Livro apresentado no dia 16 de Junho, em Lamego, no salão do Museu Diocesano, às 21 horas, com a presença do autor Mons. Arnaldo Cardoso e de S.E.R, o bispo D. Antonio Couto e da Dra. Zita Seabra, editora de Aletheia.
Na sociedade pós-moderna em que vivemos parece não haver lugar para os valores que durante séculos informaram a história. À procura do seu próprio caminho a nova cultura ignora a herança histórica e parece não acreditar no futuro.
Hoje interrogamo-nos por que os esforços na pregação da mensagem evangélica não são coroados de êxito, não são assumidos pelos ouvintes, sejam jovens ou adultos, homens ou mulheres. Por que será que o homem de hoje, refugiado na torre do seu saber e da sua própria autossuficiência, não se interroga seriamente sobre as grandes questões existenciais? Por que o homem crente é olhado com sobranceria ou visto como relíquia ridícula do passado? Por que o homem não sente a sedução dos discípulos de Jesus e não se deixa atrair por quem o quer salvar?
Várias são as razões que podem explicar o criticismo das novas gerações e o fracasso de tantos esforços da Igreja em prol da nova evangelização. Sem dúvida, uma delas anda ligada ao analfabetismo religioso. Este, muitas vezes, anda ligado a um ambiente pós-iluminista, a uma educação positivista, que como erva daninha invade a mente e o coração das pessoas, deixando-as a braços com uma irracionalidade que as encerra num feroz indiferentismo. Falta nos cristãos de hoje o entusiasmo alegre e a confiança inabalável dos primeiros discípulos de Cristo perante a novidade inaudita de o homem ser salvo pelo Filho de Deus encarnado.
Perante a autossuficiência do homem moderno, constata-se uma inadiável urgência em transmitir as verdades nucleares da fé e de reflectir sobre os pontos essenciais do seguimento de Cristo. Numa sociedade pós-moderna, em que muitos cristãos parecem envergonhar-se de o serem, a evangelização básica comporta uma catequese de adultos, onde entra a Palavra e o Testemunho, a mente e o coração, apesar da relutância que estes possam sentir. (…)
O ar que se respira na época do pós-modernismo não facilita à Igreja a transmissão de verdades que põem em causa muitas das seguranças e conquistas do homem. Nem a repetição rotineira nem a curiosidade abrem a porta a uma experiência avassaladora como o foi para Paulo de Tarso o confronto com Cristo. Só uma transmissão “existencial”, pessoal, alegre e confiante pode convencer o ouvinte a ser discípulo de Cristo, mediante a experiência de uma novidade capaz de tornar o homem verdadeiramente livre. (…)
O título deste livro chama a atenção para a crua realidade de uma comunidade que, esquecendo o essencial e ignorando as suas raízes, perdeu a sua identidade. “Palavras de Vida” significam que são essenciais para a existência humana, e que nem a infidelidade de uns nem a rejeição de outros tiram algo à força anímica que as informa, porque a sua origem não é simplesmente humana.(…)
Os temas referenciados constituem dados essenciais que caracterizam uma comunidade, identificada pela sua fé eclesial, pela sua vivência sacramental, pela sua consciência de povo, pela prática solidária, pela sua veneração mariana. Por isso, são perenes, não condicionados por ventos adversos de uma matriz ideológica, não genuinamente cristã.
A acual situação cultural pós-modernista, com os novos desafios que encerra, pode constituir um elemento perturbador, mas dentro da providência divina será, com certeza, um factor de crescimento e de renovação, que a comunidade cristã animará entre temores e perseguições.
(Da introdução do livro)