No passado dia 29 de Junho, nas instalações do Museu Diocesano de Lamego, ocorreu um evento cultural que, mais uma vez, marcou pela qualidade dos trabalhos apresentados.
Falamos do evento cruzado de escrita e pintura que fez com que os presentes percorressem, no tempo e no espaço, duas realidades diferentes de arte mas que se complementaram, tendo o seu início na apresentação do livro Intemporalidade! e terminando na exposição de pintura Fragmentos #2.
Na primeira parte, no auditório daquele espaço museológico, decorreu a sessão solene de apresentação do livro de poesia do autor João Atalaia, um pseudónimo de Leónida Oliveira, docente no Agrupamento de Escolas Dr José Leite de Vasconcelos de Tarouca. Apesar de inicialmente não desejar a sua identificação, acabou por justificar a escolha daquele pseudónimo pela homenagem ao seu avô João que vivia na Quinta da Atalaia, em Ferreirim.
A apresentação esteve a cargo do Pe Vitor Carvalho Ferreira que nos remeteu para a linha orientadora da obra: “a reflexão sobre o sofrimento que puxa por nós e nos faz pensar na mudança de vida, que nos leva à inquietude da esperança”. Assim, remete-nos para “a esperança que nos leva da falsidade à verdade dos afetos, do carinho enfim, de tudo o que permite incentivar para um mundo melhor”.
Referindo-se ao Padre António Vieira, foi lançado um repto aos presentes para que “saúdem e falem com os poemas” pois e, citando o registo da contracapa “o poema é um amigo novo e um caminho para sentir a vida, no seu todo, presente, passado e futuro, real e fictício, impresso na alma que chora no coração que canta e vive! A reminiscência do pensamento e da singularidade! A poesia não tem tempo! É um principio sem fim na vida e pensamento da Humanidade!...”
Enfim, a Intemporalidade das palavras feitas memórias de vida do/a autor/a que revive o seu percurso de vida em lembranças que vão desde o seu “Percurso sinuoso… de uma história sem tempo um percurso do vento… uma memória” até ao seu poema Amizade… Amigos de sempre! que nos diz que: O mundo não apaga, não esconde o luar/ a realidade, de ajudar cada irmão…”
E, a partir deste livro que refere a poesia como “o eco da melodia do universo que invade o coração e o mundo dos sentidos e das sensações. Liberta a Alma e permite a descoberta do desconhecido, um todo coeso em comunhão com a vida”, partiu-se para a segunda parte deste evento, a abertura da Exposição de Pintura Fragmentos #2, de Victor Costa, que estará aberta até ao dia 15 de setembro.
À entrada da sala uma profusão de luz e cor, vinda das diversas pinturas expostas, levou-nos a um espaço de memória coletiva pois, diversas obras expostas, quer sobre a cidade de Lamego, quer sobre diversas outras situações de vida, fizeram ver a beleza do traço do pintor e da sua sensibilidade
Foi o mesmo pintor Victor Costa que apresentou a sua obra como “uma abordagem artística que diferencia e mistura uma abordagem pictórica local diferenciada e identificável, com uma abordagem estritamente abstrata, onde introduz elementos figurativos, fragmenta a compreensão em vez de a potenciar o que exige do observador uma abertura de espirito mais apurada, mais atenta, mais perspicaz, supostamente mais emotiva”.
Foi mesmo um misto de emoções que se foram vivendo à medida que cada quadro era observado, pois a sua obra “foi descrita na revista americana de arte American Art Collector como “abstração emocional”, o que leva a uma observação e compreensão eivadas de uma dialética profunda, emocionalmente forte, que liga e partilha o pintor e a pintura, ao observador, pela emoção!”, tendo a sua pintura Paixão sido galardoada em Nova Iorque.
É o próprio pintor que refere que “Não há para mim, arte sem emoção” e nos diz que “A minha pintura é para ser sentida! ”e que “A complexidade ou simplicidade cromática, a profundidade ou proximidade que a cor confere, a intensidade da luz e da força da sombra, são a linguagem utilizada para exprimir sentimentos, sensações, estados de alma, emoções.”
Quando o autor fala da sua obra, fá-lo com o amor e carinho de criador, que expressa o que lhe vai na alma e que usa as ferramentas que são o seu dom, para partilhar com quem lê ou quem observa. Cabe a cada um de nós usufruir desse encantamento partilhado de emoções que nos fazem ver a beleza da vida na escrita ou na pintura.
Afinal um livro a ser lido e uma exposição a ser visitada para quem quiser fazer jus às suas emoções.
Isolina Guerra, in Voz de Lamego, ano 88/31, n.º 4468, 3 de julho de 2018