Entrevista ao Padre José Ferreira, Pároco da Sé e Cónego do Cabido

No dia 16 de novembro, os sinos regressaram à sua torre, depois de uns meses de restauro e limpeza em oficina da especialidade. Na segunda-feira, 20 de novembro, celebrámos a Solenidade da Dedicação da Catedral. Estas circunstâncias tornaram oportuna esta entrevista para fazer o ponto da situação sobre as obras que, nos últimos anos, têm sido efetuadas na Sé.

VL Padre José Ferreira, na quinta-feira passada os sinos regressaram à sua torre, depois de uns meses de restauro e limpeza em oficina da especialidade. Esta segunda-feira celebrámos a Solenidade da Dedicação da Catedral. Estas circunstâncias tornam oportuna esta entrevista para fazer o ponto da situação sobre as obras que, nos últimos anos, têm sido efetuadas na Sé.
Cónego José Ferreira – Certamente. Costumo fazer esse relatório aos paroquianos, mas a Sé é a igreja-mãe da diocese e, por isso mesmo, todos os diocesanos devem estar a par destes trabalhos de conservação, restauro e requalificação da nossa Catedral.

VL Comecemos pelos sinos. Concretamente, o que foi feito?
Cónego José Ferreira – O restauro dos cabeçalhos, limpeza e conservação dos 10 sinos e badaleiras, bem como a reparação e consolidação das estruturas onde assentam.

VL Os sinos passarão a tocar automaticamente?
Cónego José Ferreira – Sim. Mas haverá 3 que poderão ser tocados manualmente, preservando, deste modo, uma tradição secular dos sineiros a tocar para convocar os fiéis para as celebrações ou assinalar os eventos que marcavam o dia a dia e a vida das comunidades. Não aplicamos o mesmo sistema a todos os sinos, porque os motores que permitem o toque automático e manual são bastante mais caros.

VLE o relógio?
Cónego José Ferreira – A Catedral tem um relógio mecânico que foi, também, para reparação e que poderá ser visto a funcionar na torre quando for aberta a visitantes. Mas, por ser mais prático, haverá um relógio digital para regular os toques das horas.

VLQual o custo destas obras?
Cónego José Ferreira – A reparação dos sinos e a automatização fica em 100 564,00€. Um pouco mais caro do que anunciei antes por causa dos tais 3 motores acima referidos. Depois, ainda há a reparação do relógio.

VLDonde vem o dinheiro?
Cónego José Ferreira – Só da comunidade paroquial. Muitas pessoas pensam que por se tratar de um Monumento Nacional é o Estado que financia estes trabalhos. De todas as obras que foram efetuadas na Catedral desde 2014 o Estado pagou, com a ajuda de fundos comunitários, as seguintes obras: remodelação da casa do Cabido e secretaria paroquial (nos claustros), torre e fachada da Sé. As obras na Capela do Santíssimo, Côro-Alto (antes do projeto do núcleo museológico) foram financiadas a 100%. Tudo o resto foi pago pela paróquia.

VLConcretamente, que outras obras de conservação e restauro foram feitas?
Cónego José Ferreira – Depois de 2020, o altar da Capela-Mor, os cadeirais e os dois órgãos (só a parte da madeira), todos os outros 9 altares com as respetivas esculturas dos santos, 6 novos frontais, os confessionários, o altar, arcaz e armários da sacristia, a Capela de Santo António (exceto o altar que já tinha sido intervencionado), todo o acesso à torre e a escadaria que liga ao côro-alto. Antes disso, em 2015 concluíram-se as obras de restauro na Capela de S. Nicolau e, em 2018, foi requalificado o presbitério juntamente com o novo altar da celebração. Tudo foi feito com o acompanhamento da Direção Regional da Cultura como é óbvio.

VL – Em quanto ficaram essas obras à paróquia?
Cónego José Ferreira – Contando com a despesa nos sinos já foram gastos 503.490€.

VL – E esse dinheiro foi todo pago pela paróquia?
Cónego José Ferreira – Sim. E não devemos esquecer que já tinha sido feito um grande esforço financeiro com a Igreja do Desterro onde a paróquia gastou 118.200€ num total de 400.000€ que a obra custou. Estamos a falar de um investimento de 621.690€ no espaço de 10 anos. Isto só é possível com uma gestão criteriosa e graças à generosidade de muitos, a quem aproveito para agradecer penhoradamente.

VLA autarquia não colaborou, tendo sem conta que se trata também de um património cultural que atrai milhares de turistas a Lamego?
Cónego José Ferreira – Tem dado apoio logístico, quando necessário. Financeiro, não. Mesmo tendo sido assumido pelos municípios portugueses uma parte do financiamento das obras efetuadas ao abrigo do programa “Rota das Catedrais", como foi o caso da capela de S. Nicolau.

VLQuais são os próximos passos?
Cónego José Ferreira – O mais urgente é a colocação de 2 guarda-ventos nas portas pequenas da fachada, obra que já está em curso. Ao mesmo tempo, prosseguimos com os trabalhos da criação de um núcleo museológico no côro-alto, segundo o projeto de um arquiteto e de um engenheiro eletrotécnico altamente qualificados na área a nível nacional. Está a ser produzido o mobiliário para a exposição e a serem restauradas as peças que lá ficarão expostas.

VLQuando estará pronto?
Cónego José Ferreira – Estes trabalhos são muito morosos. Gostaria de poder abrir ao público o côro-alto, os claustros superiores e o acesso à torre pelo menos pela Páscoa. Com pagamento de bilhete. Ainda estamos a estudar o procedimento. Quando for o caso será comunicado a todos.

VLE… é tudo?
Cónego José Ferreira – Bom. Neste momento, a paróquia só tem dinheiro para os sinos. Para o resto, estamos a contar com o contributo dos fiéis e a possibilidade de alguns empréstimos para custear os guarda-ventos e o núcleo museológico.  Esperemos que os ingressos a pagar tragam um bom retorno para custear outros projetos.
Entretanto, A Direção Regional da Cultura do Norte deu-nos a conhecer que nos próximos anos estará disponível uma verba para a Catedral de Lamego. Para as pedras dos pórticos, as coberturas e outros projetos. Eu sugeri, também, uma revisão da rede elétrica e uma iluminação adequada que faça sobressair a beleza artística da Catedral. E o restauro dos dois órgãos. Em 2026 a Sé vai celebrar os 250 anos da sua Dedicação. Faltam 3 anos. Seria ótimo se pelo menos estivesse pronta a iluminação. Podemos continuar a sonhar.

 

in Voz de Lamego, ano 94/03, n.º 4731, de 22 de novembro de 2023.

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