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Entrevista com a Irmã Maria de Fátima Semblano

Apresentação da Irmã Maria de Fátima
Nome - Maria de Fátima Semblano Pereira Moreira
Data de nascimento - 08-10-1970
Naturalidade - Travanca - Cinfães
Congregação à qual pertence - Irmãs Servas da Santa Igreja

Onde presta serviço à Igreja - Em Évora, neste momento. Além da missão própria da vida comunitária, em particular, e da Congregação, em geral, também colaboro em diferentes áreas da pastoral diocesana: catequese nalgumas paróquias e assistência espiritual a duas equipas das “Equipas de Jovens de Nossa Senhora”. Integro também o Secretariado das Vocações e o Secretariado regional (Évora) da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal. Leciono no Instituto Superior de Teologia de Évora e pertenço à Comissão Diretiva do mesmo Instituto.

Irmã Maria de Fátima, como e quando surgiu a sua vocação?
Os meus pais levaram-me a batizar quando apenas contava dez dias de vida. Queriam o melhor para mim, como é natural, e, dentro desse melhor, também quiseram e pediram à Igreja o batismo. Faço uma alusão ao batismo porque é aqui que se encontra a base e o fundamento de todas as vocações. Mas nessa altura, em criança, como foi no meu caso, foram os meus pais e padrinhos, que assumiram o compromisso. E assumiram-no mesmo. Com os meus pais aprendi a dar graças a Deus, a rezar, a pedir-lhe ajuda. Foi algo que surgiu naturalmente, em família. Recordo a catequese, a minha primeira Comunhão, as catequistas e também, de modo especial a preparação para o Crisma e o dia do Crisma. Se o batismo é a vocação comum, base e fundamento de todas as vocações, o Crisma, ao confirmar o batismo que se recebeu em criança, fortalece na fé, e conduz, na fidelidade ao batismo, a interrogações acerca da Missão na Igreja. Todos os batizados ao chegar a determinado momento da sua vida são chamados a interrogar-se acerca da sua vocação particular. Foi assim que, na minha juventude, me senti interpelada a perguntar: “Senhor, que queres de mim?”. Deparavam-se diante de mim vários caminhos, todos eles caminhos de Deus, mas Deus, através da sua Palavra, da oração, de participação em retiros, do exemplo dos discípulos de Jesus que “deixaram tudo para O seguir”, foi-me indicando um caminho para viver à Sua maneira, para colaborar no anúncio do Evangelho, através deste Carisma de Servas da Santa Igreja.

O que a motivou, essencialmente, a seguir a vida religiosa e a razão pela escolha da Congregação das Servas da Santa Igreja?
A iniciativa de chamar parte sempre de Deus: “Ele amou-nos primeiro” (1 Jo 4, 19). Tudo parte daqui. É Deus que entra em diálogo com a pessoa humana, convidando-a a escutá-l’O. Mas a iniciativa de Deus não anula a participação e a responsabilidade de quem é chamado. Por isso referi que todo o batizado é chamado em algum momento da sua vida a perguntar: “Senhor, que queres de mim?”.
Diante de mim surgiam vários caminhos para seguir o Senhor. E a Vida Religiosa apresentava-se como um convite para seguir e viver ao modo de Jesus. Existem muitas Congregações Religiosas, várias famílias Religiosas, podemos assim dizer. Todas têm o seu lugar no coração da Igreja e, cada uma, a partir das inspirações do Espírito Santo ao Fundador, busca configurar-se, cada vez mais, com Cristo nalguma dimensão do seu Mistério. As Servas da Santa Igreja, fundadas a 24 de setembro de 1945, pelo Arcebispo de Évora, o servo de Deus, D. Manuel Mendes da Conceição Santos, procuram, viver e sublinhar a dimensão de serviço de Jesus. São estas as razões da minha escolha: o nosso modo de servir, há de ser à maneira de Cristo Servo. Somos chamadas a servir procurando sempre e, em primeiro lugar, a vontade de Deus, numa atitude de confiança nos seus desígnios, para bem da humanidade. E a nossa Missão consiste em anunciar Jesus que lava os pés aos seus discípulos (Jo 13, 3-16) num gesto de acolhimento para indicar que, a única grandeza, está em ser como o Pai, dom total e gratuito de si mesmo.

Depois de 25 anos dos seus votos perpétuos continua a sentir o mesmo entusiasmo?
Como sabemos “entusiasmo”, (do grego in + theos, 'em Deus') pode significar “estar inspirado por Deus”, “ter Deus no coração”. Portanto, o entusiasmo é o mesmo, porque Deus sempre está presente e, mesmo em situações mais difíceis, porque a nossa fé não nos dispensa de dificuldades, o “Vem e Segue-Me”, que escutei naqueles tempos da minha juventude, continua a ecoar. Foi na minha juventude, foi mais tarde quando professei os primeiros Votos religiosos e foi, a 3 de outubro de 1999, quando professei os Votos Perpétuos, na igreja paroquial de Travanca, minha terra natal. E passados todos estes anos, cada manhã, porque cada dia é sempre novo, o Senhor continua a dizer-me de diferentes formas: “vem e segue-Me”, “toma a tua cruz, toma a tua vida, com tudo o que és, com tudo o que tens, com tudo o que pensas e fazes e SEGUE-ME”.

Num tempo em que escasseiam as vocações, especialmente, consagradas que apelo deixaria aos jovens de hoje a seguirem Cristo?
Sabemos que há muitos modos de seguir Cristo. Por isso situamos as vocações dos cristãos, em três grandes grupos: leigos, ministério ordenado e vida consagrada. Todas estas vocações, e aqui falamos de vocação, entendendo o termo como chamamento de Deus, são modos de viver o batismo e todas elas conduzem à santidade. Nenhuma vocação é mais importante que a outra, mas todas são necessárias e queridas por Deus. No entanto isto não dispensa, antes suscita, a pergunta: “Senhor que queres de mim?”.  Cada ser humano é único e irrepetível aos olhos de Deus e, por isso mesmo, Deus dirige-se a cada pessoa como um “tu”, chama-a para realizar um projeto único e original, a ser não só um cristão em sentido genérico, mas a ser este cristão concreto, único e irrepetível. Por isso uns são chamados a ser leigos, outros sacerdotes, outros Consagrados nas suas diferentes vertentes, seja como religiosos, em comunidade de Vida Religiosa, seja como consagrados na Vida Laical. E é aqui que faz sentido perguntar: “qual o meu lugar na Igreja?”, “Onde me queres, Senhor?”. Para tal é necessário silêncio, escuta, diálogo, atitude disponível e muita ousadia para responder. Mas seja qual for o chamamento, se é de Deus, e Deus quer a nossa felicidade, a resposta, tal como a de Maria, só poderá ser: “eis a serva, faça-se segundo a Tua vontade”, que é o mesmo que dizer “SIM, eis-me aqui”. E tudo isto porque, como tantas vezes cantámos na JMJ Lisboa, “Jesus vive e não nos deixa sós: não mais deixaremos de amar”.

 

In Voz de Lamego, ano 94/46, n.º 4774, de 16 de outubro de 2024

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