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Homilia de D. António Couto na Ordenação Diaconal

DEDICAÇÃO, SERVIÇO, SIM

   
1. A nossa amada Igreja de Lamego assinala hoje a Dedicação desta Casa-mãe a Deus, nosso Pai, a quem foi solenemente entregue a 20 de novembro de 1776, após a realização de diversos lanços de obras. Mas já antes, desde tempos bem remotos, aqui se reuniam os seus filhos, aqui se dedicavam e entregavam a Deus, à escuta da sua Palavra, à fração do pão, à comunhão e à oração. Exulta, pois, Igreja de Lamego, mas lembra-te sempre que a Dedicação desta Casa-mãe a Deus, nosso Pai, reclama também de ti, hoje e sempre, dia após dia, a tua plena Dedicação a Deus. Por isso, aqui estamos hoje, festivamente reunidos como filhos e irmãos, para celebrar com a Igreja inteira a Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, a que acresce hoje também a Ordenação Diaconal do Eleito EDUARDO JORGE MARQUES PINTO, da Paróquia do Santíssimo Salvador, de Resende.

2. A tua missão, o teu serviço, caríssimo Eleito Eduardo, não é andar contra, mas sim em contracorrente com o mundo, tal como ele hoje se apresenta. A tua missão, o teu serviço, caríssimo Eleito Eduardo, é SERVIR, segundo os moldes do Evangelho. Deixa que te recorde, caríssimo Eleito, meu irmão Eduardo, não o caixilho, mas o retrato dos servos feito por Jesus no Evangelho. Diz Jesus:

 

«Assim vós também, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: “Servos inúteis (doûloi achreîoi) somos. Fizemos o que devíamos fazer”» (Lucas 17,10).

 

Caríssimos irmãos no sacerdócio e no diaconado, caríssimo Eleito, caríssimos irmãos e irmãs batizados e crismados, é a hora de olharmos de frente as palavras. Ouvimos: «Depois de terdes feito tudo…, dizei». Não sei se se trata de um processo pedagógico. Mas é seguro que, sob uma tal condição, a maioria de nós nunca chegaria a dizer uma palavra que fosse! Mesmo assim, a ser-nos concedido dizer alguma coisa, seria: «Servos inúteis somos». E o certo é que, outra vez para espanto nosso, não se trata de uma fórmula desprestigiante, mas, antes, bem indicadora da suprema dignidade em que por graça somos investidos. E aqui peço a todos os meus irmãos em Cristo, presentes nesta Casa-mãe, que se esforcem por me acompanhar nos dois ou três saltos lógicos que vou ter de fazer, pois é por aí que passa a força do Evangelho. Aí vem o primeiro. «Servos inúteis somos». Servos, portanto, não inúteis, mas «servos apenas servos», que não passam de servos, sem contrato, sem direitos adquiridos, sem reivindicações, que não sobem na carreira, servos que se cumprem e se esgotam como servos! E aí vem o segundo salto. «Servos apenas servos», portanto, servos servidos pelo seu Senhor, como ensina a parábola do Evangelho em outro lugar, bem assinalado pelo narrador com estas palavras eloquentes:

 

«Felizes os servos que o Senhor, à sua chegada, encontrar assim vigilantes. Em verdade vos digo que se cingirá, os fará reclinar à mesa, passará por entre eles, e os servirá» (12,37).

 

Agora é conveniente ler e reler o imenso texto do chamado Servo de YHWH (Isaías 52,13-53,12). Profetas profetizados, servos servidos por Deus em favor de nós todos, a nós todos, boquiabertos e espantados (Isaías 52,14-15). E aí vem o terceiro salto. Servos servidos por Deus em favor de nós todos, a nós todos, errantes, tresmalhados, esfomeados (Isaías 53,1-10), portanto, bem-aventurados! (cf. Mateus 5,3-12). Servos servidos. Benefício deles! Benefício nosso! Aí está, diante de nós, com estrondo e com espanto, a pura transparência de Deus e do Evangelho, aquilo que nós, servos-ministros e testemunhas, padres e diáconos ordenados, caríssimo Eleito, irmãos e irmãs batizados e crismados, devemos ser e fazer e saber deixar Deus fazer! Tantas reviravoltas e saltos de trapézio nos esperam!

3. Sem saltos agora, encaixa aqui de forma plena a agenda do Evangelho de Jesus:

 

«Cada vez que [não] fizestes isto a UM destes meus irmãos, os mais pequenos, foi a MIM que o [não] fizestes» (Mateus 25,40 e 45). Cada vez que [não] fizestes isto… Isto, o quê?, perguntamos nós, que tantas vezes atravessamos a vida distraídos. E a resposta surge com a extrema precisão do bisturi: «Tive fome e destes-ME [ou não] de comer (1), tive sede e destes-ME [ou não] de beber (2), era estrangeiro e recolheste-ME [ou não] (3), nu e vestites-ME [ou não] (4), estive doente e visitastes-ME [ou não] (5), estava na prisão e viestes ter COMIGO [ou não]» (6) (Mateus 25,35-36 e 42-43).

 

4. Salta à vista que o texto apresenta duas vagas de leitura: a do SIM e a do NÃO. E Já sabemos que Jesus é o Senhor do SIM. Diz, na verdade S. Paulo, num texto de antologia, que o «Filho de Deus, Jesus Cristo […], não foi “sim e não”, mas unicamente “sim”» (2 Coríntios 1,19). E também sabemos que «foi pelo Verbo que tudo foi feito» (João 1,3), e que «n’Ele foram criadas todas as coisas» (Colossenses 1,16). Espantoso que percorrendo nós, com criteriosa atenção, as 452 palavras hebraicas do texto da Criação (Génesis 1,1-2,4a), não encontremos lá um único NÃO! Oh esplêndida e contagiante harmonia das Escrituras!

Caríssimo Eleito para o Ordem dos Diáconos, meu irmão Eduardo, que nunca falte este SIM a ecoar na tua vida. Por isso, daqui a pouco, deporei nas tuas mãos o Livro dos Evangelhos com esta indicação: «Crê o que lês,/ ensina o que crês,/ e vive o que ensinas». E o que te digo a ti, digo-o a todos. Levai convosco o Evangelho, e que um SIM sem fim transborde de vós todos os dias. Amém.

 

Lamego, 26 de novembro de 2023,
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo
+ António, vosso bispo e irmão

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