A segunda parte do chamado Relatório de Síntese, que resulta da última Assembleia Geral Ordinária do Sínodo, tem por título Todos discípulos, todos missionários. Desdobra-se, esta segunda secção, em seis capítulos diferentes. A lógica estrutural é a mesma: consensos, questões a tratar e propostas.
8 – A Igreja é missão
Mais do que ter uma missão, a Igreja é missão. Com igual dignidade conferida pelos sacramentos de iniciação cristã, cada cristão (leigo, consagrado ou ordenado) é uma missão no mundo. Os carismas dos leigos devem ser reconhecidos e valorizados. Contudo, há que evitar três situações: a) que os leigos, ao tentar suprir a carência de padres, diminuam ou distorçam o seu apostolado laical; b) que os presbíteros monopolizem a ação pastoral, e não haja lugar para a ministerialidade dos leigos; c) a clericalização dos leigos. Importa ainda não limitar a ação dos leigos ao interior da Igreja. Assim como abrir espaço e reconhecimento ao envolvimento de pessoas com deficiência. Espera-se uma maior criatividade/diversidade na instituição de ministérios, e que não se restrinjam ao exercício de funções dentro da liturgia.
9 – As mulheres na vida e na missão da Igreja
A Sagrada Escritura ressalva sempre a complementaridade e reciprocidade entre homem e mulher. Jesus valorizava muito as mulheres e implicava-as na missão. Maria aprece-nos como ícone de serviço e missão. Embora as mulheres sejam a maioria dos participantes na vida da Igreja, há ainda resquícios de clericalismo e machismo que é preciso erradicar, para evitar subordinações, exclusões ou competições. O debate sobre o acesso das mulheres ao diaconado permanente manifestou posições e opiniões divergentes, o que requer um maior aprofundamento teológico, histórico, exegético e pastoral sobre o assunto. Entretanto, devem continuar a ser confiados às mulheres importantes cargos de decisão, como tem feito o Papa Francisco.
10 – A vida consagrada e as associações laicais: um sinal carismático
As congregações de vida consagrada são uma excelente expressão da riqueza carismática da Igreja e da variedade de formas com que é possível seguir Jesus. São um exemplo claro de sinodalidade, porque o seu modo de operar é um viver, trabalhar, discernir e decidir sempre em conjunto. As associações de fiéis e os movimentos eclesiais são o sinal visível do amadurecimento da corresponsabilidade de todos os batizados e do seu compromisso concreto na missão. Fica proposta a revisão do documento (Mutuae relationes) que regula os critérios da relação entre os Bispos e os Religiosos, dado que este é já de 1978.
11 – Diáconos e presbíteros numa Igreja sinodal
O risco dos presbíteros puderem sentir alguma solidão ou isolamento requer, da comunidade, amizade, oração e colaboração. Por sua vez, espera-se dos ministros ordenados proximidade, acolhimento e escuta do povo a quem serve. A tentação do clericalismo, que procura fazer do ministério um privilégio em vez de um serviço, é um obstáculo maior à sua missão e deve ser combatido logo na formação de seminário. Sobressaem deste ponto três reptos: a) há quem questione a permanência da obrigatoriedade do celibato em contexto culturais onde ele é mais difícil; b) a necessidade de revisão da Ratio fundamentalis, que regimenta a formação do ministério ordenado; c) a inserção de sacerdotes que abandonaram o ministério em serviços pastorais, aproveitando a sua formação e experiência.
12 – O Bispo na comunidade eclesial
O Bispo tem por missão fundamental a garantia da comunhão: na sua Igreja Local e com todas outras Igrejas. É o primeiro responsável pelo anúncio do Evangelho, pela condução das comunidades e pela atenção aos mais pobres. Tem o exigente dever de discernir e coordenar os diversos carismas e ministérios. Tem um papel imprescindível na animação e promoção do processo sinodal na sua diocese. Tal como os sacerdotes, também incorre no risco de sentir alguma solidão. Por esta e por muitas outras razões se recomenda fomentar a fraternidade entre Bispos e com o presbitério. Uma das propostas deste capítulo é que, no processo de eleição dos Bispos, a consulta se alargue a um maior número de leigos e consagrados.
13 – O Bispo de Roma no Colégio dos Bispos
Ao Bispo de Roma cabe a garantia da comunhão entre bispos e na Igreja. A este, compete estritamente a promoção da unidade entre todos os cristãos. Daí que seja tão valorizado o esforço feito pelos últimos Papas, para que essa unidade aconteça. Coadjuvado pelos Dicastérios da Cúria Romana, o Bispo de Roma deve valorizar e promover a consulta aos Bispos do mundo inteiro, para que sejam mais atendidas as vozes das tão diferentes Igrejas Locais.
Pe. Diamantino Alvaíde, in Voz de Lamego, ano 94/03, n.º 4731, de 22 de novembro de 2023.