No dia 30 de abril, dia em que o calendário cristão celebrou o dia do Bom Pastor, pelas 15h30, o Sr. Dom António Couto, Bispo da nossa diocese, veio até São João de Tarouca em visita pastoral. Foi recebido e saudado no Largo do Terreiro por uma multidão de fiéis que, por entre o som de uma salva de palmas e de foguetes, cumprimentou a quem dele se quis abeirar, nomeadamente o Padre José Manuel Deus Ramos pároco desta paróquia, autarcas e várias pessoas de diversos estratos sociais.
Ao som de cânticos apropriados, que o grupo coral da paróquia entoou, todos se dirigiram para o interior da igreja. Das povoações de Couto, Pinheiro, Vila Chã do Monte e Vilarinho, anexas desta paróquia, foram muitas as pessoas que vieram à igreja conventual e paroquial para assistir à celebração da Santa Eucaristia, presidida pelo senhor Bispo. Foi um dia festivo tão importante que não há memória que se tenha presenciado, neste lugar, um tão grande número de pessoas.
A visita iniciou-se com o descerramento de uma lápide alusiva à inauguração do restauro do Órgão de Tubos da Igreja paroquial. Após o Senhor Bispo se ter paramentado seguiu-se a bênção do referido Órgão. Depois de aspergido com a água benta, de imediato os 1637 tubos de flauta e tubos de palheta, de tão importante instrumento musical, de várias dimensões, começaram a debitar sons encantadores e de júbilo, que há mais de 190 anos não se escutavam. Excetuando o “salmo”, a “aleluia”, o “Santo” e o “Cordeiro de Deus”, os outros momentos musicais da Eucaristia, foram entoados apenas pelo belo som do Majestoso Órgão de Tubos.
Antes de o Sr. Bispo dar início à Santa Missa, em nome de toda a comunidade de crentes desta paróquia das margens do Barosa, D. Madalena Dias, dirigiu palavras calorosas de apreço e de cumprimentos a todos os presentes. Salientou a alegria e a satisfação com que a comunidade de São João de Tarouca recebia um tão grande número de pessoas e realçou ainda o contentamento por podermos contar com a companhia do nosso Bispo, Dom António Couto.
Proclamou o evangelho o nosso Pároco. Na homilia, o Senhor Bispo, conhecedor profundo da Sagrada Escritura, explicou-nos a parábola do Evangelho e explanou a relação do Bom Pastor para com todos aqueles que seguem e servem fielmente a Deus.
Falou-nos dos tempos da atualidade bem como da lição da entrega com que o evangelista São João se entregou a Cristo e à mãe de Deus. Realçou também a humildade e a importância da escuta da palavra de Jesus Cristo e a sua importante mensagem de paz entre os povos. Em dia do Bom Pastor foi deveras enriquecedor ouvir as palavras do Pastor Diocesano.
Terminada a homilia seguiu-se a administração do Sacramento da Santa Unção, a mais de três centenas de pessoas, de diferentes idades, que se abeiraram dos óleos sagrados para serem ungidos.
No final da linda e bela celebração, o pároco, Padre José Manuel Ramos, entre outras mensagens dirigiu palavras generosas ao senhor Bispo, agradecendo a sua presença na Sua e nossa querida paróquia. Destacou a alegria e o ânimo com que nos falou da mensagem de Deus neste dia tão significativo para a comunidade de São João de Tarouca.
Agradeceu ainda à associação local, à comissão de culto, a pessoas a nível individual e coletivo e aos autarcas pelas generosas dádivas.
Na bênção final o senhor Bispo deixou palavras de esperança a todos os fiéis e o desejo de um dia voltar e permanecer, por cá, mais demoradamente.
Nova Vida para o Secular Órgão da Igreja de São João de Tarouca
As pessoas em São João de Tarouca ficaram muito agradadas com a visita e presença do Senhor Bispo Dom António Couto e por se associar e presidir à inauguração do Órgão monumental, este que é considerado o instrumento musical de excelência para acompanhar a vozes no canto litúrgico.
Depois de em 30 de maio de 1834, promulgado um decreto-lei assinado pelo então Ministro da Justiça Joaquim António de Aguiar, extinguindo as ordens religiosas no nosso país, o grandioso órgão de tubos, felizmente, ficou à guarda da paróquia, mas ao longo dos anos, além de despojado de muitos instrumentos, foi-se degradando. As gentes bondosas desta terra, mas com recursos limitadíssimos, sempre ambicionaram e acalentaram a esperança de um dia poder voltar a ouvir tocar o Órgão de Tubos.
Não foi fácil, e se não fosse o afinco, dedicação e insistência do pároco da paróquia, não seria possível levar a efeito o restauro.
Os custos eram de grande monta e a paróquia por mais generosa que fosse, jamais conseguiria dar ofertas para atingir o valor monetário necessário. O Padre José Manuel Ramos, mentor do projeto, não vacilou perante as inúmeras dificuldades levantadas por organismos oficiais. Os seus apelos encontraram eco em instituições prestigiadas, que são presididas por gente de bem e sensíveis à salvaguarda e restauro do património cultural.
O Órgão de que temos vindo a falar foi mandado construir em 1767, pelo então Abade do Mosteiro, D. Frei Félix de Castel- Branco, a Francisco de António Solha, natural da Galiza, Espanha, e metre-organeiro dos mais significativos e importantes órgãos de tubos Ibéricos em Portugal. É longa a história conhecida deste imóvel, mas resumidamente direi que só de instrumentos musicais conta com 1637 tubos de flauta e tubos de palheta, de diâmetros e cumprimentos diversos, três foles, um frontal com dourados e pinturas marmoreadas que o tornam num dos mais belos e importantes da península ibérica e da europa. É ainda mais singular, porque na parte frontal tem um maestro em madeira, articulado. Abre e fecha a boca levantando ao mesmo tempo o braço direito, dando o sinal de entrada para o coro iniciar a cantar.
Foi responsável pela conservação e restauro dos dourados e marmoreados da caixa exterior do Órgão a firma Atelier Samthiago, de Viana do Castelo. A parte mecânica do Órgão, restauro dos instrumentos e feitura dos novos para colmatar os que faltavam, ficou a cargo da empresa Acitores Organaria y Arte, S. L., de Torquemada (Palencia) Espanha. Esta prestigiada empresa é gerida pelo mestre organeiro Federico Acitores, responsável pelo restauro, sendo também organista. O Padre José Manuel Ramos concedeu-lhe a primazia para tocar, neste dia tão especial, dado tratar-se de um exímio executor.
Foram generosos e amigos para com o restauro do Órgão o “Eng.º Jardim Gonçalves”; seu filho “Dr. Jorge Alberto e sua esposa, Dra. Maria Amélia Jardim Gonçalves” a “Fundação Millennium BCP”; a “Direção Regional de Cultura do Norte”; a “Câmara Municipal de Tarouca” a “Junta de Freguesia e a Paróquia de São João de Tarouca”.
No final da celebração, o pároco da Freguesia dirigiu palavras de imensa gratidão e reconhecimento por tão importante ajuda monetária. As centenas de pessoas presentes na Igreja manifestaram o seu contentamento através de um caloroso e sentido aplauso.
O Padre José Manuel Ramos também lembrou, que não sendo o momento oportuno, queria lembrar a urgente necessidade da drenagem interior da Igreja, para retirar as humidades, bem como a reparação da deficiente iluminação elétrica.
Terminada a celebração, e já no exterior do templo, muitos comentaram que “era um sonho acalentado e desejado há muitos anos e que agora se tornara realidade”. Para outros, com a voz mais embargada e de lágrimas nos olhos diziam “agora posso morrer porque já ouvi o órgão tocar”.
Parabéns aos mecenas, autarcas e de modo particular ao Padre José Manuel Ramos, nosso pároco e grande mentor desta obra, que nunca desistiu deste seu e nosso sonho. Com o seu crer e enorme vontade levou a bom porto o restauro deste único e belo instrumento musical. Com toda a certeza de que algumas foram as noites mal dormidas e obstáculos que sozinho teve de ultrapassar. Não desanimou e nunca perdeu a esperança. Talvez porque sempre acreditou, conseguiu. A paróquia de São João de Tarouca para sempre lhe estará eternamente grata.
Durante muitos anos estas pedras irão guardar os ecos de tão importante momento.
Carlos Albuquerque, in Voz de Lamego, ano 93/25, n.º 4705, 10 de maio 2023