No início do ano, o Pe. Ildo cessou a paroquialidade nas comunidades que lhe estavam confiadas ultimamente, Arcos e Chavães, na Zona Pastoral de Tabuaço. Feitos 98 anos, era o sacerdote mais idoso da diocese, e quiçá do país, a manter-se como pároco. Reside agora na paróquia de Tabuaço, onde diariamente concelebra com o pároco, na respetiva Igreja Matriz.
A paróquia de são Silvestre de Arcos quis prestar, àquele que foi o seu pároco 52 anos e mais alguns meses, uma homenagem, em jeito de agradecimento por tantos momentos vividos como família, caminhando, anunciando o Evangelho, mantendo tradições, celebrando a vida, vivendo conjuntamente os momentos dolorosos.
Presidiu à celebração da santa Missa, o Sr. Bispo de Lamego, D. António Couto, tendo a concelebrar os Vigário Geral e Pró Vigário Geral, o pároco de Tabuaço e o Pe. Horácio Rossas, missionário comboniano, natural de Penude, e que tem assegurado o serviço pastoral desta comunidade e da de Chavães.
Durante a homilia, D. António recentrou-nos na Palavra de Deus, especialmente no Evangelho, que nos situa no Sermão da Montanha e, neste Domingo, em mais duas antíteses de Jesus: ouviste aos antigos… porém, Eu digo-vos… A base das antíteses foi a chamada Lei de Talião, que significava um avanço cultural e civilizacional, pois balizava a resposta que alguém poderia dar ao sentir-se ofendido. Olho por olho, dente por dente… se me partem um dente, não posso partir dois. A Bíblia apresenta outra máxima, a regra de ouro: não faças aos outros o que não queres que te façam a ti, convertida depois a positiva: faz aos outros o que queres que te façam a ti. Não fazer nada, para que os outros também não façam. É pouco. Fazer aos outros o que desejam que nos faça, avança um pouco, mas continua a ser insuficiente. Corresponde a outra expressão ou mandamento: ama os outros como a ti mesmo! Nestas máximas, a referência, o centro sou eu, tudo anda à volta de mim. E se eu não me amar, como poderei amar os outros? Jesus dá um passo mais: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. A medida já não sou eu, mas Jesus, que não tem medida, ama sem medidas, dá-Se totalmente, sem reversas. Com Jesus, não basta dar um pouco, de tempo, de ajuda, mas dar-se todo. Radicam aqui também as antíteses: amar, mesmo que prejudicado e ofendido. Dar mais que o outro exige. Dar a outra face. Ir até onde humanamente é possível.
Uma forma de agradecer ao reverendo Pe. Ildo, pelos 52 anos como pároco, por todo o bem que realizou, consiste, precisamente em acolher Aquele que nos chama ao amor, ao serviço, Aquele que nos envia e compromete. D. António Couto sublinhou o gesto de carinho da comunidade, juntando a gratidão de toda a diocese de Lamego pelo ministério sacerdotal do Pe. Ildo. Aproveitou também para a agradecer a disponibilidade do Pe. Horácio pela prontidão em ajudar estas comunidades.
No momento de ação de graças, a intervenção de dois paroquianos. O Sr. Jorge Lamego, em nome da comunidade, recordou e agradeceu os muitos momentos que rebanho e pastor viveram juntos, os batizados, as primeiras comunhões, as tradições, as festas, da Páscoa à festa do Padroeiro, são Silvestre, os matrimónios que fundaram famílias, batizando-lhes, depois, os filhos que, entretanto, nasceram e cresceram; a oração, a fé e a amizade, e o afeto também no luto. Depois da homenagem, expressa em palavras muito afetuosas, a oferta de um ramo de flores. Seguiu-se a intervenção do Presidente da Junta, para também, em nome da Freguesia de Arcos, agradecer a presença do Sr. Bispo, e dos demais sacerdotes, bem como das autoridades camarárias. Assinalou esse agradecimento com uma placa comemorativa que ofereceu ao Pe. Ildo.
Tomando a palavra, o Sr. Padre Ildo agradeceu de todo o coração, dizendo que “quando me dirigia a vós, sempre vos chamava irmãos e foi isso que procurei viver convosco e gostaria que assim continuasse, aqui e depois no céu, como família”.
Terminada a celebração da santa Missa, foram todos convidados para confraternizar à volta da mesa com diversas iguarias, num lanche ajantarado.
Ao Pe. Ildo, as maiores bênçãos e votos de muita saúde, na certeza de que esta paróquia também é dele e que as suas gentes o sentem como seu “pároco”.
in Voz de Lamego, ano 93/14, n.º 4694, 22 de fevereiro de 2023