“O rosto da Igreja Sinodal”

No dia em que o sínodo sobre a Sinodalidade, em Roma, fecha a sua primeira sessão – 29 de outubro – é publicado um documento, denominado Relatório Síntese. A sua estrutura é composta por três partes, com um total de 20 capítulos, subdivididos em consensos, questões a tratar e propostas. Importa ter muito presente que “este não é um documento final, mas um instrumento ao serviço do discernimento que deverá continuar”.
A primeira parte desse relatório, e que hoje trataremos, intitula-se “O rosto da Igreja sinodal”

1 – A sinodalidade: experiência e compreensão.

Desde os escritos neotestamentários e a vida da Igreja nascente até ao Vaticano II que a sinodalidade se vem manifestando nas suas variadíssimas expressões. A partir do último concílio, essas manifestações vêm sendo cabalmente reforçadas e atualizadas. A última assembleia sinodal, tanto na diversidade dos participantes, como na própria disposição física do espaço, como na variedade e a atualidade dos problemas e assuntos acolhidos, debatidos e rezados, são a prova de uma Igreja que se quer “casa e família de Deus”, menos burocrática, próxima e acolhedora de cada pessoa, que faz da Eucaristia e da Palavra de Deus “fonte e cume da sinodalidade”. Segundo este documento, é necessário clarificar ainda mais o significado da sinodalidade, em diversos âmbitos. E urge alargar o número de pessoas envolvidas no processo sinodal, de todos os quadrantes culturais e etários, assim como desfazer os medos e resistências de muitos que continuam céticos.

2 – Reunidos e convocados pela Trindade.

A incarnação do Verbo e a vinda do Espírito Santo obriga-nos a passar da lógica do ‘eu’ ao ‘nós’, que fundamenta a comunhão e a missão da Igreja no meio do mundo. Desde o início que o caminho sinodal está orientado para o Reino de Deus e para o seu pleno cumprimento. Isto obedece a um renovamento e conversão da comunidade cristã – na forma como reza, como participa, como discerne, como serve e como evangeliza –, que depende substancialmente do reconhecimento do primado da graça.

3 – Entrar numa comunidade de fé: a iniciação cristã.

A iniciação cristã abre caminho para o contacto com o mistério pascal e para a experiência de comunhão trinitária e eclesial. Isto acontece pela graça do batismo, que confere “igualdade de dignidade e comum responsabilidade para a missão”, e pela confirmação, que abre o variado leque de vocações e ministérios eclesiais. Com a Eucaristia, enquanto celebração mais sublime do mistério salvífico, “aprendemos a articular unidade e diversidade: unidade da Igreja e multiplicidade de comunidades cristãs; unidade do mistério sacramental e variedade de tradições litúrgicas; unidade da celebração e diversidade de vocações, carismas e ministérios”.

4 – Os pobres, protagonistas do caminho da Igreja

A pobreza é um grito que se torna sempre ensurdecedor nos ouvidos da Igreja. A primeira dívida da Igreja para com os pobres é de amor. É imperioso que se reconheçam os diferentes modos de pobreza: ausência bens materiais; exploração e violência corporal; migrantes e refugiados; pobreza espiritual; etc.. Em todos eles a Igreja tem de ver o Cristo pobre e humilde. E, como Ele, escancarar o coração e as mãos, para defender a dignidade de cada pobre, colocando-o ao centro – sem a dicotomia ‘eles’ e ‘nós’ –, de forma a que ninguém se sinta mero destinatário do assistencialismo eclesial, mas sim protagonista do seu próprio processo de crescimento.

5 – Uma Igreja de “toda a tribo, língua, povo e nação”.

A Igreja, espalhada pelo mundo, vive em contextos históricos, culturais e regionais que plasmam a identidade das Igrejas locais. Esta realidade revela necessidades materiais e espirituais diferentes de igreja para igreja. Acresce a isto a mobilidade humana que hoje impera no mundo, e que reconfigura as Igrejas particulares. Isto exige à Igreja: uma flexibilidade maior no diálogo e discernimento; uma capacidade renovada de acolhimento e inculturação; uma linguagem e meios que cheguem ao coração e à mente de gente de diferentes sensibilidades.

6 – Tradições das Igrejas Orientais e da Igreja Latina.

A comunhão das Igrejas Orientais com o Papa, e os consideráveis avanços feitos nas últimas décadas no sentido de reconhecer a “especificidade, distinção e autonomia de tais Igrejas”, são um sinal importantíssimo de sinodalidade. No entanto, ainda permanecem algumas dificuldades para um entendimento maior, sobretudo no que respeita a funções hierárquicas e à jurisdição territorial.

7 – A caminho da unidade dos cristãos.

Toda esta Assembleia Sinodal teve uma preocupação fortemente ecuménica, desde o seu início, com a vigília de oração. Contudo, o relatório final aponta a necessidade de um caminho de renovamento espiritual, de arrependimento e de cura da memória, para que sejam dados passos de aproximação ainda mais significativos. Até porque, “a colaboração entre todos os cristãos constitui um elemento fundamental para enfrentar os desafios pastorais do nosso tempo”. Portanto, sem um contínuo esforço ecuménico não é legítimo falar em sinodalidade.

 

Pe. Diamantino Alvaíde, in Voz de Lamego, ano 94/02, n.º 4730, de 15 de novembro de 2023.

 

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