Um sínodo ensombrado pela guerra

“Que as armas se calem, que se escute o grito de paz dos pobres, das pessoas, das crianças. A guerra não resolve nenhum problema, semeia apenas morte e destruição, aumenta o ódio, multiplica a vingança”. Foi este o apelo deixado pelo Papa Francisco, na audiência geral da última quarta-feira. A par disto, convocou um dia de oração, de jejum e de penitência – que será a próxima sexta-feira, dia 27 – pela paz. A guerra recente no Médio Oriente começou quase em simultâneo com a XVI Assembleia Sinodal. Por isso, as atenções do Santo Padre vão-se dividindo entre uma situação e outra. Entre o que se vai dizendo e refletindo dentro da Aula Sinodal e o que vai acontecendo fora dos muros do Vaticano. Entre o que no Sínodo se está a escrever, para o documento final, e o que no mundo se pode fazer, para que a sinodalidade aconteça.

Uma outra iniciativa do Papa – fora do ordinário programa sinodal – foi a oração pelos migrantes e refugiados, na Praça de São Pedro, junto à escultura evocativa dos mesmos. Na passada quinta-feira, dia 19, ao final do dia, com a presença dos participantes no Sínodo, o Papa voltou a rezar e a pedir o fim deste flagelo, que continua a deslocar milhões de pessoas para campos de refugiados ou a empurrá-las clandestina e perigosamente para os “barcos de morte”, nos quais arriscam a sua vida em busca de segurança e melhores condições de vida. Estas são as formas que o Sumo Pontífice vai encontrando para caminhar junto com aqueles que são os mais vulneráveis e desprotegidos do mundo de hoje. Isto é, também, o sínodo a acontecer.

Dentro da Aula Paulo VI, os trabalhos sinodais entram na reta final. O tema quente do papel da mulher na Igreja, com expectativas de que se coloque num horizonte próximo a ordenação de diaconisas, marcou os trabalhos do início da semana. No entanto, importa recordar que este sínodo, só por si, já destaca o importante lugar da mulher dentro da estrutura institucional da Igreja. Dos 365 participantes com direito a voto, 54 são mulheres com o mesmo direito. Isto acontece pela primeira vez. Além destas, há ainda outras que têm lugar como peritas para agilizar e facilitar os trabalhos nas diferentes fases.

As últimas reflexões na aula sinodal foram sobre a participação, responsabilidade e autoridade na Igreja. A questão da autoridade como serviço, da responsabilidade repartida, da liderança segundo o Espírito, da colegialidade dos bispos, etc., são assuntos de sensível trato. Sobre estas e outras questões relacionadas ou derivadas, muito ficará sempre por dizer.

Sabemos já que o documento final desta primeira assembleia sinodal sobre a sinodalidade voltará às dioceses, donde partiram as auscultações iniciais, para aí ser estudado e aprofundado, de forma a alargar ainda mais a participação, o envolvimento e o compromisso do povo de Deus neste processo.

Resta-nos continuar em comunhão e oração, para que os trâmites últimos destes trabalhos sinodais decorram segundo a vontade e inspiração do Espírito Santo, a fim de que a Igreja continue a encontrar caminhos e formas de fazer o Evangelho chegar mais ao longe e mais ao largo.

 

Pe. Diamantino Alvaíde, in Voz de Lamego, ano 93/47, n.º 4727, de 25 de outubro de 2023.

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