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O Sínodo das mesas redondas

Já todos nos damos conta, muito cedo, que este é um Sínodo carregado de particularidades, que o destacam de todos os outros que têm acontecido nas últimas décadas da vida da Igreja. Uma dessas singularidades tem a ver com o lugar onde acontecem os trabalhos e a forma como os participantes estão dispostos pelo espaço. Pela primeira vez a Aula Paulo VI é palco da Assembleia Sinodal. E pela primeira vez vemos os intervenientes sentados em mesas redondas. Aliás, essa já se tornou a “imagem de marca” deste Sínodo.

No início da segunda semana de Sínodo – 9 de outubro – os trabalhos começaram com a Secção B1, do Instrumentum laboris: “Comunhão, missão, participação. Três questões prioritárias para a Igreja sinodal”. Sendo este um tema tão querido ao Santo Padre, começa a ser abordado pela atenção que nos requerem aqueles que são os preteridos da sociedade – e muitas vezes até da Igreja –, mas que serão sempre os preferidos de Deus. Volta, por isso, à berra a expressão do Sumo Pontífice, em Lisboa, na JMJ, do “todos…”.

Com esta preocupação de uma fecunda e permanente universalidade, os trabalhos sinodais recomeçam com a evocação das pessoas marginalizadas e excluídas na Igreja e na sociedade, “os pobres, os perdidos, os perseguidos, os rejeitados, os refugiados, as vítimas inocentes das guerras, os perdidos, os sem-abrigo, os feridos na sua dignidade”. A par destas situações sociais o Sínodo verte a mesma preocupação sobre as questões religiosas. A reflexão sinodal incidiu no cada vez mais urgente e necessário diálogo ecuménico e inter-religioso. O que cada religião encerra em si de mais sublime e autêntico, posto ao serviço da missão e da comunhão, levará ao encontro mais profundo da verdade que liberta e do amor que salva.

Na abertura da oitava reunião geral dos trabalhos sinodais, o relator-geral do Sínodo despontou um tema de suma atualidade, sobretudo para as gerações mais novas: o mundo digital. “Muitos de nós veem a internet simplesmente como um instrumento de evangelização. Ela é mais do que isso. Transforma as nossas maneiras de viver, de percecionar a realidade e de viver as relações. Torna-se assim um novo território de missão” (Cardeal Jean-Claude Hollerich). Se os meios digitais são um verdadeiro e precioso instrumento para evangelizar, eles são também uma geografia virtual que precisa de ser evangelizada.

Durante uma das sessões é apresentado o projeto iMissión, criado há dois anos, cuja finalidade é desenvolver processos de escuta, através das redes sociais. O projeto conta já com mais de dois mil missionários digitais, de diferentes línguas e condições (padres, religiosos, leigos, homens, mulheres, jovens, idosos). Um dos intervenientes nessa sessão, e fundador da Juan Diego Network, defende que “a nova Galileia do ambiente digital é um território ideal para uma Igreja sinodal, missionária, em que todos os batizados assumem a corresponsabilidade da evangelização” (José Manuel de Urquidi).

Já no fecho da semana, abriu-se a reflexão sobre um dos temas mais aguardados: “Como pode a Igreja do nosso tempo cumprir melhor a sua missão através de um maior reconhecimento e promoção da dignidade batismal das mulheres?” (Instrumentum laboris, B 2.3). A irmã Maria Ignazia Angelini, co-orientadora do retiro inicial, fez uma prelação sobre o papel da mulher na Igreja, repescando o exemplo de Jesus que, na sua opinião, “inovou, criou um estilo, arriscado e revelador, no seu modo de relacionar-se com as mulheres”. Alude à vida das primeiras comunidades cristãs e à missão de Paulo, por quem o Evangelho entra na Europa, o qual se faz assessorar por algumas mulheres. Destaca ainda a importância das mulheres ao longo da história da Igreja, ressalvando o seu dinamismo missionário e a sua perspicácia em ajudar a resolver conflitos emergentes.  

Por último, todos depreendemos, com ligeira facilidade, que a preocupação de fundo do Papa Francisco, nesta semana sinodal, tenha sido o conflito reaceso na Terra Santa. Os muitos contactos que foi fazendo, com gente que se encontra no território em guerra, são uma prova claríssima da sinodalidade a acontecer.

 

Diamantino Alvaíde, in Voz de Lamego, ano 93/46, n.º 4726, de 18 de outubro de 2023.

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