto fazem ver, em muito, aos sacerdotes mais jovens como eu. Tiveram o desejo e o gosto de se colocarem no desenvolvimento do mundo atual, principalmente neste tempo difícil de pandemia que todos vivemos e que não é fácil para ninguém”.
O querigma abre necessariamente a percursos de aprofundamento, abre portas essenciais ao mistério de Deus. A catequese, segundo o orador, “não é para santos, mas para fazer santos. Esta responsabilidade recai sobre os catequistas e sobre os sacerdotes” (cf. 113 DGC).
O documento foca ainda a ciência e a tecnologia para a melhoria das condições de vida e o progresso da família humana. No campo bioético, os catequistas precisarão de formação especifica que parte do princípio da sacralidade e inviolabilidade da vida humana e contrasta com a cultura da morte.
A conversão ecológica, o compromisso social e a proteção ao emprego são outros dos temas abordados neste documento.
Costuma ver-se a catequese como o “patinho feio” da Igreja. No entanto há que recorrer ao envio missionário de Cristo para a Igreja. A missão da Igreja é fazer discípulos e se a Igreja não faz discípulos através da catequese, então, não está a cumprir a sua verdadeira missão e por isso são muito importantes nas comunidades os chamados catequistas de permanência.
Entrar no mundo digital ajuda-nos a chegar muito mais longe e, neste seguimento, deveremos tentar “criar pequenos grupos intergeracionais onde se possa partilhar a vivência da mesma fé, nunca desvalorizando a dimensão celebrativa, pois a nossa cultura está a perder cada vez mais o sentido do sagrado que temos de recuperar”, sublinhou o Pe. Juan Carlos Carvajal.
A catequese é, sem dúvida, um tema muito sensível para a qual devemos olhar de uma forma menos escolarizada, mas mais vivida e testemunhada.
A formação terminou com umas palavras finais do Pró Vigário Geral da Diocese de Lamego e do Bispo de Vila Real D. António Augusto, rezando em comunhão a oração do Angelus pelos sacerdotes presentes e ausentes e de forma especial pelos que partiram com o vírus da Covid 19.
Por Pe. Fabrício Pinheiro, in Voz de Lamego, ano 91/11, n.º 4593, 26 de janeiro de 2021