A linda aldeia de Lumiares, da paróquia São Martinho das Chãs, do Concelho de Armamar, celebrou o seu “9 de fevereiro”. Com efeito este é um dia jubilar que desde 1940 se celebra, neste povo, como a festa do Santíssimo.
O motivo deve-se ao facto de ter sido essa a data em que a igreja da aldeia começou a ter Sacrário com o Santíssimo. Foi tal a alegria que ela perdura até aos nossos dias, e, essa data, não deixou mais de ser aqui celebrada como um dia santo, seja qual for o dia da semana em que ocorra.
O Jubileu é vivido com um tríduo de pregação, confissões, exposição do Santíssimo Sacramento, horas de adoração por grupos, procissão e bênção do Santíssimo.
Esta região é muito marcada pela devoção à Sagrada Eucaristia. A isto não será alheio o trabalho notável que ali, bem perto, há um século atrás, desenvolveu o Padre Baltasar de Jesus que celebrava com grande esplendor e edificação do povo o Jubileu das 40 horas, como à época noticiava o Boletim Diocesano:
“Na freguezia de Cimbres, concelho de Armamar, diocese de Lamego, celebrou-se com grande esplendor o Jubileu das 40 horas.
Grande concorrência de fieis da freguezia e das terras vizinhas correram à egreja de Cimbres afim de renderem preito e homenagem de reparação e desaggravo ao Divino Salvador. O Revº Arcipreste Balthazar Ribeiro de Jesus, dignissimo parocho da freguezia, envidou todos os esforços para revestir este Jubileu de um caracter solemnissimo, pois tem por esta solemnidade, desde 1883, a esta parte, a mais singular predilecção atento o fim altissimo a que mira – dar reparação publica á Majestade Divina pelas gravíssimas offensas que recebe sobretudo nos dias de carnaval.
O SS. Sacramento permaneceu no throno de domingo até terça-feira de entrudo; na egreja grande asseio, os altares um primor e o da exposição illuminado por 80 luzes e matizado de lindissimas flores: era d’um aspecto deslumbrante. Em todos os três dias se cantou a missa de Nossa Senhora de Lourdes acompanhada a órgão, o que era de effeito encantador.
Ao lado do revº parocho estiveram alguns de seus dedicados colegas, auxiliando-o nas confissões de numerosos fieis que nesses dias se aproximaram dos Sacramentos da Penitência e da Eucharistia. Na terça-feira de entrudo houve numerosa communhão geral, repetida na quarta-feira de Cinzas, subindo acima de 2.000 o numero de communhões durante o Jubileu.
Como preparação houve praticas na semana precedente pelos revºs parocho e P.º Bartholomeu que evidenciou grande erudição e virtude, sobretudo nos três dias de Jubileu.
O SS. Coração de Jesus dê cem por um na vida e o reino do Céu a todas as pessoas que cooperaram nesta grandiosa e sympathica solemnidade, que deixou indeleveis impressões”.
Estas devoções procuravam levar os cristãos a aproximarem-se mais da comunhão, numa época em que o jansenismo tinha uma influência grande na vida cristã.
Em Lumiares o Jubileu do Santíssimo foi vivido também com muito fervor e muita participação do povo, salvaguardando as tonalidades próprias da distância cronológica e das orientações litúrgicas e pastorais que o Concilio Vaticano II trouxe. Mas o objetivo foi o mesmo: louvar as misericórdias do Senhor e, procurar, que neste tempo pós pandemia, o Povo de Deus se aproxime da Igreja, que os acolhe como filhos.
Durante o tríduo sublinhou-se que a Igreja nos alimenta como mãe, com os dois peitos do Ambão e do Altar, dando o alimento do crescimento e o do afeto. Não aproveitar hoje estes auxílios provocam o mesmo prejuízo que outrora o jansenismo: afasta as pessoas da vida em graça e da alegria de viver do e no amor de Deus.
Foi edificante a orientação do Pároco, Padre Artur Mergulhão, do grupo coral, muito afinado e da participação do povo de todas as idades, com particular destaque para a pequena Isa que durante o tríduo fez três meses de idade e todos os dias veio às cerimónias, ao colo de sua mãe. Uma bênção suplementar, deste jubileu, neste interior do país tão carenciado de crianças.
Queria Deus que, na próxima quaresma, os jubileus das 40 horas sejam uma oportunidade para a reaproximação do que a pandemia dispersou.
Pe. João Carlos Morgado, in Voz de Lamego, ano 93/13, n.º 4693, 15 de fevereiro de 2023