“Todos quantos o ouviam, estavam estupefactos com a sua inteligência e as suas respostas” (Lc 2, 47)
O episódio apresenta Jesus a interagir, com perguntas e respostas, com os outros, neste caso os mestres do templo. As suas palavras deixam todos maravilhados e surpreendidos. Através do diálogo que estabelece, Jesus não exclui ninguém, escuta e ensina, procurando não excluir ninguém e querendo tocar todos com a sua palavra. Porque todos precisam conhecer a verdade e ser salvos (1 Tm 2, 4).
Como nos tem repetido tantas vezes o Papa Francisco, não há fragilidade, fraqueza ou miséria humana que anule ou retenha a misericórdia divina, que é dom oferecido gratuitamente a todos. Daí que seja errado pensar que a misericórdia é resultado de uma recompensa divina ou de uma qualquer conquista ou compra humana. E se ninguém é excluído da misericórdia de Deus, também é verdade que é esta que gera a conversão e não o contrário.
E porque é para todos, o dom da misericórdia abrange também todos quantos possam estar a passar dificuldades no seu matrimónio ou tenham já escolhido interromper a unidade conjugal. Sem deixar de afirmar a indissolubilidade conjugal e ensinando que “toda a rutura do vínculo matrimonial é contra a vontade de Deus” (AL 291), o Papa Francisco não deixa de apelar à comunidade cristã para acolher, acompanhar e ajudar ao discernimento de todos quantos passam por essa situação dolorosa.
Neste particular, aponta à Igreja a missão de repensar e assumir com determinação a pastoral pré-matrimonial e familiar, de forma a contribuir para o amadurecimento do amor e para a superação de momentos mais duros na vida matrimonial e familiar. O objectivo será ajudar a uma pedagogia do amor que vá ao encontro da sensibilidade dos mais jovens e que ofereça perspectivas de ajuda e apoio aos casais, sem esquecer o sacramento da Reconciliação (AL 211).
Perante a proposta papal, “é imperioso e fundamental perguntar-nos quanto tempo, quanto espaço e quantos recursos as nossa comunidades cristãs dedicam à pastoral pré-matrimonial e à matrimonial”. Porque não basta apontar a responsabilidade aos cônjuges; é preciso oferecer-lhes o que é devido. Daí a necessidade de acompanhamento pastoral que continue depois da celebração (AL 223).
“A indissolubilidade matrimonial não é um dom apenas para os esposos, mas é para toda a comunidade e especialmente para aqueles que vivem a ferida do seu matrimónio em crise”.
Para refletir…
- O que deve ser oferecido a um jovem casal que bate à porta da Igreja para pedir o sacramento do matrimónio?
- Como é que as famílias podem tornar-se o sujeito responsável pela pastoral pré-matrimonial e matrimonial nas nossas comunidades eclesiais?
Pe. Joaquim Dionísio, in Voz de Lamego, ano 88/32, n.º 4469, 10 de julho de 2018