A cidade de Lamego, por estes dias, viveu a sua festa, importante para a cidade e para a região, acolhendo pessoas vindas das várias latitudes, lamecenses que vivem fora, noutras cidades e/ou noutros países, além de turistas e dos romeiros de Nossa Senhora dos Remédios.
O programa das festas é diversificado, com uma agenda cultural preenchida, concertos e música de vários estilos, bandas e ranchos, barraquinhas de comes e bebes, feirantes, espaços para recordações.
Ao nível religioso, a Novena em honra de Nossa Senhora dos Remédios, a Missa solene e a Procissão de Triunfo.
A novena decorreu entre 30 de agosto e 7 de setembro. Manhã cedo, os peregrinos acercaram-se do santuário, enchendo a Igreja e parte do adro, para a recitação do rosário, a celebração da Eucaristia e pregação. Apesar da hora madrugadora, este é um momento agregador de crentes, vindos da cidade e das paróquias vizinhas, e de outros lugares mais longínquos.
No dia 6 de setembro, logo depois da novena, a procissão com a imagem de Nossa Senhora dos Remédios, do Santuário para a Igreja das Chagas, para daí sair na tarde do dia 8, na Procissão de Triunfo, num outro andor, o tradicional em forma de barca.
O grande dia de festa e romaria é o dia 8 de setembro. De manhã, a celebração da santa Missa, no Santuário, presidida pelo Sr. Bispo e com a presença de alguns sacerdotes e com muitos devotos.
Durante a homilia, D. António Couto começou precisamente por sublinhar a condição de peregrinos que agrega uma multidão de pessoas para honrar a Virgem santa Maria, Nossa Senhora dos Remédios. Peregrinos são aqueles que não estão sossegados em nenhum lugar e sabem olhar para a pátria verdadeira. A pátria verdadeira, é no Céu, que se vislumbra na sua beleza, a partir do monte onde está situado este santuário. Os peregrinos só “se reveem na sua condição de peregrinos”, são viandantes nesta terra que é de Deus.
Deus dá-nos esta terra bela e preciosa, para nós saborearmos e, muitas vezes, estragamos. Hoje fala-se muito em ecologia, linguagem que também entrou na Igreja, mas temos um termo que nos é mais familiar e que diz muito mais, criação. Deus que criou este mundo belo e nós como criaturas cabe-nos cuidar. Nossa Senhora ajuda-nos no cuidado pela criação, com o seu olhar puro e belo. “Naqueles olhos maternais só se pode ver a beleza”. O olhar com que olhamos para a criação, levar-nos-á a cuidar ou a destruir. A linguagem bíblica apresenta-nos uma criação viva. As árvores têm rosto, e se têm rosto também têm coração, também têm mãos. E batem palmas… e também os rios batem palmas e louvam o Senhor nosso Deus.
Aprendamos com Nossa Senhora a olhar para o mundo com os olhos de beleza que se expressa também na imagem de Nossa Senhora dos Remédios: a Mãe e o Seu filho, a Mãe a dar de mamar ao Filho. Quanta beleza e ternura. Maria nasceu na casa do amor, assim o diz etimologicamente o nome da terra onde nasceu. Ela é casa de amor para Jesus. Ela é casa de amor para nós. Se estamos na casa do amor, se a nossa casa é a casa do amor, então vivamos segundo o amor, vivamos melhor. “É possível fazermos um mundo mais belo”.
A meio da tarde, mais de duzentas mil pessoas, segundo algumas estimativas, se abeiraram das ruas onde ia passar a Procissão de Triunfo, com várias bandas de música, com a presença das instituições da cidade, instituições cívicas, culturais, religiosas, militares, autarcas, com os andores puxados por bois, mulheres e crianças com o traje de Nossa Senhora dos Remédios.
A temática escolhida para a Procissão foi a paz. A Procissão foi (e é habitualmente) composta por cinco andores, dois dos quais permanecem todos os anos, o de Nossa Senhora dos Remédios e o de Nossa Senhora da Assunção. Os outros três andores: Anunciação do Anjo a Nossa Senhora; Nossa Senhora, Rainha da Paz, e Coroação de Nossa Senhora.
A procissão saiu da Igreja das Chagas, atravessando a cidade até à parada militar do CTOE. Aí decorreu um dos momentos emotivos desta procissão. A habitual saudação com tiros de canhão, a oração de conclusão da Procissão e a troca de andores, com a imagem de Nossa Senhora dos Remédios a ser colocado num andor mais pequeno, para ser transportada pelos militares até à Igreja do Santuário. Como sempre, e sempre significativo, a entrada do andor com a imagem Nossa Senhora de costas para a Igreja e voltada para a cidade (e para as pessoas), cujo olhar nos devolve a ternura e o amor maternal da Virgem Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa.
in Voz de Lamego, Ano 93/41, n.º 4721, de 13 de setembro de 2023