Foram 4 anos de expectativa e preparação para estes dias que acabámos de viver em Lisboa. Fica a sensação de que seriam precisos quase outros tantos para digerir tudo o que ali vivemos. Arrisco-me, ainda assim, a tentar partilhar nestas linhas a memória ainda “a quente” do que foi a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023.
A verdade é que partimos para Lisboa já com a bagagem cheia, com a alegria de tudo o que vivemos nos Dias nas Dioceses e com um sentimento de “missão cumprida” no acolhimento aos peregrinos que passaram na nossa diocese. Rapidamente descobrimos que essa alegria precisava de ser multiplicada. E assim foi, desde logo no acolhimento que nós mesmos recebemos ao longo de toda a JMJ na paróquia de Alverca do Ribatejo, e depois no encontro com a multidão imensa que inundou a capital. É próprio da JMJ que uma multidão – normalmente lugar de desconforto e confusão – se torne lugar de uma alegria inexplicável, expressa em risos, canções nas mais variadas línguas e bandeiras de todos os cantos do mundo. A alegria do encontro entre jovens de todo o mundo que nos fez perceber depressa que estávamos a viver algo de especial em conjunto, quaisquer que fossem as diferenças entre nós.
Essa alegria multiplicou-se ainda mais com a chegada do Papa Francisco. Não só pelo entusiasmo que sempre gera a sua presença e a possibilidade de ver o Papa bem de perto, mas por tudo o que nos quis transmitir pelas palavras e pelo olhar. Um olhar bondoso que mostrava perceber a importância do que estávamos a viver e palavras de esperança que nos ajudaram a entender o sentido da alegria em que nos movíamos. Uma alegria que não se limita a uma euforia superficial, mas que vai muito além disso. Logo na cerimónia de acolhimento, o Papa apontou-nos para a fonte dessa alegria: o facto de, naquela multidão imensa, cada um ter sido chamado pelo nome, porque amado por Deus.
Só assim se entende a facilidade com que o Papa Francisco nos conduzia da alegria da festa ao silêncio da reflexão. Assim aconteceu na belíssima Via Sacra, onde fomos desafiados a olhar as nossas próprias feridas e desilusões, aquilo que nos faz chorar, à luz da entrega de Jesus na cruz. Ao contrário do que se poderia esperar, esse silêncio sobre algo doloroso não matou a alegria. Antes, porque nos sabemos chamados e amados também nas feridas, tornou-se mais uma forma de a multiplicar.
O mesmo silêncio, com intensidade redobrada, fez-se sentir no Campo da Graça, durante a Vigília, na adoração ao Santíssimo. Um milhão e meio de jovens de todo o mundo, com o cansaço acumulado da caminhada debaixo do sol, guardaram um silêncio arrepiante diante da presença de Jesus – e também aí estava a alegria!
“A alegria é missionária”, disse-nos o Papa nessa mesma vigília. Não serve para ficar encerrada, mas precisa de ser levada a “todos, todos, todos”, apressadamente. Recebemo-la nestes dias como dom, mas também como uma missão que há de ser vivida sem medo, porque sabemos que a sua fonte, o olhar de Jesus pousado sobre nós, não se esgota nem ficou para trás em Lisboa.
Muito mais haveria para partilhar do tanto que vivemos – as catequeses Rise Up e o bonito diálogo ali se deu, os concertos do Festival da Juventude, o reencontro com os peregrinos que estiveram na nossa diocese. Tento deixar apenas o essencial: vimos o rosto jovem da Igreja, e a alegria que isso gerou em nós faz com que a verdadeira jornada comece agora.
Tiago Torres | COD Lamego, in Voz de Lamego, Ano 93/37, n.º 4717, de 16 de agosto de 2023