Nota Pastoral para a Semana Nacional da Educação Cristã, 1 a 8 de outubro de 2023
Pacto/Promessa de Deus a Abraão. Mosaico de S. Vitale, Ravena, Itália, séc. VI (passagem bíblica: Gn 18, 1-14)
A Educação compromete-nos com o acolhimento e inclusão do outro, na sua alteridade, no respeito pela sua singularidade, permitindo que brote do interior de cada pessoa a imagem do Criador. Em consonância com o apelo e o movimento do Papa Francisco em prol de um Pacto Educativo Global (2020), reiterado e rejuvenescido na JMJ em Lisboa, é fundamental reavivar o entusiasmo com as gerações jovens, renovando o compromisso com uma Educação aberta e inclusiva, feita de escuta paciente, diálogo construtivo e mútua compreensão, capaz de incidir no coração duma sociedade e fazer nascer a cultura do encontro, do projetar e caminhar juntos.
1. Educar é amar e apontar caminhos
Educar é amar e apontar caminhos num pacto com as gerações jovens, que empenhe as famílias, as comunidades, as escolas e universidades, as instituições, as religiões, os governantes, a humanidade inteira na formação de pessoas maduras, aptas a superar visões imediatistas e utilitaristas para se comprometerem com o bem comum.
É preciso dialogar sobre o modo como estamos a construir o futuro do planeta e sobre a necessidade de potenciar os talentos de todos para fazer amadurecer uma nova solidariedade universal e projetar o que nos é comum. Esta é uma tarefa que não diz respeito apenas a nós cristãos, mas a todos. Cada pessoa é chamada a ser protagonista desta aliança.
Fará parte destes compromissos a assunção da centralidade da Pessoa e da sua dignidade num processo educativo que visa a maturidade integral e que atenta: à escuta das expetativas, receios e angústias, das esperanças e das propostas dos jovens e à garantia da sua plena participação na ação educativa; ao trabalho educativo sinérgico contra a pobreza e as desigualdades, centrado no exercício de uma cidadania ativa e dinâmica; à compreensão da economia, da política e do desenvolvimento, à luz da perspetiva da ecologia integral, no pressuposto de que o ser humano é intrinsecamente aberto ao mundo, aos outros e a Deus.
2. A Educação é uma semente de esperança
Educar é sempre um ato de esperança. A globalização da indiferença, da violência, do discurso de ódio contra migrantes e outros marginalizados coloca grandes desafios à Educação e aos educadores. Cabe-nos, portanto, contribuir para que cada ato educativo seja gerador de fraternidade, de paz, de justiça e de cuidado do outro e da “casa comum”. O cuidado é um mandato do Criador e deve estar vinculado ao direito universal, cuidado este que requer uma visão política, económica e cultural, com foco na proteção da Pessoa e do mundo que habita. Face às disparidades de uma sociedade global, a Educação deve ajudar-nos a viver o valor do respeito e ensinar “…o amor capaz de aceitar todas as diferenças, a prioridade da dignidade de cada ser humano em relação a qualquer uma das suas ideias, sentimentos, práticas…” (Fratelli Tutti, 191), um amor que não fica indiferente a nenhum modo de violência e de abuso nem a nenhuma forma de escravidão. Também o mundo virtual, que, por um lado, permite o acesso rápido a cada recanto do planeta, e tende, por outro, a contribuir para a “globalização da indiferença”, exige discernimento, atitude crítica, sempre com a consciência de que qualquer instrumento é meio e não fim, podendo servir intenções e ideologias que cabe discernir, atenta e lucidamente. Educar para a aprendizagem dos meios e a centralização no fim, que é a Pessoa, é desafio a atender, neste Pacto Educativo Global.
3. Sem horizonte não há meta
A Educação responsabiliza as pessoas e transforma o mundo. Um dos maiores desafios da Educação, na perspetiva cristã, está em descentrar o ser humano de si mesmo, encerrado numa autossuficiência que isola dos outros e do mundo, para o encaminhar na descoberta do Totalmente Outro. É a tentação de sempre e é o desafio nunca acabado de ‘transcender-se’. É, afinal, a grande meta da Educação: apontar para horizontes abertos, que alonguem o olhar e o caminhar, horizontes que a perspetiva cristã assegura serem expressão, no tempo da História, do Horizonte último para onde se encaminha a Humanidade. Requer-se, portanto, uma nova Educação que promova a transcendência da Pessoa Humana, o desenvolvimento humano integral e sustentável, o diálogo intercultural e religioso, a salvaguarda do planeta, não já num registo de medos ou inevitabilidades, mas numa lógica de reconhecimento do mundo como dom, num dinamismo que promove o acolhimento e o cuidado pelo outro, encontros pela paz e a serena abertura a Deus
Perguntar e escutar as inquietações que habitam o secreto lugar do coração é tarefa primeira da Educação. E, com o palpitar das interrogações, far-se-á o caminho da busca das grandes respostas. Para os crentes, trata-se de despertar nas crianças, adolescentes e jovens, nos tempos certos, o desejo de entrar na própria interioridade para conhecer e amar Deus. Para os não crentes, trata-se de animar uma inquietude estimulante sobre o sentido das coisas e da própria existência, o sagrado altar a um Deus desconhecido, cuja descoberta do nome deve esperar contributo da Educação Cristã.
4. Empreendedores de sonhos
Educar não é, por tudo isto, lugar de mera transmissão de conceitos, mas uma tarefa que exige que todos os seus responsáveis – a começar pela família – nela participem de modo solidário e completo. Todos precisamos ter no coração o bem das pessoas que educamos, em particular das nossas crianças, adolescentes e jovens.
Todos os educadores, sejam pais, professores, formadores, párocos, catequistas… têm de estreitar entre si uma aliança que valorize a unicidade de cada um, graças a um compromisso contínuo na educação e na formação em todas as dimensões da Pessoa. Este é o desafio maior de um Pacto Educativo Global para o qual todos estamos convidados. Afinal, todos fazemos parte dessa ‘aldeia’ reunida na educação de cada criança e jovem, não para que nela permaneçam, mas para que dela partam livres, responsáveis e comprometidos com o bem da humanidade e da casa comum, sem medos, e como “empreendedores de sonhos”, como nos disse o Papa Francisco em Lisboa.
Subamos, juntos, “apressadamente”, à Barca da Educação!
Bom ano pastoral e letivo para cada um e para todos.
Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé
Dia de S. Mateus, Lisboa, 21 de setembro de 2023