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O País da Páscoa

É o título de um poema do nosso Bispo, no seu blogue “Mesa de Palavras” e que nos serve de introito a este texto no qual procurámos rever, fixar e tornar presente alguns dos passos de D. António Couto, a presidir às celebrações que nos levaram da Missa Crismal ao Tríduo Pascal e ao Domingo da Vida Nova e Ressuscitada, a Páscoa de Jesus Cristo.

Acabámos de entrar no país da Páscoa.
Os pátios dos sacerdotes e de Pilatos
Ficaram para trás,
Para trás ficou também o canto do galo,
Os gritos dos guardas e das multidões,
A febre das traições.

O que se ouve agora é o anúncio do Anjo,
A alegria das mulheres,
A Plenitude da Vida a transbordar
Das páginas da Escritura Santa e da Cruz de Jesus,
O rumor do Amor,
De um Amor novo e subversivo,
Que vence óbitos e ódios,
Raivas e violências,
A raiz de um mundo novo a germinar
Daquela noite de Luz
A entregar Jesus
A quem o queira receber.

Veem-se mulheres e homens a correr,
Belos e leves,
Sobre os montes,
Sem qualquer bagagem a estorvar,
Sem nada a entorpecer,
Como quem acaba agora de nascer.

Move-os apenas a Notícia do Ressuscitado,
A Carícia que acaba de chegar,
E que é preciso levar
À pressa a todo o lado.

Vem, Senhor Jesus Ressuscitado,
Fica connosco,
Vai connosco,
Que precisamos de ter o coração habitado,
E habilitado
A anunciar que a Vida resplandeceu
E que a pedra e as vestes da morte
Ficaram fora de serviço.

Regressemos a quinta-feira santa, com a Missa Crismal, da parte da Manhã, o presbitério da diocese de Lamego à volta do Seu Bispo, e a Missa da Ceia do Senhor, da parte de tarde, congregando as duas paróquias da cidade de Lamego, Almacave e Sé. E assim seria nas várias celebrações do Tríduo Pascal.
Na Missa Crismal, o Sr. Bispo apontou para o sacerdócio e especialmente para Cristo Sacerdote, o Ungido por excelência, sublinhando os gestos da consagração do óleo do Crisma e a bênção dos óleos dos enfermos e dos catecúmenos. “O óleo do Crisma que vamos consagrar, e os óleos dos enfermos e dos catecúmenos que vamos benzer, constituem, no meio de nós, um autêntico manancial ou programa de vida. Igual ao de Cristo. Outros Cristos, Ungidos no coração, para levar o anúncio do Evangelho a todos os nossos irmãos. Se somos outros Cristos, Ele está connosco, em nós, no meio de nós. A messe e a plantação são d'Ele. A Ele a honra, a glória e o louvor para sempre. Ámen”.
Com a celebração da Ceia do Senhor dá-se início ao grande Tríduo Pascal que “constitui o ponto mais alto do Ano Litúrgico, de onde tudo parte e aonde tudo chega, coração que bate de amor em cada passo dado, em cada gesto esboçado, em cada casa visitada, em cada mesa posta, em cada pedacinho de pão sonhado e partilhado. É assim que Deus nos dá a graça de caminhar durante todo o Ano Litúrgico, dia após dia, Domingo após Domingo, sempre partindo da Páscoa do Senhor, sempre chegando à Páscoa do Senhor”.
São significativas e envolventes a palavras de D. António Couto que nos diz que “aprendemos a passar festivamente para um tempo novo, do inverno para a primavera, numa festa noturna, ao luar, à luz da lua, na primeira lua-cheia da primavera, que marca o início da transumância ao encontro de novas pastagens e de vida nova…. Com Jesus Cristo, fomos, também por graça, levados a passar do pecado para a graça, da soleira da porta para a mesa, da morte para a vida em abundância, da nossa tenda de peregrinos para a Casa hospitaleira do Pai… Jesus diz, num imenso dizer de revelação ainda a retinir nos nossos ouvidos e a ecoar em tudo o que fazemos: «Como Eu vos fiz, fazei vós também!» (João 13,15). Vê-se bem, meus irmãos, que não é tanto o que se faz que interessa. Interessa muito mais o «como» se faz. O segredo é dar a vida por amor, para sempre, para todos. Jesus é o único Mestre que ensina a Viver desta maneira. E é assim que fica bem à vista do nosso coração o significado da instituição da Eucaristia, do Sacerdócio e da Caridade”.

A Sexta-feira é de adoração à santa cruz. E o convite do nosso Bispo é clarividente: “Adoremos nós também, com amor, caríssimos irmãos, neste Dia de Sexta-Feira Santa, a Santa Cruz do único Senhor da nossa vida”.
Na verdade, “Jesus prossegue o seu caminho de amor até ao fim. Até à Cruz. É lá que se revela o rosto do doentio gosto pela morte que nos habita. «Salva-te a ti mesmo!» (Lucas 23,35.37.39), gritamos nós repetidamente zombando, porque o que queremos mesmo, não é que Ele se salve; o que queremos mesmo é assistir ao doentio espetáculo da morte! A tanto chegou a nossa malvadez! Um ódio sem motivo, sem fundo, nos habita (Salmo 35,19; 69,5; João 15,25). Ele é o Justo. Ele é a Bondade absolutamente gratuita, sempre Primeira e radical, igualmente sem motivo, sem fundo. Ele ama Primeiro (1 João 4,19), quando éramos ainda pecadores (Romanos 5,8). Por isso, em vez de à nossa violência oferecer mais violência, Ele acolhe-a e acolhe-nos por amor, e por amor a nós se entrega, declarando assim ultrapassados e inúteis os nossos mais requintados ódios e os nossos mais sofisticados instrumentos de guerra (cf. Isaías 2,2-4; Miqueias 4,1-3). Ali, naquele Corpo Crucificado, morto por amor, e por amor exposto por escrito diante dos nossos olhos atónitos (Gálatas 3,1), morre o nosso desejo de morte, o nosso pecado, apagado pelo fogo do amor, que declara o nosso pecado completamente inútil, inutilizado, anulado e ultrapassado (cf. Colossenses 2,14)”.
E, uma vez mais, em palavras poéticas nos coloca D. António diante da Cruz de Jesus:

Sim,
Eu sei que foi por mim que desceste a este chão
Pesado, íngreme, irregular,
De longilíneas lajes em que é fácil escorregar.
Mas os teus braços sempre abertos ajudam-me a levantar.

Senhor Jesus,
Deixa-me chegar um pouco mais junto de ti,
Chega-te tu também mais junto de mim.
Segura-me.
Dá-me a tua mão firme, nodosa e corajosa.
Agarro-me.
Sinto sulcos gravados nessa mão.
Sigo-os com o dedo devagar.
Percebo que são as letras do meu nome.
Foi então por mim que desceste a este chão.
O amor verdadeiro está lá sempre primeiro.

Senhora das Dores,
Senhora ao pé-da-Cruz,
Maria, minha Mãe,
Que seguiste até ao fim os passos de Jesus,
Acompanha e protege os meus passos também.

Com o Sábado Santo ressoam aleluias, pois chegamos ao País da Páscoa, tempo novo e vida nova, luz e ressurreição. “Este é o Dia em que desfiamos com amor o rosário das tuas maravilhas, tantas elas são, percorrendo a avenida das tuas Escrituras desde a Criação até à Páscoa, desde a Páscoa até à Criação. Tanto faz. Porque neste Dia novo o tempo não nos mede e nos afasta e nos cataloga em séculos e milénios, mas põe-nos todos a conviver lado a lado. É assim que lemos e compreendemos que no teu «Filho amado», Jesus Cristo, Imagem tua e «primogénito dos mortos», «tudo foi criado» (Colossenses 1,16), «e sem Ele nada foi feito» (João 1,3). Lemos e compreendemos que o «teu Filho, Jesus Cristo, não foi Sim e não, mas unicamente Sim» (2 Coríntios 1,19). Passeámos assim no jardim da tua Criação boa e bela, visitámos as suas 452 palavras (Génesis 1,1-2,4a), e nelas não encontrámos, de facto, um único «não». Se o teu Filho amado, Jesus Cristo, Imagem tua e primogénito dos mortos, foi sempre Sim e nunca não, e se foi n’Ele que foram criadas todas as coisas, então a Criação inteira tem também de ser Sim, Sim, Sim, e nunca não”.
E conclui D. António pondo-nos de sobreaviso, desafiando-nos: “Cada batizado levará para sempre a arder dentro de si este Lume, de que não pode fugir, e que ninguém pode apagar… Lume novo, lareira acesa na cidade,/ És Tu, Senhor, o clarão da tarde,/ A notícia, a carícia, a ressurreição./ Ilumina, Senhor, a tua Igreja Santa, e os seus novos filhos que hoje nascem na fonte batismal. Que os nossos passos sejam sempre firmes, e o nosso coração sempre fiel. Vem, Senhor Jesus! Aleluia!”
E sim, o Natal talvez seja apenas a 25 de dezembro, ainda que o seu espírito possa espelhar-se em muitos dias no ano, sobretudo na perspetiva da solidariedade social e da lembrança dos mais frágeis e necessitados da nossa ajuda, mas a Páscoa, essa sim celebrar-se-á no ano todo, em cada Eucaristia, especialmente ao Domingo, também designada a Páscoa semanal, sempre dentro da Eucaristia, mistério de graça e salvação, mistério que celebra e torna presente, por ação do Espírito Santo, a morte e a ressurreição de Jesus, dando-nos o Seu corpo e o Seu sangue como alimento, até à vida eterna.

 

in Voz de Lamego, ano 94/21, n.º 4749, de 10de abril de 2024

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