“Não sabíeis que devia estar em casa de meu Pai?” (Lc 2, 49)
Estas são as únicas palavras de Jesus que os Evangelhos nos relatam quando tinha doze anos, atrás das quais se oculta o mistério da sua Filiação e o mistério da filiação de todos os homens. Porque aquele que nasce é um projecto eterno de Deus e do seu amor eterno.
Assim, a pergunta fundamental será “qual é o sonho de Deus para cada homem?” E a resposta dirá que é um sonho de amor. O amor é a vocação do homem. Não um amor idílico ou abstracto, mas implicado em cumprir a vontade de Deus.
E é no amor nupcial entre um homem e uma mulher que se revela a excelência do amor de Deus: “Deus não assume o amor nupcial para se revelar, mas o amor nupcial foi sempre a revelação por excelência do rosto de Deus”. Por isso, escreve o Papa Francisco, “querer formar uma família é ter a coragem de fazer parte do sonho de Deus, a coragem de sonhar com Ele, a coragem de construir com Ele, a coragem de unir-se a Ele nesta história” (AL 321). E ainda “Os esposos são, portanto, para a Igreja a lembrança permanente do que aconteceu na Cruz, são um para o outro, e para os filhos, testemunhas da salvação, do qual o sacramento os faz participar” (AL 72).
Os esposos, em virtude do sacramento do Matrimónio, amam-se a partir de Deus. O sacramento é uma porta de entrada para a “vereda que conduz à alegria plena” e o eterno que se busca dá gosto e verdadeiro sabor ao terreno.
A Igreja, através das comunidades cristãs que a formam, deve empregar as suas energias na família, realidade decisiva “para o futuro do mundo e da Igreja” (AL 31). E “ao salvar a família não só a Igreja chega a ser ela própria, como Deus mostra o seu Rosto ao mundo na carne humana das relações familiares, cumprindo assim o seu grande sonho para a humanidade”.
Para refletir…
- O Matrimónio não é a felicidade, mas tão só o aperitivo da felicidade. Que consequências práticas tem esta afirmação na vida conjugar e familiar?
- Se verdadeiramente “o bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja” (AL 31), como deveria operar a pastoral da Igreja?
- Amar-se a partir de Deus. Amar-se divinamente. Amar-se como Cristo amou a Igreja, entregando a sua vida na Cruz. Como se pode realizar isto?
Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 88/31, n.º 4468, 3 de julho de 2018