Em dia de Epifania, debaixo de uma chuva copiosa que recordava a bênção de Deus que fecunda e renova a terra e de um vento forte a lembrar o Espírito do Pentecostes, tomou posse como pároco da paróquia de São Tiago de Picão, na zona pastoral de Castro Daire, o Padre Ângelo Santos.
O novo pastor acumula com as paróquias de Gosende e de Feirão das quais tomou posse no outono passado. Sucede ao Padre Dr. João André Ribeiro anterior pároco e que agora passa a paroquiano do seu sucessor, uma vez que é natural e residente em Picão.
Desde o verão que o Padre João tinha pedido para ser substituído no início do novo ano civil, por sentir que as forças já lhe começavam a faltar para a boa condução da paróquia. E foi com uma pontualidade e com um rigor edificante que o Padre João fez a passagem de testemunho ao Padre Ângelo, colocando-o, em sucessivos encontros, a par dos bens materiais e das tradições espirituais da paróquia que conduziu durante mais de vinte anos.
O Padre João André deixa na paróquia e na diocese o testemunho de um homem livre, que produz pensamento e ensina a pensar. Foi professor na área da Filosofia durante muitas décadas, no Seminário Maior de Lamego e no Instituto Superior de Teologia Beiras e Douro. No mesmo período foi sucessivamente prefeito, vice-reitor e reitor no Seminário Maior de Lamego.
Mas deixa igualmente o testemunho de serviço humilde, com dedicação e alegria na evangelização direta, quer no Movimento dos Convívios Fraternos; quer como capelão do Bairro da Ponte, onde é tão estimado; quer nas paróquias de Soutelo e Nagozelo, na zona pastoral da Pesqueira, as primeiras, e em Picão, a última.
Na saudação à nova paróquia, o Padre Ângelo referiu a curiosidade de as três paróquias que agora tem a seu cargo: Feirão, Gosende e Picão servirem de cenário a obras da literatura portuguesa pela pena de Eça de Queirós e de Rodrigues da Cunha. Este último escreveu o Romance “Luz na Montanha” que narra as peripécias pastorais de um jovem pároco em Picão. Recordou que quando a obra foi reeditada, em 2011, acabou por receber dois exemplares da mesma, o que vê agora como um presságio.
Depois, partindo da etimologia dos vocábulos paróquia e paroquiano, manifestou o desejo de construir casa ao lado dos seus paroquianos e todos se empenharem e entreajudarem na caminhada para a casa do Pai.
A celebração, com a igreja cheia, foi vivida com a simplicidade, o recolhimento e a alegria serena com que as gentes do Montemuro sabem receber, aquecendo os corações de quantos acorreram ao templo nessa fria tarde de inverno.
Despois da Eucaristia houve espaço e tempo para um lanche convívio onde pároco e paroquianos confraternizaram e estabeleceram os primeiros contatos que, certamente, perdurarão na história de cada um.
Pe. João Carlos Morgado, in Voz de Lamego, ano 93/08, n.º 4688, 11 de janeiro de 2023
