“Goujoim é uma das aldeias mais formosas que se alcandoram sobre o Douro. O casario, qual presépio alegre e donairoso, concentra-se todo numa abrupta e livre encosta, (ao jeito de rebanho acarroado), à esquerda de uma ribeira profunda e quase inacessível que desce pressurosa a escarpa dura, para divagar mais tarde, lentamente, nas funduras de um declive que chega a parecer sinistro, no sonho de se juntar ao grande rio e seguir depois com ele, até ao mar distante.
Em baixo, nos fundíbulos do vale cavado, fechando a escadaria das vinhas e o borrão dos matagais, descende, apressada, a referida linha de água a que chamam Ribeira do Tedo: discreta, contida e quase morta durante o Verão; barulhenta, raivosa e a fervilhar na invernia.” (J. Correia Duarte in “Viúva de Goujoim” pag 71)
Foi a este mundo encantado e perdido no espaço e no tempo, desconhecido da maioria dos mortais, onde vivem seres humanos com um coração de ouro, que o nosso Bispo realizou a sua Visita Pastoral a 10/12/2023, dia da Padroeira, Santa Eulália. (assim como da Declaração Universal dos Direitos do Homem-1948)
Recebido com júbilo por uma população diminuta e envelhecida mas que se encheu de entusiasmo e bairrismo convidando todos os seus parentes amigos e vizinhos de perto e de longe, para com eles manifestarem o seu apreço e carinho ao visitante, amigo e Pai na Fé. A Igreja paroquial encheu-se e foi pequena, nesse dia, para conter a multidão e todos deram o que de mais rico têm para oferecer a quem os visitava naquele dia ameno e morno: a sua simpatia e o seu carinho.
O nosso Bispo celebrou a Eucaristia, animada com cânticos apropriados ao dia da Padroeira, ao tempo do Advento e à Vista Pastoral, em que foram ajudados por vozes amigas e vizinhas cuja terra natal tem a mesma raiz no seu Topónimo e na sua História comum: Gogim; administrou a Santa Unção, primeiramente, em Goujoim e depois na Ribeira de Goujoim. Partilhou com todos, momentos de convívio dialogante e atento às suas preocupações, alegrias, lamentos e anseios.
Saudou todos os presentes, mas de uma forma mais calorosa as crianças que merecem, nesta quadra natalícia, uma atenção especial.
Na liturgia da Palavra chamou a atenção para a figura de João Batista que se fixou no essencial, sem casa, sem bens, sem outro alimento além de gafanhotos e mel silvestre, no silêncio do deserto e aí vive de Deus. É provocação para nós. Por isso Ele é tronco forte e não cana furada que o vento agita.
Foram momentos lindos e inesquecíveis!
Marca indelével se fixou no coração de todos mas, de modo especial, no coração dos habitantes da Ribeira, porque era a primeira vez, em toda a sua já longa História, que um Bispo os visitava. Para assinalar este acontecimento quiseram afixar, em lugar de destaque, uma placa comemorativa, que recordará aos vindouros a sua gratidão.
Um almoço em Goujoim onde toda a população se juntou, conviveu e se apercebeu da simpatia, carinho e apreço que lhe merecia o Pastor da Igreja Diocesana.
A visita à Quinta do Luar foi uma agradável surpresa e admiração pelo que ali se desenvolve com a criatividade e originalidade dos seus proprietários.
Um ramo de Flores, um Terço precioso e belo e um nicho com a Sagrada Família, assinalaram a gratidão de um povo que tenta conservar a memória dos tempos áureos dos Celtas, Suevos e Romanos ou medievais que por aqui assentaram arraiais, visíveis, ainda, no que resta do seu Castro, na via romana, no marco delimitatório, nas ruas medievais, no pelourinho (único no Concelho) no edifício da Camara e respetiva cadeia (ou primitiva igreja paroquial), no monumento ao Senhor Santo Cristo, na casa do tabaco etc. de que tanto se orgulham.
Uma imagem de Santo António, da Rosa Ramalho (Sim, a mesma do galo de Barcelos), foi o presente que à Ribeira pareceu mais adequado, dado que é o seu Padroeiro, para que, no seu gabinete de trabalho, ou junto à sua enorme coleção de mais de 100 imagens deste santo, o seu ilustre visitante os possa recordar, quando os seus olhos se levantarem para este seu Homónimo.
A capelinha da Ribeira, humilde e muito antiga, anda em obras em requalificação e foi com orgulho que mostraram ao seu Pastor o projeto a desenvolver que será levado ao seu termo com o apoio das autarquias, assim o esperam. Nela assinalaram o retábulo com uma original pintura dedicada a “Nossa Senhora da Alegria”.
Não podia terminar o dia, que já ia longo, sem que a Ribeira quisesse reter, por mais uns momentos, o seu Bispo, num lanche abundante e variado, que serviram num armazém dado que outro local mais “digno ” não possuem.
Com o convite, por parte do Presidente da União de Freguesias, a visitá-los durante o Verão, ficou a promessa de, nas suas orações, o recordarem ao Dono da Messe. Assim se despediram do Sr. D. António Couto:
Até um dia.
Pe. Artur Mergulhão, in Voz de Lamego, ano 94/06, n.º 4734, de 13 de dezembro de 2023.