SURTOS ATIVOS DE FÉ, DE AMOR E DE ESPERANÇA
1. Amados irmãos e irmãs, estamos outra vez no íngreme, luminoso e santo caminho da Quaresma, com vistas para a Cruz e para a Páscoa. O tempo em que vamos é duro, é de pandemia, às vezes parece tudo escuro, e sabemos que alguns de nós, os mais desprotegidos e vulneráveis, nossos familiares, nossos amigos, nossos irmãos e irmãs, tombaram vencidos pelo vírus. E outros continuam a cair. O tempo é, pois, de luto e… de luta! É difícil este tempo, mas é também tempo favorável, isto é, tempo de favor e de graça. Porque sabemos que não estamos abandonados, à deriva. Sabemos que o Ressuscitado está connosco, vai connosco, cuida de nós, orienta os nossos passos, mesmo quando caímos e pensamos que estamos perdidos no caminho.
2. Ele Vai connosco e chama-nos a caminhar com Ele. Quando se aproxima a sua paixão, morte e ressurreição, Ele não se limita a dar-nos conhecimento dessa realidade, do caminho que está para fazer sozinho. Não se limita a pôr-nos ao corrente do que se vai passar, mas envolve-nos e empenha-nos nessa caminhada: «Vamos subir a Jerusalém…», diz Ele para nós em Mateus 20,18, e não simplesmente: «Vou subir a Jerusalém…». Este chamado “terceiro anúncio da paixão” é um título indevido. «Vamos» não é propriamente um anúncio ou notícia que Ele nos dá acerca d’Ele. É um programa de vida para Ele e para nós!
3. Na verdade, é só fazendo com Ele este caminho de paixão, morte e ressurreição, que nos tornamos «membros da família de Deus» (Efésios 2,19), «filhos de Deus» (1 João 3,2), «filhos no Filho» (Gaudium et spes, n.º 22), participantes da vida divina pela graça da adoção filial (Gálatas 4,6-7; Romanos 8,14.16-17; Efésios 1,5), contemporâneos do Ressuscitado, contemporâneos e irmãos, sendo verdade que o Ressuscitado nos trata por seus «irmãos» (Mateus 28,10; João 20,17), e «não se envergonha de nos chamar irmãos» (Hebreus 2,11). Acreditar é ser contemporâneo e irmão do Ressuscitado! É, portanto, aqui que assenta a nossa fé, é aqui que reside a nossa esperança, é daqui que deve brotar o esforço da nossa caridade.
4. É aqui, no tempo e no espaço das nossas paróquias, comunidades, das nossas ruas e das nossas casas, das nossas famílias, que devemos «abrir e semear sulcos de paz e de esperança», para darmos cumprimento ao nosso programa para o ano pastoral em curso. De facto, prescindimos de eventos diocesanos, de grandes celebrações presenciais, dadas as condições sanitárias restritivas que já então se viviam e cujo agravamento se adivinhava. Esta Quaresma e o tempo da Páscoa que se lhe segue pode e deve ser um tempo de sementeira rua a rua, casa a casa, coração a coração. Peço a todos que não se poupem a canseiras e que avivem a criatividade. Certo que há surtos ativos de COVID-19. Haja também surtos ativos de Jesus Cristo! Cada cristão tem hoje a obrigação de ser um surto ativo da fé, do amor e da esperança que há em Jesus Cristo.
5. Já sabemos, pelas condições sanitárias que nos rodeiam, que viveremos e celebraremos esta Quaresma de 2021 de forma muito especial. Já o ano passado, em 2020, fomos abalroados por esta pandemia em plena Quaresma, e tivemos de inventar novas formas de celebrar a nossa fé. Tínhamos então acertado o destino da nossa renúncia quaresmal para ajudar os cristãos sofridos da Diocese de Alepo, na Síria, nossos irmãos, cujas dores, carências, necessidades e abandono superam em muito tudo o que possamos imaginar. Dado o rumo virtual que tivemos que dar às nossas celebrações quaresmais e da Semana Santa, apenas foi possível recolher, como resultado da nossa renúncia quaresmal, a quantia de 1.339,20 euros. Renovo, portanto, para o ano em curso o mesmo destino do esforço da nossa caridade quaresmal, que juntaremos ao do ano passado, para fazermos chegar com alegria às mãos de D. Joseph Tobji, arcebispo de Alepo. Dadas as carências também entre nós sentidas, e acentuadas com a pandemia, destinaremos também uma parte dos nossos donativos para o “Fundo SOS de Acolhimento e Resposta”, criado na nossa Diocese em 03 de Dezembro passado. O anúncio do destino da nossa Caridade Quaresmal será feito em todas as Paróquias da nossa Diocese, e pelos meios possíveis, no Domingo I da Quaresma, e os donativos serão recolhidos ao longo da Quaresma e da Semana Santa, sendo que, em circunstâncias normais, a respetiva Coleta teria lugar no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor.
6. Saúdo com afeto todos os meus irmãos e irmãs das 223 paróquias espalhadas pelo chão da nossa Diocese. Todos mesmo, desde os mais velhinhos até aos mais pequenos. Ver-nos-emos logo que possível. Entretanto, a todos desejo, do fundo do meu coração, saúde, paz, paciência, resistência, e que a ninguém falte a graça de Deus e a mão fraterna de um irmão.
Lamego, 17 de Fevereiro de 2021, Quarta-Feira de Cinzas
Na certeza da minha oração e comunhão convosco, a todos vos abraça o vosso bispo e irmão, + António.