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A Igreja parou… (sobre o Sínodo dos Bispos)

“A Igreja parou, como pararam os Apóstolos depois de Sexta-Feira Santa, naquele Sábado Santo. Fechados: aqueles por medo, nós não! Mas… parou. É uma pausa de toda a Igreja, em escuta. Esta é a mensagem mais importante”. É assim que o Papa Francisco termina a sua intervenção, na Abertura da Primeira Assembleia Sinodal sobre a Sinodalidade.

Naturalmente que a Igreja, espalhada pelo mundo, continua a sua ininterrupta atividade, por estes dias e pelo resto do mês de outubro. No entanto, dentro dos muros do Vaticano, em concreto na Aula Paulo VI, o ambiente é de recolhimento ativo, de reflexão sonorosa, de oração inquietante, de partilha arrojada e de escuta permanente.

Este Sínodo tem a particularidade de ter começado já há anos. Com alguma preparação prévia, o seu início oficial aconteceu em outubro de 2021. Por vontade expressa do Santo Padre, todos fomos convocados, tocados, desafiados, interpelados, intimados e envolvidos. Desde o colaborador mais próximo do Papa até ao mais remoto leigo, da mais pequena paróquia, da mais longínqua diocese, todos tivemos a oportunidade e o convite para participar, com a nossa opinião, naquele que foi o inquérito dirigido à Igreja e ao mundo. E desta forma, hoje, todos estamos presentes naquela Sala Magna, onde decorrem os trabalhos sinodais.

Do lado de dentro da sala Paulo VI, a preocupação primeira – reforçada incansavelmente pelo Papa Francisco no primeiro dia – é que o mais falador e mais perturbador participante seja o Espírito Santo. É Este que o Papa quer mais ativo e livre, mais interventivo e atuante. Tudo o que o Sumo Pontífice quer e que a Igreja precisa é que esta não se torne uma reunião parlamentar, ou um convénio de estudos académicos ou um congresso político-partidário. Por isso, o Bispo de Roma pede também aos participantes, especialmente aos colaboradores na área da comunicação algum “jejum” naquilo que passam para o exterior

Do lado de fora, as expectativas são altas. Muito se tem escrito e discutido acerca dos resultados da escuta sinodal feita nas paróquias, nas dioceses, nos países e nos continentes. Muitos são os aqueles e aquelas que têm tido o discernimento de anunciar a serenidade e a esperança. Não poucos têm sido também os que profetizam a rutura, a contenda ou até mesmo o cisma. Na Igreja, como em tudo, há sempre quem encontre paz no meio da turbulência, e haverá sempre quem semeie a instabilidade no seio da quietude. Há sempre quem aguarde pacificamente que pela Igreja perpassem as melhores manifestações do Espírito ao mundo, e haverá sempre que organize manifestações para a Igreja incarne forçosamente o espírito do mundo.

No entanto, o mais importante é reconhecer que este é um Sínodo querido pelo Papa e pelos Bispos, não para alterar radicalmente posições doutrinais da estrutura eclesial católica, mas para refletir com seriedade e fidelidade o ser e o acontecer da Igreja no mundo. Independentemente das decisões mais ou menos controversas que possam advir com a redação do documento final que será redigido depois da segunda Assembleia Sinodal, em 2024, importa relevar e tirar o maior proveito do caminho que estamos a percorrer. O processo não é menos importante que o resultado.

Decorrida a primeira semana, os encontros de trabalho na aula sinodal têm seguido aquela que é a proposta base, oficial de cada sínodo, a que chamamos Instrumentum laboris.

 

Pe. Diamantino Alvaíde, in Voz de Lamego, ano 93/45, n.º 4725, de 11 de outubro de 2023.

 

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