Realizou-se no passado dia 9 de maio de 2025, no Arciprestado de Cinfães/Resende, a Recoleção Mensal do Clero da Diocese de Lamego. O encontro teve lugar na vila de Cinfães, sendo orientado pelo Frei André de Santa Maria, da Ordem dos Irmãos Descalços da Bem-aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo, integrado na comunidade do Convento de Avessadas, em Marco de Canaveses.
A manhã começou com a Oração da Manhã, seguindo a Liturgia das Horas, com a celebração da Hora intermédia da Tércia, conduzindo os participantes a um ritmo orante e interiormente disponível para o retiro espiritual.
O tema proposto — «Esperança: viver para a transmitir» — foi desenvolvido à luz da espiritualidade carmelita, profundamente enraizada na experiência dos grandes mestres do Carmelo: Santa Teresa de Jesus, que afirmava que “sem oração nada faz sentido”, e São João da Cruz, que via o centro da vida cristã na relação íntima e transformadora com Deus.
Com profundidade teológica e interpelações muito concretas, o pregador lançou desafios diretos: “E eu, como vivo? Vivo aquilo que acredito? Ou, por vezes, também serei um ateu prático?”.
Convidou à reflexão sobre o testemunho dos ministros ordenados: “O que transmite a minha vida? O que capta o Povo de Deus que vive comigo?”
O Frei André enquadrou a meditação no atual contexto eclesial, marcado pelo Jubileu Ordinário do Nascimento de Nosso Senhor, e recordou o convite do Papa Francisco: “Peregrinos de Esperança”. Mas será a esperança uma realidade viva nas nossas comunidades? Ou estará a ser abafada pelo cansaço, pela pressa, ou pela falta de sentido?
Inspirando-se na doutrina mística carmelita, o Frei André explicou que as três potências da alma — entendimento, memória e vontade — são purificadas pelas virtudes teologais: a fé purifica o entendimento, a caridade a vontade, e a esperança purifica a memória. Assim, a esperança não olha apenas para o futuro: cura também o passado. Como dizia São João da Cruz, “o amanhã purifica o ontem”. A partir desta visão, o pregador afirmou:
“Se já possuímos Cristo, vivemos no Céu… mas ainda não plenamente. Contentamo-nos com o pouco que sabemos d’Ele, e por isso rezamos pouco, porque no fundo, não queremos escutar o que Ele tem para nos dizer.”
Recordou que o ministério ordenado não pode resumir-se à administração de sacramentos: exige uma vida interior intensa, feita de escuta, oração e entrega confiante. Com palavras provocadoras e inspiradoras, sublinhou que a esperança é a virtude que nos faz caminhar.
“Quem não avança no caminho espiritual, recua. A esperança faz-nos sonhar e desejar o Céu. Sem ela, tudo perde o sentido.” O orientador do Retiro criticou o espírito do tempo atual: a cultura do imediato, do cansaço existencial, da dificuldade em esperar — até entre adultos.
“O nosso mundo perdeu a capacidade de esperar, de se aborrecer… de sonhar! Confiamos mais na técnica do que em Deus. Substituímos a esperança pela pressa.”
A reflexão culminou com uma belíssima imagem da Encarnação: “Quando Maria deu o seu ‘fiat’, o perdão entrou no mundo. Deus escancarou as portas da eternidade. A esperança tem um rosto: é Cristo!” E ecoou o convite de Jesus: “Vinde comigo e descansai um pouco”, como sinal da ternura divina que cuida e acompanha.
A recoleção culminou com a exposição do Santíssimo Sacramento na Igreja de Cinfães, proporcionando um tempo de adoração e intimidade com o Senhor, fonte da verdadeira esperança.
Seguiu-se o habitual almoço de confraternização, fortalecendo os laços de comunhão entre os presbíteros e diáconos do arciprestado, num ambiente de partilha e alegria fraterna.
Em tempos desafiantes, este encontro foi um verdadeiro “oásis espiritual”, um apelo a reencontrar na oração a força para viver e anunciar a Esperança. Porque só quem a vive, a pode transmitir.
Diác. Eduardo Pinto, n Voz de Lamego, ano 95/27, n.º 4804, de 21 de maio 2025