D. ANTÓNIO COUTO (2025). Paulo, modelo de evangelizador. Apelação: Paulus Editora (e Editorial Missões). 232 páginas.
A evangelização faz parte da identidade da Igreja. Esta existe, antes de mais, para evangelizar, para anunciar Jesus Cristo e o Seu evangelho a todas as nações, a toda a humanidade. A fão é, diz-nos o papa Bento XVI, nasce antes de mais de um encontro com Jesus Cristo. Neste encontro, tudo se altera. Quem se encontra verdadeiramente com Cristo vê a sua vida alterar-se por completo. Assim sucedeu com o apóstolo Paulo.
Especialista em Sagrada Escritura, o nosso Bispo, D. António Couto, debruça-se, pormenorizadamente sobre são Paulo, apresentando-o como um modelo de evangelizador, que nos cabe imitar, onde quer que nos encontrarmos, independentemente da nossa condição, simplesmente como cristãos, seguidores de Jesus, seus discípulos missionários. Com Paulo, cabe-nos anunciar Jesus, propagar o Seu evangelho.
D. António faz-nos mergulhar na vida de são Paulo, sobretudo, a partir das suas cartas. O livro dos Atos dos Apóstolos ocupa uma parte significativa a falar de são Paulo, de um autor que é admirador do Apóstolo, mas certamente da terceira geração.
Refere D. António: “A história de Paulo é uma história ardente, que não deixa ninguém indiferente. Lida pelo lado transitivo, tem seguido quase sempre a linha clássica e tradicional que o Livro dos Atos dos Apóstolos documenta: natural de Tarso, na província romana da Cilícia, de pequenino vem para Jerusalém, estuda aos pés de Gamaliel, luta pelas suas ideias zelosamente farisaicas, persegue os cristãos, envolve-se na morte de Estêvão, alarga o seu campo de perseguição até Damasco... É evidente que servimos neste Livro sonhado, pensado e ousado, muito Paulo, de modo novo, não tanto seguindo as linhas das palmas das mãos do Livro dos Atos, que merecem e pedem a interpretação devida, outra interpretação, mas mais, muito mais, as indicações servidas por Paulo nas suas Cartas”.
Ainda na introdução, D. António capta-nos a atenção, dizendo que “são suculentas, mas rochosas e escarpadas estas páginas. Sentam-nos à mesa. Servem-nos interrogações. Desafiam-nos.
Provocam-nos. Implicam-nos. A história de Paulo é um excelente sinalizador para este tempo de outra Evangelização. Ou não fosse Paulo «o maior missionário de todos os tempos», no dizer de Bento XVI, e o «modelo de cada evangelizador», nas palavras de São Paulo VI”.
E continuamos com as palavras do autor: Paulo é, portanto, um evangelizador de excelência. É oportuno, então, verificar, não apenas o conteúdo, mas também a forma como evangelizava. E, neste domínio, deparamo-nos com uma metodologia de cariz maternal e paternal, personalizada e a tempo inteiro. É claro que para levar por diante uma tal metodologia de evangelização, Paulo não o podia fazer sozinho. Só o podia fazer, recorrendo a muitos e bons cooperadores (synergói). Inúmeras lições e fonte de inspiração para aqueles que hoje se dedicam a qualquer forma de pastoral. Parece ser urgente recuperar a metodologia personalizada, de cunho maternal e paternal, e preparar nessa linha uma vasta rede de cooperadores, de bons cooperadores. Não de meros «ensinadores» das verdades deles, mas de verdadeiras testemunhas que, com total dedicação, se coloquem ao serviço do Evangelho, de modo a fazerem do Evangelho (euaggélion) o que ele verdadeiramente é: não um nomen status, qualquer coisa para colocar na estante, mas um nomen actionis, Evangelho em movimento, Evangelização, que é o que verdadeiramente significa o nome euaggélion”.
A concluir a introdução, D. António sublinha os destinatários: “Ofereço este estudo a todos os leitores que ainda gostem de se surpreender. Mas tenho em mente sobretudo aqueles que desejam encontrar um rumo novo para a sua vida, aqueles a quem Deus quer dar a graça da conversão (At 11,18) e da evangelização, não meramente de forma programática, mas paradigmática, isto é, não de vez em quando e de forma descomprometida, mas de forma intensa, testemunhada e continuada, a tempo inteiro e de corpo inteiro”.
Com D. António, podemos mergulhar na Bíblia, desta feita, deixando-nos inspirar pelo maior missionário de todos os tempos, o modelo de evangelizador para cada um de nós. Como sempre, a escrita do nosso Bispo é agradavelmente poética, profunda, levando-nos à raiz e aos contextos, a partir dos textos, mas perscrutando outros especialistas ou estudiosos de são Paulo.
in Voz de Lamego, ano 95/53, n.º 4830, de 10 de dezembro de 2025



