No passado dia 7 de fevereiro, faleceu o Pe. José Augusto Sousa, sacerdote jesuíta, natural de Magueija, onde nasceu no dia 8 de dezembro de 1933. Presidiu às Exéquias, no dia 9, o nosso Bispo, D. António Couto, tendo a concelebrar o Bispo da Guarda, D. Manuel Felício, sacerdotes da Companhia de Jesus e da Diocese de Lamego, familiares e amigos, e paroquianos desta paróquia.
A iniciar a celebração da santa Missa, a admonição do pároco, Pe. Hermínio Lopes, que nos permite acolher o testemunho da sua vida como sacerdote jesuíta, em Moçambique e em Portugal, no estudo, na escrita e na pregação, como capelão hospitalar ou na alegria com que participava na vida da sua terra natal, sobretudo por ocasião da Páscoa e da festa do padroeiro.
Magueija é uma comunidade que vive verdadeiramente a fé e, por isso mesmo, é berço de tantas vocações religiosas e sacerdotais (nos últimos 100 anos, são mais de 50 os religiosos e sacerdotes). Isto manifesta a grandeza de alma e a nobreza de valores dum povo humilde, dócil, devoto... É neste alfobre que surge a vocação do Padre Sousa. Ingressou na Companhia de Jesus em 1952, fazendo os primeiros votos em 54. Em 1966 é ordenado sacerdote. Depois partiu em missão. Usando palavras do padre Francisco Rodrigues, seu camarada e grande amigo: O discípulo de Cristo, Padre José Augusto, no peito levando uma cruz, e no coração o que disse Jesus, partiu, aterrou e encarnou (ou seja, inculturou-se durante 44 anos), participou e marcou a história de Moçambique.
Na página web da Companhia de Jesus podemos ler que o P. Sousa assumiu a coordenação da Vice-Província numa época muito crítica, mas revelou-se o homem para o momento. Os desafios provocados pela nacionalização do ensino e da saúde exigiram dele muita paciência, diálogo sereno, espírito de abertura e criatividade para encontrar respostas rápidas e encorajar os seus irmãos.
E porque a saúde já não lhe permitiu mais, regressa a Portugal em 2004, sem deixar de viver o que viveu, isto é, com os pés na terra onde está, o coração em Deus e a mente no mundo pobre e humilde da missão! Foi então viver para a residência da Covilhã e nomeado Capelão do Hospital Pêro da Covilhã do Centro Hospitalar Cova da Beira. Sempre muito próximo dos doentes, exerce um trabalho exemplar e manifesta-se sempre pronto a colaborar nas iniciativas promovidas pelo pessoal do hospital. Aliás, aquando da apresentação dos seus dois últimos livros, precisamente no hospital da Covilhã, era notável o enorme carinho do pessoal administrativo, médico, auxiliar e mesmo utentes que criaram com ele profundas raízes de amizade e de reconhecimento.
O P. José Augusto publicou muitos livros sobre temas bíblicos e de catequese e também sobre a História da Companhia de Jesus em Moçambique. Deixou ainda dois livros de Memórias, um sobre a sua vida em Moçambique (em 2015) e o outro (em 2019) que tem na capa a imagem desta igreja de Magueija e intitulou: “As Minha memórias mais recentes. Vozes de perto e de longe: da Covilhã, da minha família e de Moçambique”, onde destaca, de um modo muito grato e carinhoso, a sua irmã Laurentina.
O Padre José Augusto, enquanto as forças lho permitiram, vinha até junto de nós e aqui, nesta Igreja de São Tiago de Magueija, celebrava a Eucaristia com uma dignidade, uma sabedoria e uma capacidade ímpar de comunicar a mensagem de Jesus, que a todos contagiava e encantava. Permitam-me que destaque duas épocas em que ele tinha especial alegria em celebrar connosco: a Páscoa e a festa do padroeiro, em finais de julho. Que delícia ouvir o Padre Sousa, que encanto a sua presença, que ternura a sua pessoa e que riqueza os seus ensinamentos!
Hoje recordamos estes momentos com saudade, homenageamos a sua vida tão intensa e tão profícua na missão do Senhor, celebramos o dom da vida e da vocação e rezamos por ele e com ele agora na eternidade.
Pe. Hermínio Lopes, in Voz de Lamego, ano 93/13, n.º 4693, 15 de fevereiro de 2023